quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Míriam Leitão: Sem medo de Lula na economia

O Globo

Por Alvaro Gribel (Míriam Leitão está de férias)

Um ex-ministro liberal com passagem por várias administrações federais é taxativo: não há motivo para receios sobre a condução da economia em um eventual governo Lula. A visão é de que o ex-presidente tem uma compreensão prática sobre o tema e aprendeu que o maior prejudicado pelas crises fiscais é o próprio trabalhador, na ponta. “Lula sabe mais de economia do que muitos economistas. Se há descontrole fiscal, o dólar sobe, a inflação sobe, e o trabalhador perde. Isso é muito claro na cabeça dele”, afirmou o economista, que participou direta ou indiretamente de todos os governos do país nos últimos 15 anos, até a transição para Bolsonaro.

Ontem, pesquisa eleitoral da Genial/Quaest mostrou novamente Lula isolado na frente, vencendo em todos os cenários. No mercado financeiro, há uma busca por interlocutores que consigam decifrar o mistério da agenda econômica do candidato petista, que até agora deu poucos sinais dos caminhos que pretende seguir. Esse economista acredita que, se por um lado a pauta de privatizações deve sofrer um baque, por outro, o país ganhará com a estabilidade institucional, com reflexo sobre o dólar e os investimentos.

Luiz Carlos Azedo: Com muitos candidatos, “terceira via” é um fracasso anunciado

Correio Braziliense

Moro, Ciro, Doria e Tebet não parecem dispostos a um entendimento, embora, isoladamente, não consigam romper a polarização Lula (PT) x Bolsonaro (PL)

Cerca de dois anos e meio após o golpe de Estado de 1964, que destituiu o presidente João Goulart, o político que havia defendido aquela intervenção militar desde a eleição do presidente Getúlio Vargas, em 1950, o ex-governador da então Guanabara Carlos Lacerda fez uma surpreendente autocrítica e convocou seus antigos inimigos a se unirem contra os militares. Lançada em 28 de outubro de 1966, a Frente Ampla reuniria também os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, para restaurar a democracia.

Lacerda havia sido alijado do centro das decisões do governo do marechal Castelo Branco. Tentou, sem êxito, estruturar um novo partido, uma vez que a grande maioria da sua legenda, a União Democrática Nacional (UDN), principal base de apoio do governo no Congresso, ingressou no novo partido situacionista, a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Os deputados da Guanabara fiéis à orientação de Lacerda, entretanto, ingressaram no oposicionista Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em julho de 1966. As negociações de Lacerda com Juscelino, cassado em junho de 1964 e exilado em Lisboa, avançaram com relativa facilidade, pois ambos haviam apoiado o golpe de Estado; porém, com o ex-presidente Goulart, foram mais difíceis.

A tensão entre os militares e os principais líderes políticos que apoiaram o golpe crescia. Em 3 de outubro, o Congresso elegera o marechal Artur da Costa e Silva à Presidência da República, que, nove dias depois, cassaria os mandatos de seis parlamentares, entre eles Doutel de Andrade, um dos articuladores da Frente Ampla. O arenista Adauto Lúcio Cardoso, presidente da Câmara dos Deputados, reagiu, afirmando que a decisão sobre as cassações de mandatos era competência da Câmara. Em resposta, no dia 21, o governo prendeu Doutel e fechou o Congresso.

A Frente Ampla foi finalmente lançada por Lacerda, em 28 de outubro de 1966, por meio de um manifesto dirigido ao povo brasileiro e publicado no jornal carioca Tribuna da Imprensa. Em 19 de novembro de 1966, na Declaração de Lisboa, Lacerda e Kubitschek anunciaram que suas divergências estavam superadas e integrariam uma frente ampla de oposição ao regime. Dez meses depois, Lacerda firmou, em Montevidéu, uma nota conjunta com Goulart, na qual a Frente Ampla era caracterizada como um “instrumento capaz de atender… ao anseio popular pela restauração das liberdades públicas e individuais”.

Comícios foram realizados em São Paulo (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul), em dezembro de 1967, e no Paraná (Londrina e Maringá), no início de abril de 1968. Simultaneamente, houve grandes manifestações estudantis em todo o país, em protesto contra a violência policial que, em fins de março, no Rio de Janeiro, resultara na morte do estudante Edson Luís de Lima Souto. As atividades da Frente Ampla, porém, foram proibidas, em 5 de abril, por intermédio da Portaria nº 117 do Ministério da Justiça. Em 13 de dezembro, com a edição do Ato Institucional nº 5, houve o definitivo fechamento do regime.

