quarta-feira, 30 de março de 2022

Vera Magalhães: Os liberais e o flerte fatal com Bolsonaro

O Globo

A esta altura do campeonato, depois de duas intervenções na Petrobras, do casamento em comunhão de bens com o Centrão e do lançamento da versão turbo do Bolsa Família como única forma de retomar a popularidade, os que se iludiram com a versão “liberal” de Jair Bolsonaro vendida em 2018 deveriam estar se perguntando como caíram em tamanha cascata.

Já era difícil engolir a fraude para quem minimamente acompanhou a carreira parlamentar de Bolsonaro e dos filhos, mas muitos se valeram da presença de Paulo Guedes como um Cavalo de Troia na campanha, depois no governo, para validar a crença no impossível.

Pois bem, agora que não é mais possível acreditar nessa história da carochinha, qual seria a justificativa de setores do mercado para um apoio à reeleição do presidente?

Em entrevista na última segunda-feira ao “Roda viva”, o primeiro dos presidentes da Petrobras defenestrados por Bolsonaro, Roberto Castello Branco, fez um mea-culpa por ter embarcado nessa ilusão liberal. Disse ter acreditado que, por ser “pouco dotado de conhecimento”, o presidente deixaria Guedes conduzir a economia conforme vendeu na campanha.

Bernardo Mello Franco: Bolsonaro avisou

O Globo

Jair Bolsonaro declarou que botaria a “cara no fogo” pelo ministro da Educação. Quatro dias depois, decidiu rifá-lo do governo. O pastor Milton Ribeiro não caiu por defeitos novos. Sua demissão é uma tentativa de aliviar as queimaduras na imagem presidencial.

As denúncias no MEC chamuscaram um dos pilares do discurso bolsonarista: a mentira de que o governo é imune à corrupção. O escândalo começou com suspeitas de tráfico de influência. Em poucos dias, descobriu-se a existência de um balcão de negócios na pasta.

Dois pastores ligados ao ministro foram acusados de cobrar propina para agilizar a liberação de recursos. Um prefeito contou que o pedágio podia ser pago com um quilo de ouro (cerca de R$ 300 mil na cotação atual).

A revelação das negociatas deu início a um festival de hipocrisia. A bancada evangélica, que indicou o ministro, passou a exigir sua cabeça. O pastor Silas Malafaia, que orava de mãos dadas com Eduardo Cunha, fez discurso indignado contra a corrupção.

Elio Gaspari: Sete ministros de Bolsonaro

O Globo / Folha de S. Paulo

Em três anos de governo, Jair Bolsonaro empossou sete ministros na Educação e na Saúde. Esse desfile seguiu um padrão. Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, na Saúde, respeitaram os critérios de competência profissional e acabaram fritos. Os demais atolaram na inépcia e no destrambelho: Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, na Saúde; Ricardo Vélez, Abraham Weintraub e Milton Ribeiro, na Educação.

Ribeiro revelou-se um campeão. De um lado, ganha um fim de semana num garimpo ilegal quem for capaz de apontar uma só iniciativa competente que ele tenha patrocinado no MEC. Não mexeu em malfeitorias passadas e meteu-se com pastores das sombras que pediam capilés para tramitar processos junto ao benevolente Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O ministério que já foi ocupado por Gustavo Capanema, Darcy Ribeiro e Ney Braga acabou nas mãos de um pastor que patrocinava colegas que enfiavam fotografias suas em exemplares da Bíblia. Coisa de deslumbrado.

Existem traficâncias federais, estaduais e municipais, Ribeiro meteu-se em malfeitorias municipais. Os dois pastores que o orientavam levavam prefeitos ao ministério, acompanhavam processos para a construção de escolas ou creches e mordiam os alcaides. Num caso, com pedido de um quilo de ouro, segundo a vítima.

