O Estado de S. Paulo.
Há quem acredite saber exatamente ‘o que
fazer’ e se dedique a convencer os demais a acreditar nisso em busca do poder
Começamos muito mal esta terceira década do
século 21. É assustador imaginar os desdobramentos desta crise, que transcende
em muito a questão ucraniana. Os horrores da guerra, o sofrimento causado ao
povo da Ucrânia, terão consequências globais, geopolíticas e econômico-sociais
que se projetarão por anos. As incertezas, os riscos e a volatilidade, que já
não eram pequenos, acentuaram-se sobremaneira com os choques de oferta, as
fortes pressões inflacionárias e a inevitável redução da taxa de crescimento global.
“É assustador imaginar que não sabemos
algo, mas mais assustador ainda é imaginar que, em geral, o mundo é dirigido
por pessoas que acreditam saber exatamente o que está acontecendo.” A frase de
Amos Tversky poderia ser estendida para incluir as pessoas que acreditam saber
exatamente o que fazer; e dedicam-se a convencer os demais a acreditar nisso –
como forma de chegar ao poder, nele continuar ou a ele voltar.
Bolsonaro já está no poder e nele pretende continuar, para o que precisa obter 50% + 1 dos votos válidos nas próximas eleições. Conta, para tanto, com o relato de seus feitos neste primeiro mandato, turbinando a narrativa com o uso de sua ampla militância digital nas redes sociais. Conta, também, com os instrumentos do poder – a prerrogativa de nomear, demitir, cooptar, ameaçar, prometer e distribuir benesses. Esse poder do incumbente não deve ser subestimado, principalmente quando se está disposto a fazer o que for necessário, custe o que custar, para alcançar o objetivo de mais um mandato. Pouco importa que outros não concordem, desde que representem menos de 50% dos votos válidos. Se forem mais, é sempre possível alegar fraude; o modelo Trump vem sendo seguido à risca, desde 2016.