quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Roberto DaMatta: Ano novo?

O Globo

O ano passou de 21 para 22, mas não conseguimos controlar as velhas, triviais e vergonhosas roubalheiras, o machismo, o feminicídio e a violência miliciana e policial. Ademais, aumentamos a taxa de racismo estrutural e estruturante, do “você sabe com quem está falando?” e, para completar, voltou a inflação, em paralelo a uma polarização que, demandando a exclusão do outro, é, em todo tempo e lugar, o timbre do reacionarismo fascista.

O calendário muda, mas o estilo aristocrático e elitista, antirrepublicano e autoritário, claro na Presidência e em todo lugar, permanece atrapalhando nossas vidas.

Num chavão, o “ano novo” realiza sua costumeira malandragem de mudar não mudando. Continuamos a pensar o tempo como calendário, imaginando que, quanto mais velhos, mais “adiantados” ficamos, quando, na verdade, o Brasil de hoje é uma infâmia de atrasos. É um país a caminho do suicídio moral.

Como falar num novo ano se o acontecimento básico deste tempo começa com uma campanha eleitoral que repete a anterior, negando o devir histórico?

É abominável ver a repetição da “luta” Lula-Bolsonaro, que, neste “novo ano” de 22, estão muito mais parecidos com criadores de autolorotas negacionistas — esse conceito dominante de um ano novo nascido velho. São nossos mais ávidos postulantes a “supremos magistrados da nação” — uma nação que precisa de muita água benta (e sanitária) para livrar-se de sua danação e que corre o risco de repetir-se no seu rito democrático mais importante. Reprisará na eleição sua sina de conjugar, segundo o oportunismo, burocracia-legal-processualística, compadrio regado a mandonismo elitista e carisma para dar e vender.

Luiz Carlos Azedo: Lula e Bolsonaro estreitam a possibilidade de 3ª via

Correio Braziliense

A unificação das forças de centro dependeria de um acordo entre seus candidatos ou de um deles atrair os eleitores dos demais, ou de um outro fato novo na política

A nove meses das eleições presidenciais, o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a resiliência da base eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, favorecido pelo exercício do poder, dominam o cenário pré-eleitoral. O campo da chamada terceira via existe no eleitorado, mas, até agora, não encontrou um candidato capaz de fulanizá-lo, como é da nossa tradição. Essa fragmentação reproduz o cenário do segundo turno de 2018, a não ser que surja algum fato novo.

A unificação das forças de centro dependeria de um acordo entre seus candidatos — Ciro Gomes (PDT), Sergio Moro (Podemos), João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (Cidadania) — ou de um deles atrair os eleitores dos demais. Sem isso, nada garante que Lula ou Bolsonaro possam ser deslocados do segundo turno. A polarização direita x esquerda é mais desejada por Bolsonaro. Lula se movimenta para atrair lideranças de centro e bloquear a chamada terceira via.

Há várias explicações para as dificuldades das forças de centro. Aproveito o Bicentenário da Independência para destacar uma delas: a trajetória das ideias liberais no Brasil. Quando D. Pedro I introduziu o direito à propriedade privada, na Constituição outorgada de 1824, esse instituto da ordem burguesa serviria de blindagem para o regime escravocrata, até a Abolição, em 1888. Enquanto o liberalismo na Europa ocorria num contexto de trabalho livre e de igualdade perante a lei, aqui no Brasil a ordem escravocrata predominante restringia seus benefícios, os “direitos iguais”, aos homens livres.

Bernardo Mello Franco: Curtindo as férias adoidado

O Globo

Há momentos que são capazes de resumir um mandato presidencial. O Brasil assistiu a um deles nos últimos dias de 2021. A Bahia registrou as piores enchentes em mais de três décadas. Enquanto o estado submergia, Jair Bolsonaro foi curtir férias no litoral catarinense.

A catástrofe deixou 26 mortos, 518 feridos e 93 mil desabrigados. Derrubou pontes, interditou rodovias, destruiu estoques de vacinas e medicamentos. Na semana passada, o presidente foi questionado sobre a longa estadia na praia. “Espero não ter que retornar antes”, respondeu.

Bolsonaro se esbaldou. Dançou funk, passeou de jet ski, visitou um parque de diversões. Antes do Natal, já havia passado seis dias no Guarujá. Fez um bate-volta em Brasília e retornou ao ócio remunerado em São Francisco do Sul.

