Governador vai liderar sigla a partir do ano que vem mirando candidatura presidencial em 2026. Primeira tarefa será organizar uma fusão com siglas de centro ou reforçar a federação com o Cidadania
Por Bianca Gomes / O Globo
O governador eleito do Rio Grande do Sul,
Eduardo Leite, assumirá o comando do PSDB em fevereiro do próximo ano com o
desafio de fortalecer o partido, pavimentar sua candidatura à Presidência em
2026 e liderar a construção de uma oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT).
Leite chega ao comando da legenda após se
tornar o primeiro governador gaúcho a conquistar a reeleição. Embora o desfecho
eleitoral tenha sido vitorioso, o caminho de volta ao Palácio Piratini teve
idas e vindas, a começar pela tentativa frustrada de ser o candidato tucano à
Presidência da República.
Após derrota nas prévias para João Doria,
que hoje já não está mais na legenda, Leite flertou com o PSD, de Gilberto
Kassab, movimento que causou desgastes entre os aliados internos. Mas a vitória
inédita no Rio Grande do Sul depois de um primeiro turno apertado cacifou o
tucano da nova geração do PSDB como a principal liderança da sigla, que teve em
2022 o pior desempenho eleitoral da sua história.
A primeira tarefa do novo dirigente assim que assumir em fevereiro de 2023 será liderar as articulações por uma fusão com partidos de centro ou ampliação da federação existente com o Cidadania.
Os tucanos têm conversas iniciais com o
Podemos, que incorporou o PSC, e o MDB, outro objeto de desejo em função da
bancada generosa no Congresso. Eventual composição com os emedebistas já era
tida como pouco provável por pessoas próximas ao presidente Baleia Rossi
(MDB-SP). Agora, é vista como ainda mais distante pelo fato de o MDB negociar
ser base do governo eleito.
—A prioridade é fortalecer o centro
político a partir da discussão com outros partidos para uma eventual ampliação
da federação — disse o governador tucano.
“Atualização de bandeiras”
Ao GLOBO, Leite ponderou que a ampliação
deve se dar também do ponto de vista programático.
—Vamos ter que promover um congresso que
estabeleça uma revisão programática, atualize as bandeiras que devam ser
erguidas pelo partido para que a gente possa estar sintonizado com o que se
observa de demanda da sociedade e, assim, recuperar o protagonismo do centro —
disse.
À frente do PSDB, Leite será o responsável
por dar os contornos do posicionamento do partido no governo Lula. No segundo turno
da disputa no estado, o tucano optou pela neutralidade.
A expectativa é que, sob Leite, o PSDB não
seja base da gestão petista e exerça uma “oposição saudável” no Congresso, com
críticas a Lula, mas apoio a pautas de interesse da legenda, como a reforma
tributária ou a PEC da Transição — os senadores tucanos Tasso Jereissati (CE) e
Alessandro Vieira (SE) apresentaram propostas alternativas, prevendo a abertura
de um espaço fiscal menor. Tucanos como o presidente da Assembleia Legislativa
de São Paulo, Carlão Pignatari, têm defendido publicamente que o partido resgate
o seu histórico antipetismo, que nas últimas duas eleições foi concentrado pelo
bolsonarismo.
Mas manter a bancada na oposição pode ser
uma tarefa difícil com a continuidade do orçamento secreto já sinalizada pelo
PT, que nesta semana declarou apoio à reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para a
presidência da Câmara dos Deputados.
A escolha de Leite para a direção do PSDB
teve a chancela do atual dirigente da legenda, Bruno Araújo, e certo consenso
interno. As poucas resistências ocorreram em seu reduto, Rio Grande do Sul, e
entre tucanos de Minas. Não por oposição a seu nome, mas por uma suposta
incompatibilidade entre o cargo de governador e de dirigente partidário.
Tucanos dos dois estados argumentaram que
Leite terá dificuldades de criticar o governo Lula ao mesmo tempo em que estará
à frente do Palácio Piratini e precisa manter uma boa relação com a
administração federal. Temem que o governador gaúcho repita o que ocorreu com
Doria em São Paulo, que, após romper com Jair Bolsonaro, sofreu boicote do Planalto.
A expectativa é que o tucano traga novos
ares para a executiva do partido e faça uma reciclagem de lideranças, dando
mais espaço para nomes que se fortaleceram no pleito deste ano, como a
governadora eleita de Pernambuco, Raquel Lyra, e o governador eleito no Mato
Grosso do Sul, Eduardo Riedel.
— Leite terá de reconstruir e reinventar o PSDB como uma força alternativa aos dois polos que predominam desde 2018 — afirma o ex-deputado Marcus Pestana, candidato derrotado do PSDB ao governo de Minas, acrescentando. — Penso que uma das tarefas será reconquistar uma base social que hoje nos falta e que o bolsonarismo e o petismo têm. Além disso, superar as ambiguidades dentro do partido e negociar uma possível fusão para a criação de um partido forte que represente o centro.
Saudade de quando a rivalidade política no Brasil se concentrava entre coxinha e mortadela,rs.
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