Folha de S. Paulo
A lembrança do que houve de pior nos anos
PT aponta riscos do novo governo
O início do novo governo Lula é
—ou pode ser— um recomeço não só para o PT, como também para os seus críticos.
É um desafio criar o discurso crítico de direita a esse governo. Grande parte
da oposição está agarrada à histeria antipetista, vendo chavismo e comunismo em
toda e qualquer nomeação. A cada ato de moderação do governo, perderão
credibilidade.
A religião do antipetismo já azedou faz
tempo, mas nem por isso a indignação na qual ela se baseava era injusta. Pelo
contrário; a lembrança do que houve de pior nos anos PT é o que nos aponta
alguns dos maiores riscos do novo governo.
O primeiro e mais imediato, sem dúvida, é a economia. A situação do Brasil é difícil e não permite aventuras como a que culminou na crise de 2014. A boa notícia é que Haddad nunca foi um populista tresloucado. Ter Rui Costa —outro quadro moderado do PT— na Casa Civil é também um ótimo sinal no que diz respeito às prioridades. Resta saber se alguma outra pasta econômica trará algum nome mais liberal para compor com Haddad.
Haddad se compromete com uma nova regra
fiscal. Tudo muito bom. Ocorre que apenas falar em equilíbrio fiscal e controle
de gastos é fácil; difícil é realmente cortar gastos para chegar ao equilíbrio
fiscal.
A nova regra dará um norte, mas não
soluciona o problema por si mesma. É necessário que grupos que hoje recebem
recursos do Estado (via subsídios ou isenções) —recursos mais do que justificáveis
e defendidos com argumentos razoabilíssimos— deixem de receber ou recebam
menos. E ninguém sofrerá um corte calado.
O mesmo tipo de debate de ganhadores e
perdedores terá que ser enfrentado se o governo fizer a prometida reforma
tributária, que promete ganhos enormes para a economia se vier mesmo.
O papel de qualquer observador crítico será
duplo: 1) os cortes incidem sobre quem é mais privilegiado e não sobre quem é
mais vulnerável; e 2) eles são feitos de maneira que não prejudique o
funcionamento do sistema econômico? Não adianta nada ter a melhor das intenções
e, com elas, promover inflação, recessão e fuga de capitais.
Outro foco de preocupação é a relação do
governo com Congresso. Ao longo do governo
Bolsonaro, o Congresso abocanhou uma fatia muito maior do poder e do
Orçamento. Com o poder de investimento do governo —que já era pequeno— agora
repartido entre dezenas de deputados que tomam decisões de gasto no varejo da
pequena política local, fica impossível ter qualquer uso racional desses
recursos. No passado, o PT transigiu todas as normas éticas e legais para ter o
Congresso a seu lado. Como fará agora com um Congresso ainda mais poderoso?
Sabemos que há uma parte do PT que é
extremamente aguerrida, que não aceita partilhar o poder (nem com a esquerda) e
que não prima pela qualidade técnica ou de gestão. Alguns já sabotam o governo
desde o primeiro dia da transição. Dar a eles qualquer posição de destaque —permitindo,
por exemplo, que minem o trabalho necessário na Educação ou no Meio Ambiente—
seria uma tragédia. Mas provavelmente terão algum espaço, e pode ter certeza
que irão aprontar.
Por fim, há um ponto da preocupação da
direita que pode ter algum mérito: riscos à liberdade de expressão e de
imprensa. A resposta ao esgoto bolsonarista não pode ser a pura repressão do
discurso.
Não interessa a ninguém o naufrágio do
Brasil. Lula pode corrigir erros do passado e estabelecer uma nova agenda de
prioridades —algo de que carecemos desde 2010. Não faltarão motivos para
criticar o governo; mas se não exorcizar o fantasma do comunismo, a direita não
vai encontrá-los.
Tudo bandido processado por corrupção dificilmente encontrará o ministro com ficha limpa Lula ladrão seu lugar é na prisão
ResponderExcluirNão entendi o finalzinho.
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