No dia 31, o presidente convocou cadeia de rádio e TV para um pronunciamento à nação. Em seis minutos e meio de falatório, só dedicou duas frases aos “nossos irmãos da Bahia”.

Visitar locais de grandes tragédias é obrigação básica de qualquer governante. A presença da autoridade não devolve vidas perdidas, mas indica que os sobreviventes não estão sozinhos. É uma demonstração de respeito e empatia — duas mercadorias em falta no Planalto.

Elio Gaspari: Sem teatro, o FBI já pegou 700

O Globo

A Polícia Federal americana pescou os lambaris, falta o peixe gordo

Amanhã completa-se um ano da insurreição trumpista que pretendia melar o resultado da eleição de Joe Biden. Cinco dias depois da invasão do Capitólio, Steven M. D’Antuono, chefe do escritório de Washington do Federal Bureau of Investigation (FBI), avisou: “Nossos agentes vão bater na tua porta”. Até agora, bateram numas mil portas e prenderam ou indiciaram 724 pessoas de 45 estados americanos. Abriram 170 investigações e partiram da análise de 100 mil peças de comunicação digital. Sem lavajatismo, quase todo dia havia alguém sendo interrogado. O sujeito dizia que esteve no Capitólio por dez minutos, e o FBI mostrava, com vídeos, que ele esteve lá das 14h45 até por volta das 15h05, com um amigo que agarrou um policial e empurrou uma porta. Outro achou que passara despercebido, e o FBI bateu à sua porta em outubro, mostrando-lhe que esteve no Capitólio por pelo menos 17 minutos. Outros, que posaram ao lado de estátuas ou quadros, foram logo achados. Um discreto desordeiro que passou despercebido articulou um ataque a uma prisão. Seu cúmplice era um agente disfarçado.

Os agentes procuraram agulhas no palheiro, mas nunca dispuseram de tantos meios para achá-las. Exibicionistas incriminaram-se nas redes sociais. Além disso, o FBI rastreou os celulares que estavam ligados no Capitólio e na vizinhança durante as horas dos distúrbios. A isso somaram-se as câmeras dos policiais e pistas oferecidas por centenas de pessoas.

Bruno Boghossian: A serviço do presidente

Folha de S. Paulo

Audiência pública organizada às pressas serviu para mascarar sabotagem do presidente

O Ministério da Saúde mobilizou a máquina do governo para satisfazer os caprichos de Jair Bolsonaro. Na reta final de 2021, a pasta abriu uma consulta pública com perguntas feitas sob medida para confundir os pais e dificultar a vacinação de crianças contra a Covid. Nesta terça-feira (4), organizou uma audiência pública para espalhar desinformação sobre os imunizantes.

A operação foi montada a jato. Em 16 de dezembro, o corpo técnico da Anvisa autorizou o uso da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Naquela mesma noite, Bolsonaro atacou publicamente a decisão da agência: levantou riscos do imunizante e disse que divulgaria os nomes dos responsáveis pela análise. Dois dias depois, o Ministério da Saúde anunciou a tal consulta pública.

Hélio Schwartsman: Tempos sombrios na ciência

Folha de S. Paulo

Vivemos tempos epistemologicamente complicados

Paul Feyerabend é o Bakunin da filosofia da ciência. Se, nos anos 50, ele ainda era um bem-comportado discípulo de Karl Popper, nos 70 já defendia o anarquismo epistemológico. A palavra "anarquismo" aqui não é força de expressão. Para Feyerabend, não existem regras que caracterizem o método científico. Não há diferenças objetivas entre ciência, astrologia e entusiastas da dança da chuva. O que temos são só discursos com diferentes capacidades de impor-se. Para Feyerabend, a melhor forma de assegurar o avanço das ciências é deixar que elas interajam livremente com esses outros discursos, num deliciosamente anárquico vale-tudo.

É raro ver as ideias de Feyerabend saírem do ambiente de discussões puramente teóricas em departamentos de filosofia, mas, de vez em quando, isso ocorre. Vem ocorrendo nos últimos meses na politicamente correta Nova Zelândia. Uma comissão do governo propôs que o "matauranga maori", o conhecimento tradicional maori, fosse incluído no currículo escolar em pé de igualdade com a ciência "ocidental".

