O Globo
Durante a campanha, sempre que buscou
aplacar as incertezas sobre os rumos da economia ou de áreas estratégicas num
eventual terceiro mandato, Lula recorreu
à mesma explicação:
— Eu não preciso ficar prestando contas
porque as pessoas me conhecem —dizia. — O que eu tenho é o legado de oito anos
de Presidência da República.
Era uma forma de driblar a pergunta que
todos queriam ver respondida: qual Lula governaria. Se o do primeiro mandato,
que seguiu à risca mandamentos de austeridade fiscal e acomodou técnicos
liberais, ou o do segundo, que privilegiou a expansão de gastos e subsídios
fiscais numa equipe dominada por economistas heterodoxos.
As dúvidas não se restringiam à economia.
Muita gente se perguntava se Lula estaria disposto a ampliar seu arco de
alianças para além do PT, mais especialmente do núcleo duro que o apoiou nos
tempos da prisão em Curitiba. Outra questão que pairava era se Lula não faria
um governo de vingança — não só contra os algozes do Ministério Público e da
Justiça, mas também contra “inimigos” como o agronegócio, o mercado financeiro
e o que petistas costumavam chamar de “imprensa golpista”.
Em resposta, Lula mais de uma vez disse que
não faria um governo de revanches e repetiu ad nauseam que precisaria formar
uma frente ampla para vencer o bolsonarismo e consolidar a democracia:
— Não será um governo do PT — afirmou. — Tem muita gente que nunca foi do PT e participou do meu governo, e vai ser assim.
Desde que a transição começou, porém, os
gestos de Lula vão numa direção diferente. É verdade que ele mais de uma vez
afirmou nos palanques que daria fim ao teto de gastos para poder incluir o
pobre no Orçamento. Mas a PEC da Transição não abre espaço apenas para pagar
benefícios aos mais pobres. Na “licença para gastar” de R$ 145 bilhões aprovada
pelo Congresso há um combo que vai além. Da barca de obras de infraestrutura a
fundos de cultura e ciência e tecnologia.
O futuro ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, garante que o governo terá responsabilidade fiscal e saberá cortar
gastos, mas até agora não se sabe onde, nem quanto, nem como. Nas conversas com
potenciais membros do governo, Lula cita como exemplos do que pretende fazer
políticas como o conteúdo nacional, incentivos para a indústria naval,
construção de refinarias e a manutenção de regimes especiais para determinados
setores. Já não deu certo no passado, mas ele parece que não se recorda ou não
entendeu.
Com tal postura, a ideia de ter um ministro
do Planejamento liberal para fazer dupla com Haddad ficou para trás nos
primeiros dias da transição. Vários empresários já recusaram o convite para
assumir o Ministério do Desenvolvimento Econômico, e até mesmo para seu
secretariado Haddad vem tendo dificuldade de atrair economistas ortodoxos.
Na composição do ministério, o núcleo que
apoiou Lula nos tempos difíceis tem demonstrado grande influência. Aliadas como
Gleisi Hoffmann e Dilma Rousseff foram fundamentais para garantir a ida de
Aloizio Mercadante para o comando do BNDES, antes até da escolha do ministro
que será seu chefe.
O grupo de advogados Prerrogativas emplacou
vários membros no governo, incluindo a secretaria do Ministério da Justiça que
participa de negociações em fóruns internacionais sobre lavagem de dinheiro e
corrupção. Nesse caso, o titular será um ex-advogado da Odebrecht que se
notabilizou publicamente por combater a Lava-Jato.
Com a escolha de petistas homens para
Fazenda (Fernando Haddad), Educação (Camilo
Santana), Casa Civil (Rui Costa),
Relações Institucionais (Alexandre
Padilha) e, agora, Desenvolvimento Social (Wellington
Dias), o rol de pastas estratégicas a ser ocupadas por mulheres ou por
figuras de fora do PT ou da esquerda lulista vai diminuindo.
Na configuração atual, são grandes as
chances de Simone Tebet não
ir para o governo. Marina Silva também
está balançando. Partidos como MDB, PSD e União Brasil certamente estarão
representados, mas esse mapa da Esplanada tem muito mais o cheiro de naftalina
das gestões petistas que não deram certo do que o frescor do governo amplo e
inovador prometido na campanha.
Quem conhece o PT nunca imaginou que o
partido fosse se comportar de forma diferente. Mas não foram poucos os que apostaram
no tirocínio de Lula para escapar das armadilhas que podem corroer seu capital
político. Até agora, porém, o que se vê é um grande esforço para repetir um
passado que já deu errado, com novidades que deveriam estar restritas aos
museus da política brasileira.
É, não estão sobrando cargos importantes para as mulheres... Margarete Menezes na Cultura e...? E a Cultura nem é dos mais mais...
ResponderExcluirGoverno que deu errado para quem moça?
ResponderExcluirPara mim, o governo que deu errado foi o de Jair Bolsonaro
Simone e Marina parece que foram alijadas do governo,uma ingratidão-petista.
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