O Estado de S. Paulo
Consenso: o Haiti precisa de apoio internacional intenso, não de tropa policial de choque
O possível encontro de Luiz Inácio Lula da Silva com Joe Biden,
ainda em dezembro, será mais uma confirmação do quanto o Brasil está voltando
ao cenário internacional e o quanto as relações do País com a maior potência
mundial vão esquentar. Mas nem tudo o que reluz é ouro e nem tudo o que
interessa ao Brasil convém aos Estados Unidos, e vice-versa.
Há muito em comum entre Lula e Biden em ambiente, direitos humanos, gênero, igualdade racial e justiça social. E há muitos programas de cooperação que atravessam governos e ideologias, nas áreas de saúde, defesa e segurança, por exemplo. Porém, pelo menos uma proposta americana não agradar ao Brasil. Aliás, nem ao governo que entra nem ao que sai.
Os EUA articulam nova força internacional no Haiti, não mais com
tropas militares e sim policiais, para combater o caos do país mais pobre das
Américas, onde milícias disputam o poder. O secretário de Estado, Antony
Blinken, expôs a ideia no início do ano ao chanceler Carlos França, que se
reuniu com os generais Paulo Sérgio e Freire Gomes, ex e atual comandante do
Exército, mas os três não se mostraram animados.
O secretário-geral da ONU, António
Guterres, enviou carta ao governo e se reuniu com França para defender uma
“tropa de choque” no Haiti. O Brasil comandou as forças militares da ONU no
país, mas terá dificuldade em repetir a dose, em outro momento, com outro
modelo. “A sociedade brasileira está preparada para ver policiais voltando em
caixões ou matando civis em outro país?”, questiona França, que fala em “tropa
de choque com ‘licence to kill’”.
Também o general Augusto Heleno, homem
forte do governo Bolsonaro e um dos ex-comandantes das tropas da ONU no Haiti,
desaprova: “Uma ação policial não será suficiente jamais. O Haiti precisa de
uma ajuda internacional intensa e em todos os campos, com intempéries,
conturbado quadro político, estrutura social mal construída e economia frágil”.
No novo governo, o ânimo não é diferente.
Para o ex-chanceler Celso Amorim, consultor de Lula na política externa, o
Haiti “não precisa de tropas policiais, mas sim de apoio mais amplo para
estruturar o futuro”. Segundo ele, é uma tarefa para a ONU, não para um país ou
grupo de países.
Afora isso, Biden dá sinais de apoio e
simpatia para Lula, 200 apartamentos foram reservados pela embaixada dos EUA
para a posse em Brasília e os americanos parecem prontos para curtir o
“Festival do Futuro”, ou o “da alegria”, que Janja, mulher de Lula, organiza
para 1.º de janeiro. Uma festa com “povo na rua”, para o Brasil curtir e o
mundo ver.
Tomara que tudo transcorra bem.
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