Mariliz Pereira Jorge: Este Brasil me obriga a beber

Folha de S. Paulo

Não será neste ano que conseguirei adotar o 'Dry January'

Uma moda que começa a ganhar o mundo, mas ainda não chegou por estas bandas, é a do "Dry January", ou janeiro seco. A ideia é cortar o álcool durante todo o mês. Eu havia lido sobre o assunto em veículos estrangeiros, mas este ano vi as reportagens se multiplicarem por aqui e o assunto aparecer, mesmo que timidamente, nas redes sociais. Talvez falte o incentivo financeiro para que influenciadores abracem a causa como fizeram com o "segunda sem carne", que irritou os pecuaristas. Mas isso é outro assunto.

Ao que consta, o "Dry January" começou em 2011, por meio de uma iniciativa individual. A britânica Emily Robinson se preparava para uma meia maratona e decidiu cortar a bebida alcoólica. O seu relato sobre os benefícios daquele período ganhou notoriedade por meio da ONG Alchool Change UK, que passou a promover uma campanha com o apoio do Departamento de Saúde Pública do Reino Unido.

Mais recentemente, virou moda nos Estados Unidos, onde 15% dos americanos afirmaram em pesquisa da YouGov que planejavam ficar sem beber no primeiro mês de 2022. É uma maneira saudável de começar o ano, uma espécie de detox coletivo depois de tantos exageros no Natal e Réveillon, sem falar dos quase dois anos da pandemia, que elevou o consumo de álcool no mundo todo.

José Nêumanne*: Bolsonaro e Lula no país dos absurdos

O Estado de S. Paulo.

Favoritos à reeleição aproveitam-se de erros crassos dos constituintes de 1988 e da ditadura dos partidos

Se as pesquisas de opinião estiverem fazendo previsões minimamente razoáveis, é muito provável que a disputa pela Presidência da República levará ao segundo turno a inevitável reeleição do petista Lula da Silva, condenado por corrupção nas instâncias iniciais do Judiciário, ou de seu inimigo preferencial, o capitão-terrorista Jair Bolsonaro. Ambos são caudatários da crença fanática de seguidores e da composição conveniente dos tribunais superiores, que jogaram no lixo inúmeras evidências da existência de uma prática sistêmica da corrupção das gestões sob comando de um partido soit-disant de trabalhadores. E de prosélitos que desconhecem o sentido dicionarizado da palavra mito (mentira) e não dão a mínima para promessas de campanha nunca realizadas pelo outro, como, por exemplo, o fim da reeleição.

Fernando Exman: Teto de gastos, vítima da polarização eleitoral

Valor Econômico

Âncora fiscal é alvo de ataques de aliados de Bolsonaro e Lula

A polarizada campanha eleitoral ainda nem pegou tração neste início de 2022 e já produziu uma potencial vítima colateral. O teto de gastos. A âncora fiscal lançada ao mar revolto em 2016, para reduzir as turbulências no mercado provocadas pela irresponsabilidade fiscal que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, tornou-se alvo de críticas dos grupos políticos que cercam os dois pré-candidatos que lideram as pesquisas - o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Uma parte da história é conhecida.

Instituído com a promulgação da Emenda Constitucional 95, proposta enviada pelo ex-presidente Michel Temer ao Legislativo com o objetivo de equilibrar as contas públicas, o teto de gastos já era visto naquela época como um rígido mecanismo de controle de despesas. O instrumento foi concebido para limitar por 20 anos os gastos públicos federais, que só poderiam crescer conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Estabeleceu-se que a inflação considerada para o cálculo seria a acumulada em 12 meses, até junho do ano anterior. E tal regime valeria para os orçamentos fiscal e da seguridade social, para todos os órgãos e todos os Poderes da República.

Daniel Rittner: Cinco eleições de 2022 para ficar muito atento

Valor Econômico

Pleitos de Hungria, EUA, França, Colômbia e China merecem ser acompanhados com especial atenção

Não é apenas por aqui, onde quase 150 milhões de brasileiros vão às urnas daqui a nove meses, que o futuro será jogado em 2022. Portugal, Filipinas, Coreia do Sul, Austrália, Suécia e Costa Rica terão eleições neste ano. Em cinco países, contudo, as próximas votações merecem ser acompanhadas com especial atenção. Seja pelas implicações para a democracia, seja pela densidade da relação política e econômica-comercial com o Brasil. Vamos a elas.

1) Hungria: abril ou maio. Enquanto antibolsonaristas não conseguem entrar em acordo nem mesmo sobre o dia certo de ir às ruas, a oposição húngara se uniu em uma candidatura única contra o extremista Viktor Orbán.

