Folha de S. Paulo
Um roteiro para um 2023 genuinamente feliz
O mercado profetiza um início de governo
assaltado por repiques de juros que anunciam um horizonte sombrio. A extrema
direita sonha com um desastre iminente, acompanhado por atos golpistas
multitudinários. Mas, e se 2023 surpreender? Como seria um ano novo
genuinamente feliz? Eis um roteiro imaginário.
1. Haddad adota um plano formulado por
Persio e Armínio
Março. O ministro da Fazenda levou ao Congresso sua proposta de nova ancoragem fiscal anticíclica. Nas fases de crescimento, faremos elevados superávits primários; nas de recessão, produziremos déficits, irrigando a economia. Como resultado, a dívida pública decrescerá paulatinamente como proporção do PIB. De passagem, Haddad anunciou que o governo gastará de fato, em 2023, apenas cerca de dois terços do espaço fiscal aberto pela PEC da Transição.
O mercado reagiu derrubando os juros
futuros. O BC cortou a Selic em um ponto e anunciou viés de baixa. A Bolsa
subiu, o dólar desceu, os empresários anunciaram vultosos investimentos. Haddad
prometeu finalizar, até junho, o projeto de reforma tributária desenhado por
Appy –e antecipou que a carga total de impostos não crescerá. Em maio, o
boletim Focus previu alta do PIB de 3% e inflação no centro da meta.
2. Flávio Dino e José Múcio desmantelam as
articulações golpistas
No início de janeiro, por ordem de Dino,
forças policiais dissolveram os acampamentos bolsonaristas instalados à frente
dos quartéis. Inquéritos provocaram dezenas de prisões de financiadores e
articuladores do golpismo. Fevereiro: Múcio exigiu dos comandantes militares a
plena obediência à autoridade presidencial –e trocou um comandante refratário,
transferindo-o para a reserva. Os militares da ativa receberam ordem para
fechar suas contas em redes sociais.
Em agosto, o Congresso aprovou a lei que
proíbe manifestações políticas de militares da reserva remunerada. No mesmo
mês, um juiz de Brasília declarou Bolsonaro réu por crimes contra a saúde
pública. Simultaneamente, o Ministério da Cultura expôs o projeto de criação de
um Museu sobre a Ditadura Militar, inspirado no Museu do Aljube, de Lisboa, e
financiado em parceria público-privada.
3. Turnê internacional do presidente
sinaliza os eixos de política externa
Nas visitas sucessivas a Washington e
Pequim, em fevereiro, Lula reafirmou as parcerias paralelas com EUA e China,
rejeitando alinhamentos geopolíticos. Na Europa, em abril, desatou os nós que
emperravam o acordo Mercosul/União Europeia. A viagem concluiu-se com uma
visita surpresa a Kiev. No gabinete de Zelenski, Lula condenou a agressão
russa, defendendo a integridade territorial ucraniana.
Marina Silva acompanhou o presidente nas
visitas, expondo o cronograma do governo rumo à meta de desmatamento zero e
firmando acordos de transferência de tecnologias de energia solar com a China e
eólica, com a Alemanha. Na França, Alexandre Silveira, das Minas e Energia,
anunciou parceria para a retomada do programa nuclear brasileiro.
Durante a turnê europeia de Lula, Mauro
Vieira visitou Caracas, reunindo-se com Maduro e com líderes da oposição. O
Itamaraty afirmou que o Brasil quer operar como mediador para a realização de
eleições livres e justas na Venezuela. À imprensa internacional, Lula declarou
que "não existem ditaduras virtuosas, de direita ou esquerda".
4. Lula repete que a crítica faz bem
"Não deixem de cobrar. Não precisamos
de puxa-sacos. Governo precisa ser cobrado." No discurso de posse, Lula
repetiu sua pouco divulgada afirmação de campanha. Depois, em várias
entrevistas, esclareceu que não falava apenas para sua base política, mas para
todos. Antes de partir para Washington, discordou de um manifesto petista que
volta a reivindicar o "controle social da mídia". Segundo o
presidente, "qualquer governo erra" e, por isso, "precisa ouvir
os que divergem".
Viajei?
Viajou. Mas concordo com todos os devaneios.
ResponderExcluirSempre
ResponderExcluirNa torcida para não ser uma viajada na maionese,rs.
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