Luiz Carlos Azedo: Bolsonaro pauta privatização da Petrobras nas eleições

Correio Braziliense

A demissão de Luna não agradou aos militares, mas a escolha de Pires foi muito bem recebida pelo no mercado, quando nada porque defende a privatização da empresa

O principal ícone do nosso nacional-desenvolvimentismo é a Petrobras. Nasceu a partir de uma grande mobilização popular, na qual o debate sobre a industrialização do país, que já ocorria desde a Primeira República, passou a ter centralidade na intervenção do Estado na economia. O Congresso formado em 1945, após a redemocratização, na nova Constituição, admitiu a participação de capitais privados estrangeiros, desde que integrados em empresas constituídas no Brasil. Dois anos depois, quando o presidente Eurico Dutra tentou aprovar o novo Estatuto do Petróleo, deu-se a confusão.

O projeto de Dutra concluía que o Brasil não tinha condições de nacionalizar a produção de petróleo, por falta de jazidas, recursos e gente qualificada. A reação foi generalizada, a começar pelo Clube Militar, que liderou a criação do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo. Com o slogan “O petróleo é nosso”, a partir de 1948, a Campanha do Petróleo ganhou corações e mentes, com a tese de que era necessário o monopólio estatal em todas as fases da exploração.

Fernando Exman: Disputa por poder dita triste destino do MEC

Valor Econômico

Bolsonaro apresenta resultados pífios na área da educação

A escolha do novo titular do Ministério da Educação tornou-se termômetro da correlação das forças políticas que integram o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Pressionado e com mais um escândalo de corrupção para explicar, ele tem agora que escolher entre prestigiar - ou contrariar - a bancada evangélica, o Centrão ou integrantes da ala militar. Há soluções que podem até conciliar os interesses desses grupos temporariamente, mas é uma equação difícil de ser resolvida. Um quadro técnico pode desagradar a todos.

O Ministério da Educação é objeto de disputas desde o período da transição, no fim de 2018. À época, militares e acadêmicos que formulavam o planejamento estratégico da área foram pegos de surpresa quando viram pela primeira vez um professor pouco conhecido entrando na sede do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), edifício utilizado como base para as reuniões entre a equipe que deixava o poder e o grupo que vencera as eleições.

Daniel Rittner: Arrá, urrú, o Congresso é nosso!

Valor Econômico

Antes refém do Planalto, Legislativo agora impõe a pauta

Há uma mudança significativa em andamento nas relações entre o Executivo e o Legislativo. Ela já tem sido percebida pelos principais atores políticos do país, mas não devidamente assimilada pelo setor produtivo e pela sociedade civil organizada.

Evidência da mudança: a Câmara dos Deputados e o Senado, antes reféns do que queria o Palácio do Planalto, têm ditado cada vez mais a pauta legislativa. Há dez anos, dois terços dos projetos de lei aprovados no Congresso eram de autoria do governo. No ano passado, foi o inverso: dois terços das propostas que concluíram sua tramitação tiveram origem no próprio Parlamento. Nesse intervalo, desabou o índice de aprovação de medidas provisórias. Elas passaram a caducar (perder validade) com mais frequência.

Roberto DaMatta: Eleições são tempos liminares

O Globo / O Estado de S. Paulo

Períodos de passagem são problemáticos e exigem reflexão. São situações de liminaridade quando saímos de um lugar para outro. Passagens físicas em geral se atrelam a transições morais quando há mudança de posição social.

O cenário mais banal destas passagens é se imaginar ganhando uma Mega-Sena e pensar como a fortuna seria dividida para, finalmente, nos tirar do aperto, ao lado das pessoas que amamos. Na ilusão de nos “livrarmos” de um mundo repleto de carências.

Toda passagem, até entrar e sair de uma condução, oferece seus riscos. Algumas, como passar de estudante a doutor ou entrar ou ser rebaixado num emprego, acarretam choques e preocupações que, em toda sociedade humana, são ritualizados ou dramatizados. No nosso mundo moderno, usamos contratos quase sempre indignos, que implicam brutais perdas salariais. No caso extremo dos condenados à morte, há o direito a uma caprichada “última ceia”.

