quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Vera Magalhães - Governo amplo é seguro antiextremismo

O Globo

Mais inteligente seria Lula agregar tantos setores quanto possível a seu governo para conter golpistas

Na segunda semana de nomeações para seu terceiro governo, Lula segue nas bolas de segurança e na reafirmação, na economia, de que vem aí um remédio que o mercado terá de engolir, queira ou não. A ideia de que daria uma no cravo, outra na ferradura, compondo uma equipe econômica que mesclasse expoentes de um liberalismo não guediano ao nacional-desenvolvimentismo mais enraizado no PT, por ora, não se mostra nos nomes já escalados.

Ao bancar Aloizio Mercadante no BNDES, Lula reafirma o que escrevi neste espaço na semana passada: a intenção de não deixar na chuva os aliados dos tempos difíceis em que foi preso e em que o PT se viu atingido em cheio pela Lava-Jato.

Na entrevista em que confirmou a indicação do ex-ministro e ex-senador para o banco de fomento, Lula voltou a ironizar as reações do mercado financeiro à conformação que vai ganhando seu time econômico, mas será que dobrar a aposta logo de saída, num cenário tão conflagrado, é a melhor estratégia?

O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi mais habilidoso em sua primeira entrevista coletiva. Falou em somar visões de mundo, em previsibilidade e em parceria com o setor privado. Tudo em tom conciliador, deixando de lado o ar professoral por que muitas vezes é criticado.

O extremismo bolsonarista é uma ferida que purga sem sinal de que cicatrizará facilmente. O recado de Alexandre de Moraes de que os criminosos que praticam atentados contra a democracia serão “integralmente punidos” foi duro, mas a ele se sucederam, na mesma noite, mais atos de vandalismo e terrorismo doméstico.

Para que surta efeito e os golpistas voltem para casa, é preciso que haja uma perspectiva clara de que punição será essa, de onde ela partirá, em que tempo e com que dureza. Nos atos de vandalismo em Brasília na noite de segunda-feira, as forças de segurança demoraram a agir. Ninguém foi preso em flagrante. As Forças Armadas silenciaram.

Seria mais inteligente da parte de Lula compor com quantos mais setores da economia e da política puder para erguer uma barreira de contenção ao extremismo de direita que deu para incendiar carros em dias úteis, sem esconder a cara, sob o beneplácito do inquilino do Palácio da Alvorada.

Persio Arida, que chegou a compor o “quadrado” da transição econômica, pegou seu banquinho e saiu de mansinho quando se deu conta de que a opção de Lula seria mesmo por Haddad para a Fazenda.

Simone Tebet, que arregaçou a manga e vestiu vermelho na campanha, no dia seguinte à festa na Paulista já não era mais uma leoa aos olhos do petismo. Foi deserdada pelo MDB e ficou sem pai nem mãe à espera de algum ministério — desde que não seja na cota de seu partido nem a pasta do Bolsa Família, que parece ser do PT por direito divino.

Izolda Cela, transformada em símbolo da estigmatização da truculência de Ciro Gomes na campanha, já não serve para ser ministra da Educação. Lula até ofereceu o MEC a Camilo Santana, como a evidenciar que, no embate entre uma mulher não petista e um companheiro homem, não tem nem o que discutir.

É cedo para estreitar o entorno de um presidente que logrou o feito histórico de ser eleito para um terceiro mandato e superou o maior revés que um político pode enfrentar, a prisão, mas que chega a um governo incomparavelmente mais difícil que os anteriores.

Reconhecer a diferença do terreno em que pisa definirá o sucesso do governo, a começar pela constatação de que o Brasil é hoje um país conflagrado por um autocrata frustrado pela derrota, disposto a tudo para não ser preso e para voltar ao poder. Para uma jornada incerta como essa, afastar quem pode estar na trincheira é mais que imprudência, é temerário.

 

4 comentários:

  1. Izolda Cela,não conheço,vou procurar no Google.

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  2. Ninguém conhece...
    Só o dr. Google, e mal

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  3. Encontrei uma informação,malemá,eu só sei que existe mesmo.

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