Valor Econômico
Pensamento liberal tende a deixar a tarefa
do planejamento apenas para o mercado, que nem sempre direciona os recursos
públicos de acordo com os interesses públicos
Quando circulou a informação de que Lula,
presidente eleito, pretendia convidar Fernando Haddad para o Ministério da
Fazenda e Persio Arida para o do Planejamento parecia haver inversão de
posições. Normalmente, governos nomeiam ministros ortodoxos em matéria de
pensamento econômico para a Fazenda/ Finanças e heterodoxos para o Planejamento.
Não é o caso da dupla. Haddad é advogado,
mestre em economia e keynesiano, pouco ativista, é verdade, e marcado por uma
administração bem austera como prefeito de São Paulo de 2013 a 2016. Arida é
liberal e há dúvidas sobre sua crença em planejamento de Estado. A nomeação de
Haddad já foi confirmada. A grande notícia, porém, consequência do novo viés
ideológico do governo, deve ser essa volta do planejamento de Estado,
abandonado no governo Bolsonaro.
Na verdade, toda economia é planejada, como
diz o economista americano L. Randall Wray. A questão é que o pensamento
liberal tende a deixar essa tarefa apenas para o mercado, que nem sempre
direciona os recursos públicos de acordo com os interesses públicos.
O objetivo de qualquer governo sério é construir um Brasil rico, com educação para todos, crescimento de produção, oferta de empregos e, sobretudo, mais igualitário e que possa propiciar o bem-estar geral à população. Isso exige planejamento.
Nos quatro anos do governo Bolsonaro funcionou - ou deveria ter funcionado - o superministério da Economia, unificando Fazenda, Planejamento, Trabalho, Previdência e Indústria e Comércio. O “super” ficou só no apelido, porque o resultado foi um desastre. As secretarias especiais criadas para substituir cada uma das pastas unificadas não tinham status necessário para o comando de suas áreas.
Desde 2016, as discussões econômicas no
país se concentram no equilíbrio fiscal, controle de gastos e temas similares
importantes, mas já repetitivos e até enfadonhos. Vigorou nesse período o
pensamento liberal, segundo o qual a prosperidade econômica resulta da
liberdade individual para empreender sem as amarras impostas pela atuação
governamental. Caberia ao Estado apenas manter austeridade fiscal e contas
equilibradas. Isso estimularia investimentos, crescimento econômico e criação
de empregos.
A volta de um Ministério do Planejamento
engajado no debate sobre metas econômico-sociais marca a mudança desse
pensamento radical. O planejamento econômico de Estado vem sendo retomado em
muitos países depois que o receituário neoliberal levou ao baixo crescimento, à
concentração de renda e a seguidas crises globais.
O Ministério do Planejamento
tradicionalmente tem entre suas funções a elaboração do Orçamento, a gestão de
estatais e de pessoal e a definição de metas, programas para o futuro e
políticas públicas. Especula-se que o governo Lula atribuirá ao Planejamento
apenas a formulação de planos de curto prazo, deixando o longo prazo para a
Indústria e Comércio e outros ministérios.
Seja como for, importante é que o Estado
planejador está de volta. E a tarefa número um nessa área, na opinião de
economistas e empresários, será a definição de um plano de reindustrialização
do país. Em quatro décadas, a participação da indústria no PIB caiu de 27% para
11%.
Como fazer a reindustrialização é,
portanto, questão crucial para o novo planejamento. Algumas ideias são
consensuais. A transição para a economia verde, por exemplo, é oportunidade que
“caiu no colo do Brasil”, na expressão do economista Paulo Gala (FGV-SP), e
precisa ser aproveitada.
Grandes investimentos globais previstos
para essa área terão de ser atraídos para o Brasil, ao contrário do que fez o
governo Bolsonaro, que os repeliu. Com preguiça e ojeriza ideológica ao
planejamento, nenhuma política pública foi desenhada para o Brasil nessa área.
Reindustrializar não é recriar a velha
indústria, e sim traçar um plano de Estado, não de governo, para integrar o
país às cadeias globais de valor. A Embraer é um exemplo brasileiro de sucesso
nessa inserção, porque opera dentro da cadeia global, projeta e fabrica
aeronaves no Brasil, com peças locais e importadas, e as vende para o mundo.
Caberia aos novos planejadores, portanto,
em conjunto com lideranças empresariais, acadêmicas e da sociedade em geral, a
tarefa de promover essa integração global ou eventualmente, em alguns setores,
até fazer o “reshoring”, movimento no sentido contrário, de retorno das
empresas ao país de origem.
Duas crises globais recentes - a pandemia e
o colapso das cadeias produtivas provocado pela guerra na Ucrânia - expuseram a
dependência do país a produções industriais estrangeiras em áreas estratégicas.
Quando começou o conflito Rússia-Ucrânia,
ficou clara a dependência do agronegócio brasileiro de fornecedores externos de
fertilizantes nitrogenados, como Rússia e Belarus. É óbvia a necessidade da
criação de uma robusta indústria nacional de fertilizantes para que o
agronegócio brasileiro não se torne refém de fornecedores estrangeiros.
Na pandemia veio outro exemplo e já se
discute a necessidade da criação de um complexo industrial da saúde no país.
China, Índia e Coreia do Sul concentram 90% da produção mundial de insumos
farmacêuticos ativos (IFA), base para fabricação de vacinas e remédios. Por
isso e por incompetência governamental, a vacinação contra a covid-19 atrasou e
morreram centenas de milhares de brasileiros.
Golaço
Pensadores liberais do primeiro mundo
criticam a ideia do planejamento de Estado. Argumentam que nenhum economista ou
político pode prever o futuro a ponto de guiar a política industrial e outras
políticas públicas. Mas planejamento não se faz com bola de cristal. Faz-se com
a adaptação da indústria, por exemplo, a tendências e realidades já claramente
esboçadas no presente e com grande chance de se manterem no futuro próximo. É o
caso da economia verde, por exemplo.
Nas economias avançadas é possível que o
próprio mercado promova essa adaptação. Em países pobres, porém, o Estado tem a
obrigação de estimulá-la. É inaceitável que não haja no setor público pessoas
pensando o Brasil, como ocorre hoje, quando se discute unicamente equilíbrio
fiscal e taxa de juros.
Se os novos planejadores conseguirem apenas
colocar o país no caminho da reindustrialização, já terão marcado um golaço a
ser comemorado pelas próximas gerações.
O DESgoverno Bolsonaro foi um desastre! O ministério comandado pelo invertebrado Guedes apenas repetiu o que ocorreu no resto. O grande Planejamento era conseguir MAIS UM MANDATO pro GENOCIDA, a única preocupação constante durante os 4 anos de trevas que temos vivido! O miliciano mentiroso prometeu, na campanha de 2018, que não tentaria se reeleger, e isto foi a PRIMEIRA promessa que descumpriu, ao longo de todo o mandato! Bolsonaro é sinônimo de PINÓQUIO!
ResponderExcluir