Valor Econômico
A primeira e mais importante é que o Brasil
não é mais o “país do futebol”
A Copa do Mundo que terminou domingo, com o
terceiro título mundial para a Argentina, trouxe algumas lições para o futebol
brasileiro.
A primeira e mais importante é que o Brasil
não é mais o “país do futebol”. Agora esse título está mais bem atribuído,
considerados os últimos desempenhos das seleções, a países como Argentina,
França, Croácia e até mesmo Marrocos.
A seleção brasileira, há 20 anos sem título
mundial, precisa ser repensada. Os grandes jogadores estão espalhados pelo
mundo. Por melhores que sejam individualmente, não conseguem adquirir o
entrosamento necessário para enfrentar as superpreparadas seleções europeias.
Quem viu as copas de 1958, 1962 e 1970, torneios em que o Brasil foi campeão, tem saudade das seleções que jogavam “por música”, formadas com a base de times brasileiros: Botafogo e Santos, por exemplo, eram o núcleo das duas primeiras copas ganhas pelo Brasil. Aos jogadores desses dois times se juntavam alguns craques de outras equipes.
Que tal se tivéssemos hoje um catado de
Palmeiras mais Flamengo, reforçado com Neymar, Vini Jr e alguns outros que
atuam no futebol europeu? Será que esse time cairia nas quartas de final?
Outra importante lição da Copa do Catar tem
a ver com a reposição de tempo perdido. As ceras, os atendimentos de jogadores
contundidos e outras perdas de tempo foram rigorosamente compensados no fim dos
45 minutos com acréscimos de até 15 minutos.
No Brasil, as compensações estão longe de
repor o tempo perdido. As interrupções por causa do cai-cai e das substituições
de jogadores, agora cinco por equipe, comprometem até a ética do futebol.
Viraram artifícios dos times que estão ganhando para assegurar a vitória.
Caídos no gramado, enquanto recebem atendimento, os simuladores parecem à beira
da morte. Levados de maca para fora do campo, rapidamente se recuperam e voltam
ao campo, com a complacência dos árbitros.
O cai-cai de Neymar já envergonhou o Brasil
na Copa de 2018, virou um meme internacional e felizmente não se repetiu agora.
Os próprios jogadores em campo reprimem com ênfase as simulações. Mas, no
Brasil, elas são aceitas regularmente pelos árbitros. Do nada, um jogador cai
no campo e a partida é interrompida.
No caso da perda de tempo com substituições,
o antídoto poderia ser copiado do futebol de salão, onde alterações de
jogadores só podem ser feitas com bola rolando. O quarto árbitro, que fica ao
lado do campo controlaria facilmente essas substituições sem interromper o
jogo.
Na Copa, a marcação do tempo perdido foi
certamente feita pelos árbitros do VAR. É até cruel exigir do árbitro de campo,
que precisa estar atento a tantos detalhes, um controle correto do relógio para
repor o tempo.
Uma lição para o VAR brasileiro foi a operação
desse sistema no Catar. Com novas tecnologias, as decisões foram tomadas em
segundos. Não há mais a hipótese da validação de um gol de mão como o feito por
Maradona e que deu a vitória à Argentina contra a Inglaterra na Copa do Mundo
do México. O episódio ficou conhecido como “La Mano de Dios”, frase dita por
Maradona ao explicar o lance após a partida. Também não há mais a hipótese de
um erro fatal como o ocorrido na Copa da Inglaterra, em 1966. Ingleses e
alemães disputavam a final, o jogo estava 2 a 2 quando o atacante Hurst, da
Inglaterra, chutou uma bola que tocou no travessão e no chão, mas não entrou. O
juiz deu o gol e a Inglaterra foi campeã mundial, vencendo por 4 a 2.
O VAR, porém, que tem sido usado para corrigir erros fatais como esses, poderia ser útil para impor mais ética no futebol brasileiro. E ajudar a conscientizar jogadores e torcedores de que atletas não podem ter comportamento falso para prejudicar os adversários.
Não assisti a copa.
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