Vinicius Torres Freire: Campanha eleitoral já ameaça 2023

Folha de S. Paulo

Campanha eleitoral deve causar problemas para quem assumir o governo no ano que vem

A campanha eleitoral, fantasias econômicas ou demagogias descaradas podem causar problemas sinistros para quem vai governar a partir de 2023. Alguém pode acreditar que, a partir do ano que vem, vai voltar a correr leite e mel de cofres sem fundo do governo ou que a "força de vontade política" vá resolver as penúrias e falta de investimento que ajudam a encalacrar o país desde 2014, pelo menos. Acho que não.

A campanha mal começou e já há planos de aumentos de servidores, ideias ruinosas para a Petrobras e reduções malucas de impostos, um jogral cantado pelo governo e por candidatos a presidente que detestam o governo.

Considere-se o caso da Petrobras. Suponha-se que as ideias de tabelar seus preços e obrigar a empresa a construir novas refinarias à matroca não sejam em si um problema para a companhia (sim, estamos no reino da fantasia). Bem administrada, a Petrobras é uma vaca leiteira, rende muito dinheiro para o governo, assim como o negócio do petróleo inteiro. Se a empresa parar de render, de dar lucro (isso se não der prejuízo), o governo perde dezenas de bilhões de receita. Apenas os dividendos de 2021 vão render R$ 37,3 bilhões para o governo.

Silvia Matos*: Alinhando os incentivos da economia

Folha de S. Paulo

Apenas através do crescimento da produtividade conseguiremos chegar lá

Nós, economistas, estudamos como as pessoas reagem a incentivos. E aqui não há um julgamento moral. A pergunta que sempre nos fazemos é se os incentivos estão alinhados com os objetivos almejados, como desenvolvimento econômico e social.

O empresário deseja maximizar o lucro. Se os incentivos estão certos, a busca pelo lucro também deve aumentar o investimento, o emprego e a renda. O empresário deve adotar novas tecnologias, contratar uma mão de obra com mais qualidade, aprimorar o processo produtivo e, com isso, haverá ganhos de produtividade ao nível da firma. Se todas as empresas seguem o mesmo caminho, haverá um aumento de produtividade do país, com trabalhadores mais produtivos e com melhores salários.

Bruno Boghossian: Excesso de obediência

Folha de S. Paulo

Ministro forma quinteto fiel com Weintraub, Salles, Ernesto e Pazuello

Milton Ribeiro caiu por excesso de obediência. Em seus últimos dias no cargo, ele contou que seguia uma orientação de Jair Bolsonaro quando abriu o MEC para os dois pastores que passaram a tocar negociatas na pasta. O ministro também foi gravado dizendo que a preferência dada à dupla de lobistas era um "pedido especial" do presidente.

Não havia falta de sintonia entre chefe e subordinado. Eles andavam de mãos dadas no projeto de aparelhamento do Ministério da Educação e continuaram abraçados quando a crise dos pastores estourou. Bolsonaro chegou a afirmar que botaria "a cara toda no fogo" por Ribeiro, até que precisou queimar o ministro para tentar salvar a própria pele.

Hélio Schwartsman: A ética no entorno

Folha de S. Paulo

Ele não fez nada que não seja costumeiro no entorno da primeira-dama

Michelle Bolsonaro, a mulher do presidente da República, disse que o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro é honesto. Para a primeira-dama, o ex-chefe do MEC ainda vai provar que é uma pessoa "honesta, justa, fiel e leal." Como formamos nossos juízos éticos?

Nós basicamente olhamos para os lados e vemos o que as pessoas a nosso redor costumam fazer. Não é uma coincidência que os vocábulos portugueses "ética" e "moral" derivem respectivamente das palavras grega ("éthes") e latina ("mores") para "costumes". Consideramos aceitáveis comportamentos que percebemos como praticados pela maioria de nossos pares. É isso o que faz com que a moral varie tanto geográfica e temporalmente. E não surpreende que seja assim, dado que a moralidade é a solução encontrada pela evolução natural para conciliar os impulsos egoístas dos indivíduos com a necessidade de reduzir conflitos dentro do grupo —o dilema de sermos ao mesmo tempo rivais e aliados.

