Folha de S. Paulo
Vida do futuro ministro da Fazenda deve
piorar nos próximos anos, mas a do Brasil talvez melhore
Não entendo a resistência de setores do
mercado à indicação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda. Escrevi um livro sobre a história
do PT e não faço ideia do que, na biografia do
ex-prefeito, indique que o novo ministro seja gastador, populista, o que seja.
Não foi assim quando trabalhou na gestão
de Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo, não foi assim
quando foi prefeito. Se fosse populista, Haddad provavelmente teria entregado
tudo que os diversos e conflitantes movimentos de 2013 queriam e teria sido reeleito prefeito de uma cidade quebrada em 2016.
Além do mais, a indicação do outro grande
nome petista no ministério de Lula,
o ex-governador Rui
Costa na Casa
Civil, claramente sugere a predominância da ala moderada do Partido dos Trabalhadores do governo.
Costa fez uma gestão bastante responsável na Bahia, ao mesmo tempo em que o PT no Congresso Nacional se opunha a reformas de caráter "fiscalista".
A presença da dupla de petistas moderados
no Planalto sugere que os projetos de investimento devem ser feitos com parcerias com
o setor privado, algo com que Haddad tampouco jamais sinalizou ter qualquer
problema.
Em suas primeiras manifestações como
ministro, Haddad sinalizou um início de gestão focado em três principais áreas:
a reforma tributária, a construção da nova regra fiscal e a retomada das
negociações comerciais internacionais.
A nova regra fiscal é fundamental para
reequilibrar as expectativas econômicas após a proposição da PEC que autoriza
maiores gastos públicos. O governo Bolsonaro foi do tipo que ninguém quer suceder:
gastou demais e deixou um legado social terrível.
Se ao menos tivesse resolvido um dos
problemas, o novo governo poderia se concentrar no outro. Não resolveu, o que
exige que Lula coloque a casa em ordem com a regra fiscal ao mesmo tempo em que
tenta aliviar o drama social com a PEC.
Se falta dinheiro, é preciso encontrar
maneiras de aumentar o crescimento que não dependam inteiramente de gasto
público.
A reforma tributária e as negociações comerciais são boas
saídas para isso. São temas dentro dos quais a esquerda pode dialogar com
os economistas "ortodoxos" sobre crescimento, e não apenas sobre
ajuste.
A reforma tributária proposta pelo
economista Bernard Appy –provável membro da equipe de Haddad– já foi
apresentada no Congresso pelo deputado Baleia Rossi, presidente do MDB.
Jair Bolsonaro não tentou aprová-la porque ninguém
conseguiu lhe explicar como tornar nossos impostos mais eficientes ajudaria a
dar golpe de Estado. A expectativa é que a aprovação da reforma tributária
aumente o potencial de crescimento brasileiro de forma permanente.
Isso também é verdade sobre as negociações
comerciais. Ninguém acha que essas negociações serão fáceis ou que não haverá
perdedores –certamente os houve na China e no Vietnã–, mas não há ninguém no
mundo crescendo sem se integrar nas cadeias globais de produção.
Enfim, a situação do Brasil após o pior governo do mundo é ruim, tudo
ainda pode dar errado, mas os sinais emitidos pelo novo ministro da Fazenda
são bons. Podem se tornar melhores com a indicação de alguns dos nomes mais
cotados para seu secretariado.
A vida de Fernando Haddad deve piorar muito nos próximos anos, mas a do Brasil talvez melhore.
"...a situação do Brasil após o pior governo do mundo é ruim, ..."
ResponderExcluirVerdade. O pior governo do mundo destruiu o Brasil.
Com apoio do gado, q é estúpido pra cacete.
Texto sensato do colunista. Deixem o Haddad assumir e começar a mostrar serviço, constituir sua equipe, etc. Os maiores críticos provavelmente queriam a continuidade do Guedes ou alguém parecido com o canalha mentiroso. A saída do Guedes já melhora muito a situação!
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