O Globo
Há 20 anos Fernando Henrique Cardoso passou
a faixa a Lula numa transição que podia sinalizar um processo civilizado para o
futuro. FH levou caneladas antes, durante e depois da eleição. Passou o governo
a Lula com a marca da elegância durante um período de incerteza econômica.
Convidou Lula e Marisa Letícia, mulher do petista, para um encontro no Alvorada
e, dias depois, FH e Ruth Cardoso jantaram na Granja do Torto, colocada à
disposição do presidente eleito. Está nas livrarias “Eles não são loucos”, do
repórter João Borges. Ele conta os bastidores das iniciativas que garantiram a
paz nacional. Agora, sem maiores piripaques na economia, a transição civilizada
revelou-se uma ilusão. Ninguém sabe como Jair Bolsonaro se comportará. Restará
apenas a amargura de uma tensão inútil.
Ministério de Lula
Até agora, o Ministério de Lula se parece com um automóvel que sai da oficina depois que o mecânico desmontou o motor, fez alguns acertos e trocou peças. Parece-se também com a salada de frutas de centro-direita que na política de Portugal denominou-se de “geringonça”. Lá, só se conseguiu avaliar a máquina quando ela começou a funcionar, e funcionou por quatro anos. Cá, só se vai saber se o carro com 37 ministros funciona direito quando ele estiver na estrada.
Reconciliação a
irredutibilidade
Enquanto existirem presos e carcereiros
alguém se lembrará da história de Nelson Mandela com Christo Brown, que vigiava
a cela onde ele passou 18 dos 27 anos de encarceramento. O preso tornou-se
presidente da África do Sul e o carcereiro continuou sua vida de humilde
servidor público.
Ao encontrá-lo numa sessão do Congresso,
Mandela o abraçou e pediu que sentasse ao seu lado para serem fotografados.
Mandiba, como era conhecido Nelson Mandela,
queria reconciliar a África do Sul depois de décadas de segregação racial.
Depois de Bolsonaro, em menor medida, o Brasil
precisa de paz.
O futuro ministro Flávio Dino desconvidou o
futuro chefe da Polícia Rodoviária Federal porque ele exaltava o juiz Sergio
Moro e comemorou a prisão de Lula. Se não devia tê-lo convidado, não deveria
tê-lo desconvidado.
Dino escolheu o coronel da PM paulista
Nivaldo César Restivo para a Secretaria Nacional de Políticas Penais. Há 31
anos, como tenente, ele estava na logística da operação policial que resultou
no massacre de presos do Carandiru, onde foram mortos 111 presidiários. Nunca
foi acusado de nada. Incriminá-lo por “estar presente” é um exagero.
Atribui-se a Restivo a afirmação, feita em
2017, de que o desfecho da operação foi “legítimo e necessário”.
O coronel é um servidor respeitado no
sistema penal. Acusado, recusou o convite. Poupou Dino de um constrangimento.
Christo Brown nunca maltratou o preso
Mandela.
Mau começo de ano
A partir do dia 1º de janeiro, todas as
despesas de Jair Bolsonaro deverão caber na sua aposentadoria de R$ 80 mil por
mês.
O Partido Liberal de Valdemar Costa Neto
está com seus fundos congelados por ordem do ministro Alexandre de Moraes. De
lá, não sairá um centavo.
Obras paradas
A julgar pela precisão estatística da
equipe da transição, Jair Bolsonaro quase cumpriu sua promessa de acabar com o
“ativismo” no Brasil. O vice-presidente eleito informou que há 14 mil obras
paradas no país.
Retomar obras paradas é um bordão de todo
governo que pretende alfinetar o antecessor, mas em 2016, quando Michel Temer
assumiu, encerrando o primeiro ciclo petista, as obras federais paradas eram
apenas 1,6 mil.
Trump mentiroso
A comissão da Câmara dos Estados Unidos
aprimorou a forma de expor um mentiroso, fritando o ex-presidente Donald Trump
pela sua conduta depois da eleição de 2020.
Pelo sistema convencional, quando um
sujeito mente, mostra-se a verdade. A comissão valeu-se de uma nova tática.
Mostrou 18 episódios nos quais Trump foi informado a verdade por colaboradores
e, dias depois, mentiu dizendo o contrário do que lhe havia sido dito.
Dois exemplos:
No dia 15 de dezembro de 2020, antes do
ataque ao Capitólio, Trump havia dito que um vídeo mostrava o transporte de
votos falsos numa mala. O vice-procurador-geral, Jeffrey Rosen, corrigiu-o:
“Não era uma mala. Era uma caixa. É o que se usa para transportar votos. Coisa
benigna.”
Sete dias depois, Trump voltou à carga: “Na
Georgia, uma câmera de segurança registrou quando funcionários mandaram que os
escrutinadores saíssem da sala e despejaram sobre a mesa votos que estavam numa
mala”.
No dia 1º de dezembro de 2020, o
procurador-geral Bill Barr disse-lhe:
“Alguém já lhe contou que o senhor teve
mais votos em Detroit do que na eleição passada? Em suma, não há indícios de
fraude em Detroit.”
No dia seguinte Trump insistiu:
“Todo mundo viu o tremendo problema de
Detroit... Lá apareceram mais votos do que eleitores.”
Moro em perigo
O mandato de senador de Sergio Moro está em
perigo.
Na sua prestação de contas de candidato ao
Senado ele usou recursos arrecadados para sua postulação natimorta à Presidência
da República.
Quem entende do assunto calcula que o
doutor tem pelo menos sete chances em dez de perder o mandato.
O navio fantasma
Porta-aviões são as joias das marinhas de
guerra. O americano Enterprise participou de 20 combates no Oceano Pacífico
durante a Segunda Guerra Mundial. O japonês Akagi foi o orgulho da marinha
japonesa até 1942. Na batalha do Midway (na qual estava o Enterprise) ele foi
danificado, e os japoneses resolveram afundá-lo para que não fosse capturado.
A Marinha brasileira teve dois
porta-aviões. O Minas Gerais foi comprado aos ingleses em 1956, provocou uma
briga com a Força Aérea nos anos 1960 e foi vendido em 2002 a uma empresa
chinesa que pretendia transformá-lo em museu. Acabou vendendo-o como sucata.
O segundo foi o São Paulo, comprado à
França em 2000 e vai entrar em 2023 como parte da história de batalhas
ambientais e jurídicas. No ano passado seu casco foi vendido a uma empresa
turca, como sucata. Como contém materiais tóxicos, nenhum porto o aceita, nem
os turcos. Há meses ele vaga pelo oceano Atlântico como navio fantasma. O
governo de Pernambuco não permite que o falecido São Paulo atraque em Suape.
Na semana passada as empresas que o
arremataram mandaram uma carta a autoridades mundiais e às Nações Unidas
protestando porque o governo brasileiro, que lhe deu autorização para deixar o
país, não permite que retorne. Elas sustentam que “o resíduo exportado pertence
ao Brasil”. Vagando pelo oceano, o casco do falecido porta-aviões já lhes
custou 5 milhões de dólares. As empresas queixam-se de que não conseguem
autorização para atracar o “resíduo”, como se ele não tivesse sido exportado
com a papelada em ordem: “Afirmamos várias vezes que as autoridades brasileiras
deveriam intervir responsavelmente a esse respeito e nos indicar um local para
atracar, mas infelizmente não encontramos nenhuma resposta séria.”
Carácoles!
ResponderExcluirTrump mentiroso, Bolsonaro MENTIROSO! Ambos farinha do mesmo saco, canalhas golpistas e antidemocratas...
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