Com esses resultados, o movimento das coisas no mundo dá um cavalo de pau, passando a girar em órbitas mais afetas ao fortalecimento da democracia, afirmando-se protagonismo às instituições internacionais, sobretudo da ONU. De outra parte, no Oriente, o movimento das mulheres em favor da aquisição de direitos em sociedades dominadas por secular patrimonialismo aponta para a mesma direção, contrariada, sem dúvida, pela guerra da Ucrânia, para a qual já se procura uma via de negociações apta a interromper a continuidade desse conflito.
Aqui, na periferia do mundo, uma singular
mudança de rumos, operada pelo tirocínio das forças democráticas coligadas
contra os riscos crescentes de fascitização da sociedade que estava em curso, conduziu
a vitória da candidatura Lula-Alckmin. O processo das eleições que lhe concedeu
a vitória foi acompanhado de perto, com clara aprovação dos seus resultados,
pela opinião pública mundial e de boa parte de governos nacionais, inclusive
dos Estados Unidos, da Alemanha e da França, que reconheceram nela elementos de
afirmação de suas posições.
O Brasil não só volta ao mundo, como volta
em condições inéditas de exercer papeis influentes neste momento em que soam os
alarmes para os riscos da questão ambiental por contar em seu território com a amazônia,
região estratégica para uma eficaz ação contra a crise climática que ameaça o
planeta, ademais de conhecer núcleos relevantes na sociedade civil aplicados na
sua defesa. No caso, importa relevar essa questão como decisiva na eleição de
Lula-Alckmin, impondo uma derrota ao eixo Bolsonaro-Trump e sua política
negacionista em matéria ambiental, que, como inevitável, abre um fecundo caminho
para parcerias do nosso país com os EEUU. Nunca, como agora, salvo no curso da
segunda guerra mundial, foram tão promissoras nossas relações com os americanos
do Norte, com quem contamos com um inimigo comum – Trump e seus sequazes
antidemocráticos.
O novo governo brasileiro ainda aguarda
investidura, mas tudo que se revela no chamado governo de transição,
capitaneado por Alckmin, é altamente auspicioso. As linhas de conduta que
afloram nos posicionamentos sobre o futuro governo indicam com nitidez que o
país, recentemente evadido do mundo das trevas, retomará seu alinhamento com os
ideais civilizatórios que sempre, de algum modo, estiveram presentes em nossa
trajetória nacional.
De fato, essa não é nem será uma tarefa
fácil, mas já temos em mãos o fio do novelo que pode nos orientar nessa busca,
qual seja o caminho das alianças, tão amplas quanto possível, como o praticado
na campanha eleitoral, que soube reeditar as políticas exitosas dos anos 1980.
Em política também se inventa e se fazem descobertas, às vezes surpreendentes,
quando atores porfiam animosamente por seus fins, que agora inequivocamente é a
democracia.
O sucesso da democracia nas urnas,
importante como foi, não ocultou uma forte presença das forças antagonistas
que, derrotadas, se insurgem em movimentações consertadas a fim de tentar
subverter a ordem sob o pretexto de que teria havido fraude no processo
eleitoral num arremedo farsesco das táticas de Trump. O verdadeiro legado de
Bolsonaro foi, como se constata, deixar em sua esteira uma extrema-direita
orientada a embaraçar os caminhos da restauração democrática, objetivo
principal do novo governo Lula-Alckmin, que também enfrenta os desafios de
animar uma sociedade desorganizada conscientemente pelas práticas do governo
Bolsonaro em seus quatro anos de mandato.
Tal tarefa ainda se faz mais difícil em
razão dos partidos terem subestimado sua radicação no mundo popular que ficou
sob a influência dos pentecostais e de sua canhestra ideologia da prosperidade,
cenário agravado pela condenação por parte da hierarquia da Igreja católica da
teologia da libertação com que seus intelectuais tentavam se comunicar com os
seres subalternos. Os efeitos nefastos dessas orientações produziram uma
limpeza de terreno favorável a destituição da política e à difusão de valores
antidemocráticos nesses setores.
Tal desertificação da política, contudo,
tem remédio já conhecido, uma ida ao povo por parte de seus políticos e
intelectuais, uma medicação de uso continuado a demandar tempo na sua
aplicação. Em nossa desastrada experiência republicana já fizemos uso dessa
recomendação, e já está passando da hora o momento de aprendermos as boas
lições do nosso passado.
*Luiz Werneck Vianna, Sociólogo, PUC-Rio
Louvado seja!
ResponderExcluir''Movimentações consertadas'',creio que ele quis dizer ''concertadas''.
ResponderExcluirEm se voltando ao passado quem deve ser reeducado é o feminismo que vem se perdendo em diversas queixas contra os machos, esquecidas da desobediência do preceito familiar principalmente as nascidas de prostitutas ou vítimas de divórcio por motivo de ganância na disputa por heranças de bens materiais, esquecidas também das regras que regem o casamento desde o namoro para não correr o risco de se entregar a qualquer um, sem o devido consentimento dos genitores. Não se trata mais de dogmas da religião a questão é uma reeducação com renovação e reavivamento das mentes em confusão cuja algumas correntes políticas já enxergam a necessidade da saúde mental nas escolas.
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