Maria Hermínia Tavares*: Motivos de otimismo no Brasil de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

As instituições e as práticas da democracia se impuseram à gana autoritária do ex-capitão

Por onde quer que se olhe, o dano causado pelo governo Bolsonaro é incalculável: na educação, na cultura, no meio ambiente, na ciência, na saúde, na gestão da economia.

Sem rumo nem compromisso com o país, o presidente é responsável pela destruição de capacidades estatais indispensáveis a qualquer gestão passavelmente funcional. Sem falar na inédita degradação da vida pública, na consagração da grosseria, do palavrão e da truculência como instrumento político.
Depois da enésima manifestação de indiferença à dor alheia, seja ela causada pela pandemia, seja pelas enchentes, mais um ano de mandato parece a proverbial eternidade.

Ainda assim, há motivos para cauteloso otimismo. Até aqui, bem feitas as contas, as instituições e as práticas da democracia se impuseram à gana autoritária do ex-capitão. O consociativo sistema democrático brasileiro, como o denominam os cientistas políticos, tem no seu DNA vigorosos freios e contrapesos aos recursos de poder do Executivo federal.

Postos à prova, têm se mostrado aptos a exercê-los: o Congresso tirou o fôlego das pretensões mais ameaçadoras do Planalto; o Supremo Tribunal Federal bloqueou outras; na Federação revigorada, governadores e prefeitos exerceram sua autonomia para cuidar das vítimas da pandemia e assegurar a vacinação dos cidadãos ainda sadios, a despeito da sabotagem empreendida pelo Ministério da Saúde, sob o comando do presidente.

Vinicius Torres Freire: Ano de inflação menor, mas ainda ruim

Folha de S. Paulo

Custo atual das coisas vai ficar nas alturas, mesmo com diminuição do ritmo do aumento geral de preços

inflação mundial e brasileira deve baixar neste ano. Pelo menos, era essa a expectativa em fins de 2021. Ainda é, na verdade, embora o gato tenha subido um degrau e ora dê uma olhada na direção do telhado.

No segundo degrau do gato da carestia pode aparecer o efeito da variante ômicron nos preços. Ali ou acolá, a nova onda da epidemia fecha fábricas e congestiona portos, como na China, que tem tolerância zero com o vírus.

Não são "lockdowns" grandes ou duradouros, nem na verdade há um levantamento sistemático do problema, apenas "evidência anedótica". Mas é preciso lembrar que um dos motivos da inflação mundial foi a escassez de produção, como no caso já folclórico dos chips, e de transportes transoceânicos.

Antes de continuar e para ser mais preciso: a taxa de inflação, o ritmo do aumento geral de preços, deve ser menor, aqui e alhures, mas o nível de preços, o custo atual das coisas, vai ficar nas alturas sufocantes. Pior ainda no Brasil, pois os salários não devem aumentar neste 2022. Não devem recuperar o terreno perdido para a inflação nos próximos dois ou três anos (isso se tudo der certo).

Bruno Boghossian: O arsenal do capitão

Folha de S. Paulo

Com desempenho anêmico nas pesquisas e poucas realizações, presidente repete plataforma envelhecida

Jair Bolsonaro buscou um arsenal sucateado para tentar reerguer sua candidatura à reeleição. Em menos de 24 horas, o presidente voltou a procurar briga com ministros do STF, fugiu da responsabilidade por problemas na economia, renovou sua estratégia de propagação intencional da Covid e reciclou falsas suspeitas de interferência nas eleições.

Com desempenho anêmico nas pesquisas, poucas realizações e um cenário econômico que deve dificultar sua vida, Bolsonaro mostrou que tem poucas armas para a campanha. Uma delas já é clássica: culpar outras autoridades e até a população pelos problemas que ele deveria resolver.

No dia em que a Petrobras aumentou o diesel e a gasolina pela primeira vez em 2022, Bolsonaro voltou a insinuar que a responsabilidade era dos governadores. Sobre a inflação, ele mirou aqueles que respeitaram medidas de restrição para limitar a morte em massa de brasileiros. "O cara ficou em casa, apoiou e agora quer me culpar pela inflação", disse.

