Folha de S. Paulo
Presidente tenta reforçar discurso e manter
conexão com batalhões após deixar o poder
O evento se tornou tão tradicional quanto o
especial do cantor Roberto Carlos na TV. Pelo quarto ano seguido, Jair
Bolsonaro assinou um decreto que perdoa policiais condenados por
crimes culposos. De saída do Palácio do Planalto, o presidente decidiu inovar
e livrou
também os agentes que participaram do massacre do Carandiru, há 30 anos.
Bolsonaro nunca escondeu que seu único plano para a segurança pública era a matança. Quando foi eleito, ele avisou que inundaria as ruas de armas e daria "carta branca para policial matar". O presidente cumpriu a primeira promessa, mas não conseguiu aprovar no Congresso uma mudança na lei para blindar agentes que matam em serviço.
O atalho encontrado foram os indultos
natalinos, que passaram a ser usados anualmente por Bolsonaro para agradar aos
policiais e fortalecer sua base política nos batalhões. A conexão com a categoria
se fortaleceu ao longo do mandato, mas também pode ser um ativo para o
presidente depois que ele deixar o poder.
O Brasil tem mais de 700 mil agentes de segurança
espalhados pelo território nacional, um contingente politicamente
valioso para a família Bolsonaro. Além disso, a retórica da guerra contra o
crime –que inclui a celebração de mortes praticadas por policiais– continuará
sendo uma pedra fundamental da plataforma bolsonarista.
O perdão aos autores do massacre do
Carandiru reforça o discurso, com elementos de crueldade. Os 74 policiais
responsáveis pelas 111 mortes em 1992 foram condenados, mas nunca presos. O
júri popular foi anulado em 2018, mas o
STJ restabeleceu as condenações três anos depois. Bolsonaro tenta
garantir que os agentes não sejam punidos.
A equipe de Lula acredita que o STF vai
derrubar o indulto concedido aos responsáveis pelo massacre. No futuro governo,
esses decretos devem voltar ao modelo anterior, quando o perdão seguia
determinadas condições (como a duração da pena ou a situação do preso), sem
beneficiar categorias específicas.
Misericórdia!
ResponderExcluirOs milicianos mentirosos da família Bolsonaro querem ainda maior proteção dos policiais.
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