No poder desde 2010, o primeiro-ministro defende um “Estado iliberal” e já gabaritou a prova da direita radical: discurso anti-imigração, ataques à comunidade LGBT, controle da mídia, ampliação do tribunal constitucional e nomeação de novos juízes fiéis ao Executivo, transferência de universidades estatais para fundações ligadas a aliados de Orbán, mudança dos distritos eleitorais para favorecer o Fidesz (seu partido). Em vez de prender adversários e dissidentes, como outros autocratas, captura as instituições - característica dos golpes “cupim”, que corroem a democracia por dentro, não com tanques ou explosões.

Tiago Cavalcanti*: Por que as pessoas seguem na pobreza?

Valor Econômico

É importante desmontar as “armadilhas da pobreza”, evitando a dependência crônica das políticas públicas

Em artigo de 2007 publicado no Journal of Economic Perspectives, Abhijit Banerjee e Esther Duflo, vencedores do prêmio Nobel de Economia de 2019, investigaram de forma detalhada a vida de pessoas que vivem na extrema pobreza em um conjunto de 13 países.

Verificou-se serem indivíduos que vivem em famílias numerosas, gastando de 56 a 75% da renda com alimentação. Cerca de 10% dos gastos dessas famílias são com ritos sociais, a exemplo de casamentos e velórios, enquanto, em média, 10% dos gastos são com álcool ou cigarro. Tais famílias quase não investem em educação e dependem do Estado ou de organizações não governamentais para receberem algum tipo de investimento em capital humano.

Os adultos vivendo na extrema pobreza na grande maioria trabalham por conta própria ou são pequenos empreendedores operando em baixa escala e com quase nenhum ativo produtivo, a exemplo de terras e máquinas. São pessoas com pouca especialização, exercendo mais de uma atividade e com acesso restrito ao crédito.

De fato, um dos principais problemas em desenvolvimento econômico é entender a razão pela qual grande contingente de indivíduos permanecem em situações de extrema pobreza e em atividades de baixíssimo rendimento. Quais são as principais restrições e barreiras que evitam que essas pessoas saiam da pobreza? Entender isso é importante para definir políticas efetivas que possam melhorar a vida de quase 1 bilhão de habitantes do planeta. Principalmente, quando o orçamento dos governos para gastos sociais é limitado.

Memória 2 | Agosto de 2007: Declaração Final da Conferência Caio Prado Jr.{1}

Digo adeus à ilusão/ mas não ao mundo. /Mas não à vida, meu reduto e meu reino. / Do salário injusto, / da punição injusta, / da humilhação, da tortura, /do terror, / retiramos algo e com ele construímos um artefato/ um poema/ uma bandeira (Agosto de 1964, Ferreira Gullar)

A Conferência Caio Prado Jr reconhece que a atual situação brasileira está a exigir que se procure defender e introduzir valores e comportamentos, particularmente de sentido ético, capazes de provocar uma revolução na cultura política do país, na forma de exercer mandatos, na forma de ser governo e na forma deste se relacionar com a sociedade civil, e no trato correto da coisa pública. Que atue a partir de doutrinas e ideais democráticos e humanistas, e identificados com as lutas pela equidade social e de gênero, pela defesa do meio ambiente, pluralidade étnica e religiosa, diversidade sexual, paz mundial e convivência pacífica entre países e povos, não interferência de um país em questões internas de outros, e contra a exclusão, as desigualdades e todas as formas de discriminação social.

É que, apesar dos diversificados esforços de partidos, correntes e personalidades, existe no país um espaço público incomodamente vazio. Daí a CCPJ propor que se trabalhe para ocupá-lo com uma esquerda democrática, republicana, identificada com a contemporaneidade, radicalmente reformista, compromissada particularmente com os social, econômica e politicamente excluídos e que esteja ancorada no regime de liberdades sancionado pela Constituição de 1988.

Por isso, a fim de corresponder ao anseio por uma cidadania plena de direitos e responsabilidades, apoia a necessidade de se discutir a centralidade e universalidade da questão democrática e suas consequências para qualquer agenda política no Brasil, tendo em vista que todo nosso sistema de relações sociais é profundamente viciado por padrões autoritários, desde a família, a escola, as empresas, a própria administração pública e a atividade política, e constata que sem projeto e métodos claros e transparentes, o campo da esquerda pode chegar ao poder, mas não consegue promover a mudança, isto é, ser esquerda no poder.