Maríliz Pereira Jorge: A facada como cabo eleitoral

Folha de S. Paulo

Bolsonaro não deixará que ela seja apenas uma lembrança distante do último pleito

A facada de 2018 estará presente na eleição de 2022. Jair Bolsonaro não deixará que ela seja apenas uma lembrança distante, ainda que sombria, do último pleito. A superação faz parte da imagem que ele cultiva do homem que se sacrifica pelo povo e combate a "volta do comunismo" com a própria vida.

Nem 24 horas depois de mais um evento com cara, cores e discurso de lançamento de campanha, só permitida a partir do dia 16 de agosto pela legislação eleitoral, o presidente foi internado devido a "dificuldade de esvaziamento gástrico". Passou a noite no hospital, onde ganhou dieta líquida, recebeu alta na manhã seguinte e embarcou para o Mato Grosso.

Com trocas partidárias, Bolsonaro reforça base de apoio em campanha


Legenda do presidente, PL dobra seus deputados

Lauriberto Pompeu / O Estado de S. Paulo

A três dias do prazo final para trocas partidárias, legendas que apoiam o presidente Jair Bolsonaro ganham adesões, reforçando a base da campanha pela reeleição. O PL, partido do presidente, é a sigla que mais cresceu com a permissão para mudanças. Integrante do Centrão, a agremiação política elegeu 33 deputados em 2018 e hoje, após a chegada de bolsonaristas, está com 66 parlamentares. Outras legendas governistas também encorparam.com isso, a campanha do presidente larga com 171 deputados na disputa.

A três dias do fim do prazo que autoriza as trocas partidárias, legendas que estão alinhadas com o governo de Jair Bolsonaro ganharam adesões, reforçando a base de apoio para a campanha do presidente à reeleição. O PL, partido de Bolsonaro, é a sigla que mais cresce com a chamada janela partidária na Câmara. Integrante do Centrão, a agremiação elegeu 33 deputados em 2018. Após a chegada de bolsonaristas, sua bancada dobrou: somava 66 deputados até ontem. A representação de outras legendas da base governista também cresceu.

Como a legislação eleitoral obriga que candidatos ao Parlamento vinculem sua imagem durante a campanha ao presidenciável que seu partido apoia, Bolsonaro terá uma base de ao menos 171 deputados na disputa. O cenário de aparente recuperação do presidente, indicado nas pesquisas, reforçou a impressão no meio político de que estar aliado ao governo pode ser uma garantida de voto. A avaliação é de que um contingente grande de parlamentares que também deverão disputar a reeleição vai ampliar o leque de cabos eleitorais pedindo voto para Bolsonaro.

Sergio Fausto*: Lição de democracia no Uruguai

O Estado de S. Paulo

Referendo de domingo foi o ponto culminante de um longo e civilizado processo que revitaliza as instituições políticas deste pequeno grande país

O drama da guerra na Ucrânia fez passar despercebido um evento político cheio de significado, bem perto de nós. No domingo, 27 de março, realizou-se no Uruguai um referendo popular sobre um amplíssimo conjunto de matérias, da educação pública ao direito penal, passando pela presença do Estado na economia. À primeira vista, poderia parecer um surto plebiscitário. Nada disso. Foi o ponto culminante de um longo e civilizado processo que revitaliza as instituições políticas deste pequeno grande país.

Menos que seu resultado, sobre o qual falarei mais adiante, interessa o processo que levou ao referendo, em reação a uma iniciativa do recém-empossado governo do presidente Luiz Alberto Lacalle Pou, de centro-direita. Em abril de 2020, o novo presidente recorreu à previsão constitucional que autoriza, dentro de certos limites, o Executivo a declarar “de urgente consideração” projetos de lei que considera decisivos. Até então, o mecanismo havia sido utilizado com extrema parcimônia (só 13 vezes, desde o retorno do país à democracia, em 1985) e nunca antes com tamanha abrangência.

