Folha de S. Paulo
Futuro presidente paga até os calotes do
desastrado governo Bolsonaro
Sempre presto atenção às advertências muito
severas feitas por colunistas desta Folha e
de outros veículos sobre os males que aguardam o Brasil em razão de escolhas
equivocadas que Luiz Inácio Lula da Silva já teria feito, e a PEC da Responsabilidade Orçamentária seria uma delas.
Divirjo com admiração — nem sempre, é
verdade —, de braços dados com Romain Rolland: não permito que o
"pessimismo da inteligência" meu e dos meus pares turve de todo o
"otimismo da vontade". Não é raro que me encante com suas certezas
tornadas sentenças, como se estivessem a ver o futuro além dos juros futuros.
E eu cá, num mar de dúvidas, percebo que quase "não tenho par nisto tudo nesta terra". Espantam-me tanta destreza nas predições e a ousadia de anunciá-las.
Não me lembro de ter lido a previsão de
que, 52 dias depois de vitória apertada, o líder petista, na condição de eleito,
realizaria a proeza de aprovar a tal PEC ainda durante o plantão do governo
derrotado — este que opera no modo "golpe, silêncio e lágrimas" —, o
que garante ao futuro presidente condições mínimas de governabilidade,
permitindo a correção de um Orçamento delinquente.
Há mais: o texto autoriza também que se
fechem as contas da atual gestão. Quem nem assumiu o cargo arca com a fatura do
caloteiro fiscal e institucional ainda no poder. Já viram isso antes?
Contradita: "O PT teve de recorrer aos
préstimos de Arthur
Lira (PP-AL), o verdadeiro vitorioso, para conseguir aprovar a
emenda". Fato. Qual a alternativa? Cuidado com a "Síndrome de
Fausto", o vivente incapaz de reconhecer algo de novo sob o sol, daí seu
tédio agressivo, que o tornou vulnerável às tentações do capeta.
O empoderamento do Congresso além do
razoável num regime presidencialista, tratei
do assunto na semana passada, não veio do nada. É fruto de uma má
experiência que tem de ser vencida pela política, o que não depende apenas da
disposição subjetiva do líder e de suas virtudes de convencimento.
A exemplo de todos nós, ele está sujeito a
fatores que não são só de sua escolha. É assim para o mal, mas também para o
bem: nesse caso, foi o STF,
no exercício estrito de suas competências, a desatar os nós que impediam a aprovação da PEC da
Responsabilidade Orçamentária e condenavam o país às vicissitudes de um
governo moribundo.
Encerra-se um ciclo em que Bolsonaro se entendeu com o centrão, dando-lhe de
bandeja o orçamento secreto, para que ele próprio pudesse, livre de
riscos, pregar golpe de estado; corroer as instituições; atentar
contra o pacto civilizatório; fazer pouco caso da ciência; fomentar milícias
privadas; empurrar os brasileiros para a morte com seu discurso
doidivanas contra a vacina. Tinha-se, por óbvio, um manejo nefasto dessa
turma — que está aí, em suas várias configurações, disponível para ser
"hegemonizada" desde a Constituinte.
Se esse mesmo centrão, com sua vocação
inequívoca para a chantagem — e que não tem como ser enfrentado por decreto ou
Medida Provisória —, pode ser direcionado para que se garanta o pagamento do
Bolsa Família; para que se recomponha a dotação da Saúde; para que se vença a
estupidez dispensada à Educação; para que se supere a indigência a que se relegou o Minha Casa,
Minha Vida, então o meu otimismo possível lembra que algo se moveu.
"A vitória de Lula é amarga; ele
ganhou licença de um ano apenas para furar o teto". Errado. Conquistou no
Congresso a autorização para apresentar uma nova âncora por Lei
Complementar, mesmo instrumento que deu à luz a Lei de Responsabilidade
Fiscal, note-se.
"Mas e a farra com recursos públicos,
conforme a denúncia dos varões e varoas de Plutarco de Valdemar Costa Neto e do
Novo, esses arautos do Evangelho Fiscal?" Parte do berreiro é matemática
criativa, a misturar extrateto, receitas extraordinárias, grana esquecida no
PIS-Pasep (nem dinheiro público é), doações a universidades (idem)...
"Lula tem de cortar gastos", insistem. Um pouco de pudor! Por ora,
ele está pagando as contas de Bolsonaro.
O pessimismo da inteligência, para ser
virtuoso, há de se distinguir dos maneirismos da má vontade, do mero discurso
ideológico e do papo de especuladores e de suas tentações influentes.
"Há mais: o texto autoriza também que se fechem as contas da atual gestão. Quem nem assumiu o cargo arca com a fatura do caloteiro fiscal e institucional ainda no poder. Já viram isso antes?"
ResponderExcluirNão, nunca vimos isso antes. Aí, gado burro pra cacete, o LULA é magnânimo, ao contrário do genocida. E o palerma destruiu o Brasil. Quem é palerma? Fácil, o atual presidente, gado burro. Kkkkkkk
"Encerra-se um ciclo em que Bolsonaro se entendeu com o centrão, dando-lhe de bandeja o orçamento secreto, para que ele próprio pudesse, livre de riscos, pregar golpe de estado; corroer as instituições; atentar contra o pacto civilizatório; fazer pouco caso da ciência; fomentar milícias privadas; empurrar os brasileiros para a morte com seu discurso doidivanas contra a vacina"
ResponderExcluirEncerra-se, gado burro, encerra-se. Mas q fique claro: o bbc da República cedeu ao Centrão.
Reinaldo e seu giro de 180 graus.
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