Ruy Castro: O covarde Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Olha, não sou eu, mas estão dizendo que tem coisa em tudo que ele faz pelas costas da nação

Espumar insinuações sem provas pelo canto da boca e, ao levar uma resposta, recuar, fingir-se de ofendido e se desmentir é uma tática de covarde. Desfilar tanques do Exército para ameaçar as instituições e, diante do fiasco que lhe poderia custar o mandato, pedir a alguém que lhe escreva uma carta de retratação também denuncia o covarde. Fazer-se de macho para meia dúzia de beócios no cercadinho, insultar mulheres repórteres e cercar-se de esbirros, gente dada a violências físicas, igualmente é de covarde.

Jair Bolsonaro não é só o pior presidente da história do Brasil democrático. É também o mais covarde. Sua tática de falar que "ficou sabendo", "ouviu dizer" e "estão dizendo que tem coisa", sem se assumir como quem acredita naquela informação, é de covarde. E sua campanha contra a vacina nunca é feita com afirmativas tipo "A vacina faz mal!" ou "Não se vacinem!". Esconde-se em perguntas que induzem à dúvida e ao medo, como "Quem garante que não vai fazer mal?" ou "Quem se responsabiliza?". Coisa de covarde.

Carlos Melo*: Um semáforo para Lula

Valor Econômico

O petista se abrirá para projeto moderno e consensual?

Em tempos turbulentos, previsões políticas terminam na inclemência das redes. Principalmente no Brasil, um período de nove meses pressupõe uma eternidade: tudo pode mudar, mudar novamente e mais uma vez. É o país dos fatos novos e do assombro permanente. A experiência recomenda observar apenas, mas a ansiedade exige especular sobre a eleição em outubro, o que só é possível com os dados disponíveis hoje. Assim, os olhos de janeiro se voltam para Luiz Inácio Lula da Silva.

A dinâmica política o tem favorecido: a adesão de Geraldo Alckmin, a estagnação de Sergio Moro, o ambiente kafkiano gerado por Jair Bolsonaro, tudo o beneficia. Paradoxalmente, dá vazão a conhecidos traços do PT: disputas internas, hegemonismo, esquerdismo atávico e o apego a antigos modelos de desenvolvimento tomam o centro do debate e despertam temores em agentes políticos e econômicos.

Uma estratégia “winner takes all” seria de um erro colossal. Vencer a eleição num ambiente de barbárie pode ser mais fácil que governar. As circunstâncias de 2023 diferenciam-se de 2003; distribuir recursos, lotear ministério em troca da governabilidade - em certa medida, inevitável - não bastará. Mais complexo será estabelecer diagnósticos plausíveis, construir pontes, negociar agenda clara, factível e moderna; ampliar apoios de natureza programática.

William Waack : Melhor um dentista

O Estado de S. Paulo.

Candidatos esperam de economistas a fórmula que não existe sobre decisões políticas

É grande a preocupação com as escolhas que os candidatos em 2022 fazem de seus economistas. É uma ciência social capaz de alterar a realidade que ela estuda, mas essa escolha de nomes diz pouco como será o governo.

Dois erros são recorrentes quando se tenta “avaliar” o candidato a partir da escolha de seus economistas. O primeiro é esperar que políticos sigam os conselhos “técnicos” dos economistas. O segundo é acreditar que a ciência econômica tenha respostas para os problemas que cabe à política resolver.

Políticos tratam de fazer o eleitorado acreditar que é possível ter um bolo e comê-lo ao mesmo tempo. Tal como a política, porém, a economia é uma atividade de persuasão, e qualquer plano econômico precisa de legitimidade política – daí o fato generalizado de economistas se alinharem a políticos, e não o contrário (Paulo Guedes é apenas o mais recente exemplo disso).

Na relação entre economia e política, sempre submetida ao mais curto prazo eleitoral, economistas tendem a pronunciar baixinho as verdades inconvenientes e bem alto as certezas das quais não estão tão seguros assim. Avançou muito o conhecimento empírico em economia, mas continua fluida a fronteira entre “consenso profissional” e a simples conjectura, influenciada por crenças políticas.

