Folha de S. Paulo
Projeções de preços e juros para 2023 ficam
maiores; Banco Central sobe um pouco de tom
A estimativa de inflação para 12 meses
adiante tem subido desde o fim da eleição. Foi de 5,1% para 5,4%. A expectativa
para 2023 inteiro passou de 4,94% para 5,08%.
Parece um nada, mas:
1. o aperto monetário, alta de juros, vem
desde o começo de 2021, quando a Selic estava em 2% ao ano. Desde agosto deste
2022, está em 13,75%. A esta altura do sufoco, seria conveniente que as
expectativas estivessem em baixa. Otimistas esperavam até mesmo que o BC
antecipasse o início da redução dos juros, para antes do final do primeiro
semestre do ano que vem;
2. em vez disso, pioram também as expectativas
de juros para 2023. Até 17 de novembro passado, estimava-se que a Selic, a taxa
básica de juros, orientada pelo Banco Central, cairia para ainda horríveis
11,25% ao ano no final de 2023. Agora, baixa apenas para 11,75%.
3. desde a semana em que Luiz Inácio Lula da
Silva bateu boca com "o mercado" (um espantalho) sobre déficits e
dívida, faz um mês, a taxa de juros para um ano passou de 13,26% para a casa
dos 14% ao ano (13,92%, nesta quarta-feira);
O mais importante a reter aqui é que ocorre
uma piora
de expectativas quando se esperava um começo de alívio, o início de um
"círculo virtuoso", mudança de ânimos (e de juros e câmbio, claro)
capaz de até elevar confiança e projeções de crescimento para 2023.
Não aconteceu.
Nesta quarta-feira, o esquecido Banco
Central manteve a Selic em 13,7%, quase não alterou o comunicado em que
informa os motivos resumidos de sua decisão e prevê inflação voltando à meta
(3%) apenas depois do primeiro semestre de 2024. Além disso, reforça que o
caldo de juros e câmbio pode engrossar, a depender do que se fizer de déficits,
dívida e das regras para controlar as contas públicas. O pessimismo geral do
comunicado subiu meio tom.
Como sempre, note-se que nada dessas
projeções está escrito em pedra, muito ao contrário. Além do mais, as
estimativas andam dispersas (variam muito, a depender de quem dá o chute
informado).
Como se escreveu linhas acima, a mediana de
82 projeções de economistas do setor privado compiladas pelo BC até dia 2 de
dezembro dava uma Selic de 11,75% no final de 2023. A projeção dos economistas
do Itaú era de 11%. A do Bradesco, 11,75%. A do Credit Suisse, tido na praça
como mais pessimista, está espantosamente mais pessimista mesmo: Selic na
mesma, até o final de 2023, em 13,75%. Para os economistas do Credit Suisse, o
impulso econômico do gasto adicional e a incerteza sobre as novas regras
fiscais (um limitador qualquer de endividamento público), vão impedir a queda
da inflação no ano que vem (que estimam em 5,8%, ante 5% da projeção do Banco
Central).
Como se lê no comunicado do BC, a inflação
pode ser menor caso o preço das commodities em reais caia mais, se a economia
mundial andar mais devagar ainda do que ora se imagina e os cortes de impostos
de 2022 continuarem em 2023. Pode-se acrescentar: se a economia brasileira
também esfriar mais (e, assim também, a criação de empregos e a evolução dos
salários) _só será bom se for ruim.
Deve ser fácil perceber que juros mais
altos por mais tempo vão
frear mais a economia, tudo mais constante.
A expectativa de crescimento maior da dívida (por causa de despesa federal maior e mais gastos com juros, maiores por mais tempo) deve impedir a queda das taxas. O pacotão de R$ 169 bilhões de gasto adicional acertado entre Lula e Congresso não provocou piora adicional nos juros de mercado, mas não deve permitir baixa maior tão cedo. Também tão cedo não deve haver uma definição da tal nova regra fiscal. O jogo vai para uma prorrogação preocupante.
Lendo e aprendendo.
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