Folha de S. Paulo
Presidente eleito blinda suas decisões de
um escrutínio mais crítico
O filósofo Paul Virilio (1932-2018) não está entre os meus preferidos,
mas acho que ele captou algo importante quando, já nos anos 1970, identificou a
velocidade e a aceleração (da vida, da política, das relações econômicas) como
elementos definidores da modernidade. A sociedade tem cada vez mais pressa, o
que, muitas vezes, se traduz em impaciência com governantes.
Um bom exemplo disso é o chileno Gabriel Boric. Ele assumiu a Presidência em março com 50% de popularidade. Com quatro meses de mandato, essa cifra já havia baixado para 34% e hoje ele está com meros 29% de aprovação. Não há um evento único que explique essa queda, que parece mais o resultado de processos difusos nos quais a pressa da população teve papel relevante.
Lula está ciente desse risco e parece ter
optado por enfrentá-lo assegurando uma folga orçamentária no início do mandato
com a qual tentará comprar a boa vontade de setores-chave. Essa estratégia se
reflete na escalação dos ministérios, que agora já têm uma cara. Ele colocou petistas e aliados próximos na chamada
cozinha do Planalto (as pastas mais ligadas ao dia a dia da administração) e
deve distribuir outras (não as mais vistosas) de olho principalmente em apoio parlamentar, que será importante para a
governabilidade.
A alternativa teria sido apostar mais na
tal da frente ampla, com a qual Lula flertou durante a campanha. Nesse caso, a
divisão de poder teria de ter sido diferente: menos petistas e mais figuras
representativas da sociedade civil, não necessariamente ligadas às alas
parlamentares dos partidos.
É uma aposta. Só o futuro dirá se ele acertou ou errou. Vejo, porém, um risco considerável na escolha. Ao cercar-se na cozinha só de aliados fiéis, que tendem a dizer amém até a seus soluços, Lula blinda suas decisões de um escrutínio mais crítico. É assim que líderes acabam se isolando do mundo real, uma patologia comum entre governantes.
"É uma aposta. Só o futuro dirá se ele acertou ou errou. Vejo, porém, um risco considerável na escolha."
ResponderExcluirConcordo q seja uma aposta. Porém, LULA precisa de votos no Congresso. Precisa de gente fiel por perto - vc queria q ele ae cercasse de inimigos? Kkkkkkkkkkk
Verdade q só futuro dirá se acertou ou não.
Schwartsman, mesmo q LULA adote suas sugestões, só o futuro dirá se foram acertadas ou não.
E me pergunto: devo aceitar suas sugestões ou a de um estadista em terceiro mandato?
Kkkkkkkkkkkkk
Fico com LULA, correndo aquele "risco considerável". Claro.
Ou
Leio seus textos mas...pô, como disse Obama, ele, não vc, É O CARA.
Carácoles!
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