Folha de S. Paulo
Por que Lula desperdiça apoios de quem
nunca o apoiou?
Celso Furtado foi pioneiro em identificar um padrão
nas relações Executivo-Legislativo no país que, rompido sob Bolsonaro,
aparentemente reemerge com Lula 3. Em "Obstáculos Políticos ao Crescimento
Econômico no Brasil", escrito em 1964 na Universidade Yale, ele
identificou um conflito irresolúvel entre o presidente —eleito por um
eleitorado modernizante urbano— e um Congresso conservador, comprometido com o status quo.
Instaura-se o conflito porque, "para legitimar-se, o governo tem que operar dentro dos princípios constitucionais. Para corresponder às expectativas da grande maioria que o elegeu, o presidente da República teria que alcançar objetivos que são incompatíveis com as limitações que lhe cria o Congresso dentro das regras do jogo constitucional". O conflito cria para o presidente "a disjuntiva de trair o seu programa ou forçar uma saída não convencional, que pode ser inclusive a renúncia ou o suicídio".
Furtado prenunciou o "dilema da legitimidade
dual" analisado por Juan Linz: Legislativo e Executivo detêm mandato
popular, mas presidentes minoritários que se enxergam como símbolos da nação
buscam unilateralmente impor sua agenda, gerando crises, o que tornaria o
presidencialismo constitutivamente instável. Muitos
criticaram o argumento, especialmente o suposto de que presidentes não têm
também incentivos a cooperar com o Congresso e vice-versa.
Bolsonaro é a melhor prova disso: bloqueado
no Congresso e ameaçado de impeachment, acabou montando base parlamentar, o que
envolveu uma hiperdelegação legislativa na área orçamentária. Transferiu
decisões ministeriais para a maioria congressual e suas lideranças, em um
movimento que embutiu também uma estratégia de minimizar sua adesão às práticas
que tanto denunciara.
Com Lula 3, velhos personagens de seu
partido e ideias envelhecidas reaparecem sobre-representados no governo — sugerindo que Lula,
hiperminoritário no Congresso, não parece enxergar sua própria debilidade.
Pode-se especular as razões: da prática hegemonista do partido (que analisei aqui), à polarização e à experiência no
cárcere que o levou a premiar "lealdades caninas" mais que considerar
a real politik.
Lula 3 foge à descrição de Furtado de líder
renovador com agenda reformista enfrentando um congresso arcaico. Na área
econômica a agenda é claramente retrógrada. Tampouco recebeu um mandato forte
de um eleitorado urbano: sua vitória é produto de uma maioria negativa, de rejeição
a Bolsonaro. O cenário pós-transição não é de "crise linziana", de
paralisia decisória; a barganha acontece mas é mais aparente que real. Lula
desperdiça apoios de quem nunca o havia apoiado antes.
*Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).
É, o velho Lula sendo mais velho ainda... Este ministério tem cheiro de naftalina, mas ela não foi capaz de conservar os zumbis petistas que estão emergindo das catacumbas. Daqui a pouco até a Dilma vai ganhar uma boquinha... Eu esperava um Lula mais moderno e menos petista, que se aproximasse mais das expectativas do seu eleitorado (1/2 Brasil). Ele está construindo um ministério pro seu 1/3 de Brasil que acredita ou vota no PT...
ResponderExcluirO texto tem 6 parágrafos; só os 2 últimos versam sobre LULA; os demais são introdução.
ResponderExcluirO 5o par. fala q "Com Lula 3, velhos personagens de seu partido e ideias envelhecidas reaparecem sobre-representados no governo..."
O 6 e último, "Na área econômica a agenda é claramente retrógrada."
Pena q o autor não nos revele o q e o pq são "ideias envelhecidas e agenda retrógradas".
Fica patente q o autor pensa q o envelhecimento e a retrogradaria são um dado, óbvios mesmo, entendidos e aceitos por qq um - admissão LÓGICA pra quem é LÓGICO.
Ou falta de espaço ou/e tempo pra detalhar ambos. Ou talvez seja tal claro q me ofuscou, impedindo-me de ver o óbvio. Sei lá.
Pena.
Fica parecendo q o autor leu Celso Furtado e a forma de CABER no livro seria pressupor o envelhecimento das ideias e a retrogradaria da agenda.
ExcluirKkkkkkkkkkkk
Lula quer basicamente REPETIR os seus governos anteriores... Pra isto, repete lideranças e ministros petistas. Mas 20 anos se passaram do seu início e 12 anos anos nos afastam do seu final...
ResponderExcluirChamar o congresso de conservador é bondade do colunista.
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