Valor Econômico
Ano para os polarizadores não seguiu o
calendário
O ano de 2022, em termos políticos, começou
ainda em 2021 e talvez não termine tão cedo. Foi um ano naturalmente dominado
pela sucessão presidencial, e a de Bolsonaro foi mais longa que o normal.
Do lado de Lula, é possível situar o marco
zero em dezembro do ano passado, no restaurante Figueira, em São Paulo, quando
Lula e Alckmin debutaram como parceiros perante a classe política. Foi o
primeiro movimento importante de Lula desde que recuperou seus direitos
políticos, em março de 2021.
Lula sinalizou com uma aliança partidária ampla, podendo alcançar siglas do centrão, que lá estavam representadas no jantar do Figueira, mas com poucas concessões no campo econômico. Ele reafirmou bandeiras tradicionais da esquerda, como o freio ás privatizações, por exemplo, e não julgou necessário, ou quem sabe não achou útil, divulgar uma “carta ao povo brasileiro”, como fez em 2022.
Esse padrão de fazer concessões ao centro
sem que se flanqueie a ele acesso ao núcleo decisório foi seguido na montagem
do ministério. Simone Tebet no Planejamento e Geraldo Alckmin no
Desenvolvimento terão seu raio de ação condicionado ao espaço que Fernando
Haddad na Economia e Rui Costa na Casa Civil lhes proporcionarem.
As pastas reservadas ao PSD, MDB e União
Brasil são acima de tudo pagadoras de emendas parlamentares. É um desenho de
quem se sabe fraco no Congresso e sem condições de repetir esquemas ilícitos de
cooptação parlamentar, como foram o mensalão e o petrolão. Esquemas ilícitos
poderão haver, mas dificilmente os mesmos.
Lula nunca deixou de estar na liderança da
corrida eleitoral, oscilando entre 40% e 50% nas pesquisas de intenção de voto.
Quem cresceu ao longo do ano foi o presidente Jair Bolsonaro. Do ponto de vista
estritamente utilitário, pensando no cálculo eleitoral e descartando
considerações de ordem moral ou de responsabilidade fiscal, ele errou pouco.
Concentrou seus erros, que atingiram o patamar do grotesco, no período
pós-eleitoral.
O ano de Bolsonaro também começou em 2021,
mas em novembro, com a aprovação do calote nos precatórios para bancar
programas sociais. Meses depois, em junho, o Congresso permitiu a ampliação
desses programas em pleno período eleitoral, quebrando por completo a paridade
de armas. Foram duas demonstrações extraordinárias de força no Legislativo,
certamente ajudadas pelo fato do presidente alinhar-se oficialmente ao Centrão,
ao se filiar ao PL, também em novembro de 2021.
Bolsonaro contou ainda com o Legislativo
para sangrar os cofres estaduais e baixar os preços dos combustíveis na marra,
reduzindo a carga tributária. Os preços de derivados de petróleo de fato caíram
ao longo do ano e esta queda foi associada a sua atuação.
O presidente foi ajudado ainda pela inconstância
de Sergio Moro, que abandonou o Podemos e a disputa presidencial em março,
quando disputava o terceiro lugar nas pesquisas com Ciro Gomes. A integralidade
da parcela do eleitorado que optava por Moro migrou para Bolsonaro.
O presidente rapidamente recuperou boa
parte da popularidade perdida na pandemia. Se em 2018 teve 46% dos votos no
primeiro turno, agora foram 43%. Uniu a direita sem nuances em torno de si.
Os demônios que ele despertou contudo,
ameaçam o seu destino político.
Bolsonaro desde os anos 80 já demonstrou
ter uma lógica terrorista. Teve que enfrentar um processo, por ter, em uma
conversa com jornalista, mencionado um plano para explodir banheiros na Aman e
na Vila Militar, para protestar contra baixos salários.
Nos últimos anos fez verdadeiras odes ao
armamento da militância. “A arma de fogo, mais do que garantir a vida de uma
pessoa, garante a liberdade de um povo”, disse no dia em que ganhou as
eleições.
Esse ano, houve uma sequência de seis
episódios de violência política praticada ou tentada. Bolsonaro tentou se
desvincular dos primeiros e não se pronunciou sobre os últimos.
Em julho, um petista foi assassinado em seu
aniversário por um bolsonarista, em Foz do Iguaçu. Em 24 de outubro, Roberto
Jefferson atirou granadas em policiais que foram cumprir um mandado em sua
casa. cinco dias depois a deputada Carla Zambelli, arma em punho, correu atrás
de um cidadão nos Jardins.
O pior veio com a derrota eleitoral.
Bolsonaristas bloquearam rodovias em todo país, para tentar forçar um colapso
econômico e provocar a intervenção militar. Em um vídeo de dois minutos,
Bolsonaro pediu para pararem com isso, mas exortou seus apoiadores a
continuarem nas portas dos quartéis.
No dia 9 de dezembro, a uma plateia de
bolsonaristas na frente do Palácio da Alvorada, Bolsonaro falou por 16 minutos
e incentivou a ação direta. “Quem decide o meu futuro, para onde eu vou, são
vocês. Quem decide para onde vão as Forças Armadas, são vocês. Quem decide para
onde a Câmara e o Senado vão são vocês. Não é ‘eu autorizo não’, é o que eu
posso fazer pela minha pátria”.
Em outras palavras, mexam-se. Eles se
mexeram. No dia 12, o da diplomação de Lula, Brasília testemunhou carros e
ônibus incendiados e uma tentativa de invasão do prédio da Polícia Federal. No
fim de semana do Natal veio à tona um complô para explodir bombas no aeroporto
e provocar o estado de sítio. O presidente sobre nada se pronunciou.
É possível que os adeptos de Bolsonaro
sejam removidos à força das portas dos quartéis em algum momento. Talvez até
distúrbios sejam registrados no momento da posse, mas ele poderá estar na
Flórida, sem ter esperado “a decisão do povo”, como prometeu.
Uma característica do presidente é a de
fazer política sozinho, mas agora até jogar para a arquibancada tornou-se
difícil.
A quatro dias do fim de sua gestão,
Bolsonaro inovou ao vetar um dispositivo aprovado pelo Congresso pela manhã e
recuar do veto no começo da noite, pressionado pela base, enquanto Lula
conseguiu aprovar licença para gastar acima do teto em troca de lastro para a
reeleição de Arthur Lira na Câmara e espaço para o Centrão no governo. Dono de
corações e mentes de milhões de brasileiros e de uma grande bancada no
Congresso, Bolsonaro parece não saber o que fazer.
O comBorçanaro Jair, o genocida
ResponderExcluirTudo tem um fim,graças a Deus!
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