José Serra*: Lições da pandemia

O Estado de S. Paulo.

A principal se refere ao sistema institucional que resistiu às ameaças de golpe contra a Constituição e a democracia

Pouco adianta nos queixarmos sobre o muito que perdemos nos últimos três anos, quando podemos felicitar-nos pelo que aprendemos enfrentando a crise de governo. Foi esta crise política que cerceou a capacidade de resposta do sistema de combate à pandemia, que, por sua vez, repercutiu negativamente sobre a estabilidade e o crescimento da economia.

A principal lição diz respeito à resiliência de nosso sistema institucional que, com todas suas deficiências, resistiu às seguidas ameaças de golpe contra a Constituição e a democracia representativa. A despeito da prevalência das desigualdades, apesar das discriminações e da disseminação do ódio, as tentativas de supressão das liberdades fundamentais foram rechaçadas, como foi o caso dos ataques ao voto secreto e à vigência da Constituição.

Outra lição foi a manifestação da capacidade dos brasileiros para impor a adoção de uma ampla cobertura vacinal, apesar de todos os obstáculos e omissões do Executivo federal. O movimento nacional em defesa de medidas de proteção contra a disseminação da covid-19, fortalecido e legitimado pelo Sistema Judiciário e apoiado nas prerrogativas da federação, foi vitorioso, e o desempenho da sociedade brasileira é hoje exemplo para o mundo.

Eugênio Bucci*: O capitalismo da ausência

O Estado de S. Paulo.

Nunca a ausência física do explorado foi uma solução tão lucrativa. O pobre ‘usuário’ é ao mesmo tempo mão de obra e matéria-prima

No dia 3 de janeiro, a Apple se tornou a primeira empresa da história a alcançar o preço de US$ 3 trilhões. A cifra equivale, em números aproximados, ao dobro do PIB brasileiro. É dinheiro – e é dinheiro que não para de crescer. Em um intervalo de 16 meses, o valor da Apple subiu 50%, passando de US$ 2 trilhões para US$ 3 trilhões. A escalada não deixa mais dúvidas sobre o fato de que o centro do capitalismo está nas chamadas big techs, as gigantes de alta tecnologia que têm uma incomparável capacidade de inovação.

Em julho do ano passado, as cinco maiores big techs (Apple, Google, Amazon, Microsoft e Facebook, que foi renomeada recentemente como Meta) bateram, juntas, o preço de US$ 9,3 trilhões. Agora, valem mais.

Durante a pandemia, com as medidas sanitárias de isolamento, as cinco foram às alturas. Eram as companhias mais preparadas para lucrar com o que se começou a chamar de “trabalho remoto”, e também com o e-commerce, com o e-governe com o home office. Suas ferramentas se tornaram imprescindíveis.

Adriana Fernandes: Debate eleitoral na economia

O Estado de S. Paulo.

Seria saudável que os candidatos fizessem um acordo mínimo para rever o regime fiscal

O contraponto criado entre os que defendem a manutenção ou o fim do teto de gastos expressa uma falsa e inadequada dicotomia que ameaça pautar o debate da sucessão presidencial de 2022. A discussão não pode ficar sobre escolhas entre preto ou branco.

A regra que cria um limite atrelado à inflação para o crescimento da despesa do governo teve um efeito positivo sobre as expectativas do mercado há cinco anos, quando foi adotado como fórmula de sinalizar um compromisso com o equilíbrio fiscal, mas desde então tem se demonstrado inexequível e ineficiente do ponto de vista de seus objetivos. Estimulando uma nova onda de contabilidade criativa como sucessivas reportagens deste jornal vêm mostrando.

Cristovam Buarque*: Plano C

Correio Braziliense

No artigo “Plano B”, neste jornal, Luiz Carlos Azedo, contesta a ideia de que Bolsonaro está fragilizado: sem votos e sem apoio militar. Seu artigo provoca imaginar um “Plano C”, para eleger Bolsonaro, graças ao voto nulo por rejeição ao PT.

Impossível prever, mas tudo indica que nenhum dos candidatos da “terceira via” vai ter votos para chegar ao segundo turno, seja porque não se unem, devido às divergências, seja por nenhum deles ter votação maior que Lula ou Bolsonaro.

