O Globo
Haddad integra o núcleo duro da resistência
no momento mais crítico da vida e da carreira política de Lula
Os primeiros nomes a ser anunciados por
Lula para o ministério mostram que ele adotou um critério de precedência na
composição da equipe: quem chegou antes se senta na janela. A exceção, pautada
pela cautela a que já me referi em artigo anterior, é José Múcio na Defesa,
decisão a que o presidente chegou diante da necessidade de garantir um convívio
menos sujeito a solavancos com os militares depois da passagem de Jair
Bolsonaro pelo Planalto.
Fernando Haddad, com Gleisi Hoffmann e
outros petistas, integra o núcleo duro da resistência no momento mais crítico
da vida e da carreira política de Lula. O ex-prefeito de São Paulo teve uma
atitude de desprendimento, ao aceitar substituir o ex-presidente como candidato
em 2018, enquanto ele estava preso e inabilitado para concorrer, que poucos políticos
brasileiros teriam, dada a tendência atávica à autopreservação e o caráter
tênue da lealdade nesse meio.
A esse episódio se seguiram quatro anos em que Haddad foi um dos mais vocais expoentes do PT contra o bolsonarismo, por ele classificado desde sempre como um movimento de extrema direita de corte autocrático. Ele coroou o caminho sendo o petista mais bem-sucedido eleitoralmente no Estado de São Paulo, o que também ajudou Lula a obter a vitória apertada sobre Bolsonaro em outubro.
Nenhuma dessas credenciais é econômica, no
entanto. A escolha da pasta se deveu mais a um desejo pessoal de Haddad, que
não pretendia retornar à Educação depois de ser um dos mais longevos ocupantes
do MEC.
Lula resolveu pagar para ver diante da
desconfiança do mercado. A aprovação da PEC da Transição, de forma negociada e
com concessões da parte do futuro governo, deu a ele a segurança para antecipar
a indicação do nome, com a expectativa de que os agentes econômicos entendam
que o recado a respeito da moderação e da disposição ao diálogo está sendo
dado.
As escolhas de Flávio Dino para a Justiça e
de Rui Costa para a Casa Civil seguem o mesmo critério da lealdade aos que
estiveram juntos no tempo das vacas magras. O ex-governador do Maranhão é
reconhecido no meio jurídico e tem um sabido bom trânsito político, o que
assegurou seu lugar.
O governador da Bahia tinha um trunfo:
abriu mão de uma garantida corrida ao Senado em nome de uma aliança que
aumentasse ainda mais o poder de fogo de Lula na Bahia, estratégia altamente bem-sucedida.
A antecipação da decisão de que Gleisi, a mais aguerrida defensora de Lula e do
PT na tormenta da Lava-Jato e do impeachment de Dilma Rousseff, não seria
ministra assegurou o caminho do governador baiano para a coordenação do
governo. E deu a ela a possibilidade de, mantendo o comando do PT, continuar
brigando pelos interesses do partido na composição do primeiro escalão.
Uma vez anunciados os primeiros ministros,
a pergunta que fica é: qual será, afinal, o espaço da frente que foi ampla na
campanha e até aqui vai se estreitando diante da cobrança por premiar o maior
partido da coligação e os companheiros da travessia do deserto?
Quem até agora personifica essa contradição
entre o entusiasmo do palanque e as agruras da fritura pós-urnas é Simone
Tebet. Ela já foi “deserdada” pelo MDB, partido que, a despeito de ter acabado
de colocá-la como candidata a presidente da República, não acha que deva
garantir chancela para sua indicação. E, do lado do PT, enfrenta desconfiança
para assumir o Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, pasta
que, entre muitas, a sigla pleiteia para si.
O que Lula fará com Tebet será um emblema
importante de quanto a maleabilidade e a propensão ao diálogo que procurou
demonstrar com ações como a escolha de Múcio e a negociação da PEC da Transição
são mesmo propósitos firmes e de longo prazo.
PERIGO - Só lembrando:
ResponderExcluirO roubo das senhas de acesso do eSocial pela equipe bolsonarista do PGuedez foi adiado hoje de 11 para 19 de dezembro.
E o site 'eSocial' está INOPERANTE hoje.
Torcendo para Simone Tebet.
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