O Globo
Há um admirável retorno aos valores
civilizatórios, mas erros como a demora na área ambiental e a hegemonia do PT
nos ministérios
O presidente Lula disse que prefere
cobranças à tapinha nas costas. Ótimo. Essa é a visão de um governante
democrático. Nas linhas seguintes haverá os dois. Elogios e cobranças. Há um
admirável retorno a valores civilizatórios em certas nomeações. Contudo, ao
contrário do que o presidente disse que faria, este é um governo do PT. O
hegemônico PT domina quase tudo. Os que foram para a campanha por considerar
que a união de forças era a forma de proteger a democracia foram tratados até
agora como “os outros”. Na área econômica há uma inquietante homogeneidade de
pensamento. Na área ambiental, muita demora. Na agricultura tenta-se a
conciliação com o inaceitável.
A decisão sobre o Ministério do Meio Ambiente ficou para a última semana. Isso contrasta com a crucial importância do tema. Tudo se encaminha para que Marina Silva volte ao trabalho que ela fez tão bem. Mas antes é preciso lembrar ao presidente que essa agenda é dele. Durante os seus governos, o desmatamento despencou. Seu primeiro ato, ao ser eleito, foi ir ao Egito e, diante do mundo, se comprometer com o desmatamento zero. Qualquer retrocesso será trágico.
Pareceu num determinado momento, como ouvi
de uma autoridade, que fritavam Marina usando Simone Tebet e depois diziam que
Simone faz exigências demais. Ambas têm valor e qualificação e nas
conversas com Lula na sexta esclareceram seus pontos de vista. Simone disse que
nunca reivindicou ministério algum. Que seu nome foi relacionado ao
Desenvolvimento Social porque ela coordenou essa área a pedido do
vice-presidente. Admitiu que chegou a pensar no Ministério da Educação pelo
valor que dá ao tema, mas na transição viu que havia muitas pessoas preparadas
para o cargo. Sobre o Meio Ambiente, para o qual foi sondada, deixou claro que
jamais o aceitaria se isso prejudicasse Marina.
Marina, por sua vez, lembrou na conversa
que a Autoridade Climática é órgão técnico, não é para ela. Os repórteres
Bianca Gomes e Manoel Ventura do O GLOBO ouviram de fontes do PT que a intenção
é reconduzir Marina ao Meio Ambiente. Simone foi sondada para alguns
ministérios. Não houve conversa sobre Planejamento, mas esse é o ponto em que
ela mais diverge do governo. Ela se cercou de liberais na campanha. O que houve
nos casos de Marina e de Simone? Conversa de menos, intrigas demais e as velhas
frituras.
Os integrantes da equipe econômica têm
qualidades profissionais relevantes, mas o ideal é que dentro da equipe
houvesse mais diversidade de pensamento econômico, especificamente sobre a
questão fiscal. O Orçamento tinha que ser refeito porque era um desastre, mas
fechou com uma previsão de déficit de R$ 231,5 bilhões. É hora de ligar o
alerta fiscal.
Um acerto notável - e aí vai um tapinha nas
costas - é o respeito à autonomia do Banco Central. Será um desafio para todos.
Haddad tem lembrado que essa é a primeira vez na nossa história em que um
ministro da Fazenda e o presidente da República não têm qualquer intimidade com
a autoridade monetária. E é mesmo. Roberto Campos Neto foi escolhido pela
identidade com o governo Bolsonaro. Só agora a autonomia do BC está sendo
testada.
Na Agricultura, o presidente Lula pensa em
nomear o ruralista Carlos Fávaro. Ele é relator de um dos piores projetos do
pacote da destruição, o PL da Grilagem, que torna mais fácil legalizar terras
públicas ocupadas criminosamente. Essa era a agenda de Bolsonaro. Será mantida?
O bom agronegócio precisa ser fortalecido para garantir a proteção ambiental, a
inserção no mundo e a balança comercial.
O governo Lula não tem a cara de frente
democrática, mas na quinta-feira ganhou as cores da diversidade. A escolha de
seis mulheres, de negros, de pessoas que indicam a recuperação de valores
universais merece elogios. No Ministério da Saúde a escolha técnica é uma
vitória. Foi nesse campo que perdemos quase 700 mil vidas. Nísia Trindade,
da Fiocruz, é a chance do recomeço. Anielle Franco, escolhida para a luta
antirracista, tem força simbólica e uma história de atuação social. Sílvio
Almeida é filósofo, jurista, que pode colocar a pasta dos Direitos Humanos no
rumo certo. O feminismo de Cida Gonçalves será um avanço após esse tempo de
ideias medievais. Margareth Menezes terá a oportunidade de refazer a política
cultural.
Como hoje é Natal termino iluminando a
esperança que esses nomes carregam. Feliz Natal!
Lendo hoje,o Natal foi ontem,rs.
ResponderExcluirO hegemônico PT ressuscita seus velhos zumbis pro "novo" ministério de Lula.
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