 O primeiro turno terá uma campanha tão radicalizada no mantra “nem Lula nem Bolsonaro”, que muitos dos atuais candidatos a presidente serão levados a votar em Bolsonaro: coerência com os discursos contra Lula, porque são mais antipetismo que antifascismo, ou porque suas bases estão mais próximas do ex-capitão do que do ex-operário.

Nas três semanas entre os dois turnos, milícias estarão nas ruas, as tropas prontas nos quartéis e as mídias sociais repercutindo a fala dos candidatos para ampliar a rejeição a Lula.

Ricardo José de Azevedo Marinho*: As coisas que perdemos no fogo da Nossa parte de noite

A realidade pode conter o macabro e o perturbador e As coisas que perdemos no fogo (2016 lá e 2017 aqui pela Intrínseca), a coletânea de contos da escritora argentina Mariana Enríquez, faz isso com maestria mobilizando o medo e o terror cotidiano que vem das profundezas históricas de seu país (e não só) e deságua no cenário do governo de Mauricio Macri (2015-2019). Em um olhar de relance, as doze narrativas da escritora argentina poderiam parecer surreais para os leitores brasileiros. Entretanto, elas se mostram com uma familiaridade estonteante e o cotidiano se transforma em pesadelo.

Personagens e lugares comuns não ocultam um universo insólito e comum de argentinos e brasileiros e tal como ocorreu com o apagão de 2001 lá e cá e que fez desnudar a luz do dia que a crise energética que vivenciamos era o resultado de opções históricas equivocadas de nossas ditaduras, que não planejaram a expansão e a diversificação do sistema elétrico.

São esses os elementos junto com os da pandemia e não arroubos revogatórios que devem nos informar na leitura atenta do Decreto argentino nº 389, de 16 de junho de 2021 que dá nova redação ao artigo 4 e os apenas derrogados artigos 6, 8, 9, 10 e 11 do Decreto nº 882, de 31 de outubro de 2017, reposicionando a política anterior pró-mercado dos ativos energéticos agora considerados estratégicos.

O que pensa a mídia: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Bolsonaro nada faz contra mais um onda da covid-19

Valor Econômico

Nenhum poder da República se mostrou capaz de fazer Bolsonaro cumprir as determinações constitucionais que exigem a proteção ao direito à vida e à saúde dos brasileiros

A quinta variante da covid-19, a ômicron, é a recordista em propagação e em furar o bloqueio das vacinas. Três milhões de pessoas foram infectadas por dia no mundo, um recorde até agora, e a curva de casos no Brasil, onde a ômicron já é predominante, apontou para cima de novo. A experiência acumulada na pandemia é suficiente para enfrentar um vírus de menor taxa de letalidade, mas não para deter a nova corrida aos hospitais e postos de saúde que, por sua vez, começam a ficar gravemente desfalcados pela contaminação de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio. Já o presidente Jair Bolsonaro, 620 mil mortes depois, segue preocupado com seus fantasmas particulares - até mesmo uma farsesca supernotificação de casos de covid-19 - enquanto o Ministério da Saúde vive apagão de dados há um mês.

A nova onda da covid-19 pode ser um problema eleitoral para Bolsonaro - que só pensa nisso. A primeira reação do presidente, no entanto, não é tomar providências e enfrentar da melhor maneira possível o vírus, mas criticar as soluções disponíveis, que mostraram eficácia. Foi assim desde o começo, quando a “gripezinha” vislumbrada pelo presidente se transformou em uma hecatombe, com o país exibindo o segundo maior número de mortes do mundo. Mas as mortes, o desenvolvimento de vacinas em tempo recorde e o enorme e dedicado esforço das redes públicas e privadas de saúde nada significaram para Bolsonaro, que se supera em demonstrar quanto sua ignorância pode ser destrutiva.

Quanto mais os problemas se avolumam e, com eles, a possibilidade dele ser ejetado da Presidência em outubro, mais Bolsonaro se agita em ataques paranóicos. Em entrevista à Jovem Pan, advertiu que “já vejo ensaio de governadores querendo fechar tudo novamente”, provavelmente em alusão às medidas preventivas necessárias contra aglomerações no carnaval que começam a ser tomadas. O presidente disse que se isso ocorrer haverá uma “rebelião”, sem que haja “Forças Armadas suficientes para a garantia da ordem”.