Folha de S. Paulo
Comando da economia causa incerteza, Banco
Central faz alerta sobre gasto do governo
No dia em que o governo Lula 3 anunciou
mais dois nomes importantes da economia, o Banco Central soltou
um documento de rotina, mas que conversa de modo implícito com as alternativas
de política econômica ora postas sobre a mesa pelo presidente eleito. Em vez de
promover mais crescimento, tais planos podem elevar inflação, dólar e juros.
O documento é a exposição de motivos da
decisão do BC a respeito da Selic, chamado de "Ata do Copom". Os
novos nomes na economia são Gabriel
Galípolo, que será o secretário-executivo de Fernando Haddad, e Aloizio
Mercadante, presidente do BNDES.
Embora tenha escrito que o cenário continue nebuloso, a direção do BC dedicou-se, de modo mais extenso do que de costume, a comentar o risco de aumentar gastos do governo, diretos ou por meio de estatais ("parafiscais"), e de tentar reduzir taxas de juros por meio de bancos públicos.
Mercadante, nomeado para o BNDES, foi
ministro de Dilma Rousseff (Ciência, Educação e Casa Civil) e
coordenou o programa de Lula 3. Quatro dias antes do segundo turno, o PT
publicou a "Carta para o Brasil do Amanhã", diretrizes sintéticas de
governo. Em termos econômicos, parecia com Lula 2 e Dilma 1, em especial no que
deu bem errado.
Galípolo é consultor, trabalhou com
projetos de interação público-privada em investimento e foi presidente do Banco
Fator. É a favor de regra forte de controle do endividamento público. Quanto ao
"parafiscal" e para resumir um assunto enrolado, acredita que, dada a
escassez de dinheiros públicos, o Tesouro Nacional e o BNDES, devem atuar mais
como garantidores e facilitadores de investimento privado. Em vez gastar, ficam
com parte do risco do negócio, de modo a atrair mais capital doméstico e
externo ("alavancar").
Lula 3 mostrou, até agora, que não está
preocupado com o efeito negativo do aumento de gasto público. Pode até ser que
Haddad não gaste o que o Congresso autorizar no pacotão da PEC; que proponha
logo uma regra fiscal (de contenção do aumento de déficit e dívida) que se
possa levar a sério. Por ora, para ser ameno, há "incerteza", como
diz o Banco Central.
Para os credores do governo e outros donos
de dinheiro, a nomeação de Mercadante para o BNDES sugere que a "Carta
para o Brasil do Amanhã" é para valer.
A direção do BC escreveu que o gasto do
governo pode afetar a inflação por meio de estímulo a consumo e investimento,
de seu efeito na taxa de câmbio ("dólar"), na incerteza, nas
expectativas de inflação e no nível da taxa de juros sustentável,
"neutra" (aquela que, em tese, evita que a economia esfrie ou esquente
além da conta).
Se o gasto aumenta quando desemprego e
ociosidade nas empresas são baixos, há inflação na veia. Se o gasto tende a
provocar um aumento acelerado da dívida pública, dólar e juros tendem a subir:
pode haver uma combinação de inflação com retranca de investimentos produtivos.
Juros subsidiados por bancos estatais (como o BNDES) podem obrigar o BC a
elevar a taxa básica de juros (Selic), a fim de
compensar o "desconto" dados nas taxas administradas pelo governo.
Em suma, sem folga econômica e confiança de
que a dívida não vai crescer sem limite, o tiro do gasto adicional sai pela
culatra. Em traços amplos, é uma descrição da interpretação de economistas
padrão sobre erros centrais de política econômica de Dilma Rousseff.
Até agora, credores do governo e donos do
dinheiro acham que Lula vai por aí. Está evidente na alta dos juros desde que
Lula, eleito, passou a falar de economia —não é preciso fazer pesquisa de
opinião. A continuar assim, a "incerteza" vai se tornar risco sério
de naufrágio.
É aquele paradoxo simples de resolver: se o mercado é contra eu sou a favor.
ResponderExcluirO Mercado tem olhos de águia para os seus próprios interesses, mas é CEGO para pobres e miseráveis!
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