Dentro dessa perspectiva, propõe que se construa uma força política que tenha condições de contribuir para modernizar o conjunto da esquerda, de resto necessariamente plural, e, mais ainda, de incidir positivamente sobre todo o sistema político. Desta forma, pretende concorrer para que a extrema e contraditória diversidade de interesses e opiniões, que nasce naturalmente num país tão complexo como o nosso, tenha como um dos seus canais privilegiados de expressão a “forma partido”, sem nenhum prejuízo do amplo e rico tecido de organizações que deve caracterizar toda sociedade dotada de vida cívica democrática.

Memória | Janeiro 1992: Manifesto de fundação do PPS*

"Aos seres humanos que, por nascimento ou opção, habitam terras brasileiras, o PPS dedica seus 70 anos de lutas, e todas as lutas futuras"

Há uma crise, no mundo e no Brasil, e todos podemos senti-la. Uma crise que solapa a esperança, que chega ao fundo dos corações, gerando frustrações, descrença e cinismo. Frente aos desafios destes novos tempos, seu compromisso de luta por uma sociedade mais justa e mais humana, o X Congresso do PCB oferece à sociedade brasileira um novo instrumento de luta, o Partido Popular Socialista - PPS.

Um Partido que, desde sua formação, é plural, aberto à participação de todos os que acreditam que é possível, a todos os seres humanos, viverem iguais e livres. Um Partido que, num mundo de mudanças, assume o compromisso central com a vida, entendendo-a como indissociável da natureza e da cultura. Um Partido, que quer contribuir para a construção de uma nova ética, em que o ser humano, sem nenhuma discriminação, seja protagonista e beneficiário das transformações sociais.

Um Partido novo, democrático, socialista, que se inspire na herança humanista, libertária e solidária dos movimentos sociais e das lutas dos trabalhadores em nosso país e em todo o mundo, prolongando hoje a luta que travamos desde 1922. Um Partido que não use o povo, mas seja um instrumento para que cada cidadão seja sujeito de sua própria história. Um Partido socialista, humanista e libertário, que tenha como prática a radicalidade democrática, que permita a cada ser humano exercer sua plena cidadania, na área em que reside e no planeta em que habita.

O que pensa a mídia: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Eleições, cidadania e ‘fake news’

O Estado de S. Paulo.

É notável o esforço da Justiça Eleitoral para enfrentar as ‘fake news’, mas são também evidentes as limitações de sua atuação. Cenário exige uma cidadania ainda mais responsável

Desde 2017, a Justiça Eleitoral promove iniciativas de combate às fake news sobre o processo eleitoral, de forma a reduzir os danos da desinformação sobre o livre exercício dos direitos políticos. No período, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realizou diversas campanhas informativas sobre as urnas eletrônicas.

De toda forma, por mais que se reconheça o esforço da Justiça Eleitoral no enfrentamento das fake news, são também evidentes as limitações de sua atuação. Criada pelo presidente do

TSE, ministro Luís Roberto Barroso, com o objetivo de aprimorar a fiscalização e auditoria do processo eleitoral, a Comissão de Fiscalização e Transparência das Eleições mostrou ser, no ano passado, insuficiente para alterar de forma substancial a dinâmica de notícias falsas nas redes sociais, mesmo em relação ao sistema eletrônico de votação. O trabalho da comissão foi e continua sendo importantíssimo, mas é inegavelmente limitado.

Outra importante medida de combate à desinformação foi a desmonetização de canais e páginas que propagam fake news, implementada em 2021 pelo então corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Luis Felipe Salomão. No entanto, a iniciativa não alcança, por exemplo, os aplicativos de mensagem Whatsapp e Telegram, por onde se difunde muita desinformação.

O cenário atual é desafiador. Não há mais espaço para o otimismo visto anos atrás, por ocasião de algumas medidas da Justiça Eleitoral no combate à desinformação nas redes sociais. Em 2018, após a instalação de grupos de trabalho e comitês sobre o tema, o então presidente do TSE, ministro Luiz Fux, anunciou que a Justiça eleitoral seria capaz de “remover imediatamente” as notícias falsas que se espalhassem pelo País. Segundo a promessa de Fux, a ação do TSE seria tão efetiva que “falar que pode haver fake news já é uma fake news”.

Poesia | Ferreira Gullar: Traduzir-se

Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.


Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.


Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.


Uma parte de mim

almoça e janta:

outra parte

se espanta.


Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se sabe de repente.


Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.


Traduzir uma parte

na outra parte

- que é uma questão

de vida ou morte -

será arte?