segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Celso Rocha de Barros - Aonde vai Tebet?

Folha de S. Paulo

É bom lembrar que senadora foi peça-chave para vitória de Lula e dialoga com moderados

O ministério de Lula já está quase todo formado. Dos quatro nomes que defendi na última coluna, Nísia Trindade já se tornou a primeira ministra da Saúde da história do Brasil. Izolda Cela será secretária de educação básica (ministra seria melhor, Lula).

Tudo indica que Marina Silva será ministra do Meio Ambiente. Ainda falta Simone Tebet, mas ainda não sabemos que ministério a emedebista receberá, ou mesmo se, de fato, participará do governo.

Acho importante oferecer um bom ministério para Tebet, algo que tenha orçamento razoável e/ou boas possibilidades de projeção política.

Em primeiro lugar, é bom lembrar que, mesmo se Tebet tiver transferido apenas metade de seus votos no primeiro turno para Lula no segundo, isso é mais ou menos a margem da vitória. Lula é um gigante que quase venceu no primeiro turno. Mas se os democratas tivessem só os votos de Lula, perderiam a eleição mesmo tendo cerca de 49% dos votos.

Jair está trancado em casa chorando faz dois meses por ter passado por essa experiência. Algum democrata gostaria de estar no seu lugar? Tebet é uma das principais suspeitas de não ter deixado isso acontecer.

Em segundo lugar, Tebet pagou um preço político por apoiar Lula. Não estava na posição de, por exemplo, Ciro Gomes, cujo eleitorado de esquerda já pendia mesmo para o petista. Foi eleita por um estado fortemente bolsonarista. E se o velho Brizola assistiu ao segundo turno do céu, certamente deve ter achado que a candidata do PDT era Tebet, porque quem fez campanha pela democracia foi ela.

Por isso, e não por gratidão pessoal (o que também importa, em certa medida), sua inserção no ministério de Lula é importante: ela mantém, pelo menos por enquanto, o diálogo aberto entre petistas e setores do eleitorado anteriormente ligados aos tucanos, mas que não são hostis a um governo de esquerda moderado. Pode não ser uma aliança viável no longo prazo, mas vale a pena matá-la na origem?

Tebet pediu a Lula o ministério do Desenvolvimento Social, mas não o conseguiu. Queria a vitrine dos programas sociais, a área em que os governos do PT sempre souberam trabalhar. O PT não aceitou sua indicação justamente para não perder essa marca.

Não sei se qualquer dos dois tem razão: o Ministério do Desenvolvimento social até hoje não gerou nenhum presidenciável. O reconhecimento pelas políticas sociais sempre é do presidente.

Dos ministérios que, segundo o noticiário, ainda estão na mesa, destacam-se Planejamento e Cidades. Cidades é uma boa opção, com orçamento grande e visibilidade. Planejamento poderia ser uma oportunidade de reforçar a equipe econômica com nomes mais amigáveis ao mercado, o que talvez ajudasse a projetar Tebet.

Mas as chances disso dar certo dependeriam de que funções ficariam com o recém-recriado ministério do Planejamento e, é claro, de como seria a divisão de tarefas com Haddad.

Não sei qual será o resultado da negociação sobre o ministério de Tebet. Talvez não haja solução, e a Frente Ampla se dissolva depois de ter derrotado Bolsonaro, uma realização histórica gigantesca, como o Plano Real ou o Bolsa Família.

Se acontecer, não será o fim do mundo, mas será difícil não ter a sensação de que uma oportunidade importantíssima foi perdida.

 

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