Contendo nada menos do que 435 mudanças legislativas, criando, modificando ou revogando normas preexistentes, o projeto avançou dentro das regras constitucionais que preveem, nesses casos, tramitação mais acelerada (decisão final no prazo máximo de 100 dias, prevalecendo as mudanças propostas pelo Executivo em caso de não decisão). Com maioria parlamentar, o governo conseguiu transformá-lo em lei em julho de 2020. Mas o Congresso não deixou de modificar o projeto original (caiu, por exemplo, o fim do monopólio da empresa estatal de petróleo). A história não terminou aí.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*: O Ministério da Educação precisa de autonomia, como a do Banco Central

A população escolar brasileira abrigada no Ministério da Educação está estimada em, aproximadamente, 55 milhões de cidadãos, 180 mil escolas públicas e privadas, 32 mil cursos ministrados por 2.364 instituições de ensino superior, e dispõe, para 2022, só no Orçamento da União, de recursos   da ordem de R$140 bilhões.  São números maiores do que os orçamentos globais de muitos países. É um sistema grandioso e complexo.  

Mas, o que assusta mesmo é pensar que esse patrimônio imaterial é entregue eventualmente a políticos ou a pessoas totalmente desconectadas. De uma maneira geral, o Ministério da Educação é tratado como mais um dos 23 ministérios gestores das políticas públicas e, como tal, cheio de cargos negociáveis com os partidos e até amigos, pessoas quase sempre pouco qualificadas para entendê-lo e administrá-lo.    

Vai para o limbo mais um ministro da Educação. É o quarto neste governo. A agenda política da semana que passou foi insuflada pelas denúncias de corrupção que pesam sobre o pastor que se tornou ministro da Educação, e que vai ter de prestar contas ao Senado esta semana. Não sei se Milton Ribeiro entrou numa fria, ao aceitar o cargo, ou se é a educação no País que parece punida pelas circunstâncias históricas, e que incluem até um presidente da República que se orgulha de nunca ter lido um livro. 

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Novo presidente da Petrobras terá de conter Bolsonaro

O Globo

Não é difícil entender a intenção do presidente Jair Bolsonaro com a troca no comando da Petrobras. Seu objetivo sempre foi usá-la como arma política. Para interferir nas decisões da empresa, demitiu o primeiro presidente em seu governo, o economista Roberto Castello Branco, e, agora, decidiu demitir seu substituto, o general Joaquim Silva e Luna. Para o lugar dele será indicado o consultor Adriano Pires, uma referência no mercado de energia. Faltando menos de sete meses para o primeiro turno das eleições, com a guerra levando o preço do petróleo às alturas, a pressão do Planalto para reduzir o preço da gasolina, do diesel e do gás não diminuirá. Pires, se confirmado no cargo, terá o desafio de atender ao novo chefe sem manchar sua biografia. Não será tarefa fácil.

Ele foi um dos principais críticos da experiência desastrosa do governo Dilma, quando os preços foram mantidos em patamares baixos de forma artificial, e a empresa acabou na lona, com a maior dívida do mundo. No governo Temer, a petroleira adotou como política seguir a flutuação do petróleo no mercado internacional e, aos poucos, resgatou sua saúde financeira. Pressões políticas para intervir no preço sempre houve, mas Bolsonaro é um caso à parte. Em entrevista ao programa “Roda viva”, Castello Branco contou que recebia até mensagens do presidente sobre o assunto — um despropósito.

Poesia | Ascenso Ferreira: Minha Escola

A escola que eu frequentava era cheia de grades como as prisões.
E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Lusíadas de Camões!

À sua porta eu estava sempre hesitante...
De um lado a vida... — A minha adorável vida de criança:
Pinhões... Papagaios... Carreiras ao sol...
Voos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos da ingazeira pra dentro do rio...
Jogos de castanhas...
— O meu engenho de barro de fazer mel!

Do outro lado, aquela tortura:
"As armas e os barões assinalados!"
— Quantas orações?
— Qual é o maior rio da China?
— A 2 + 2 A B = quanto?
— Que é curvilíneo, convexo?
— Menino, venha dar sua lição de retórica!
— "Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deuses do Olimpo
para os destinos da Grécia!"
— Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
— Agora, a de francês:
— "Quand le christianisme avait apparu sur la terre..."
— Basta
— Hoje temos sabatina...
— O argumento é a bolo!
— Qual é a distância da Terra ao Sol?
— ?!!
— Não sabe? Passe a mão à palmatória!
— Bem, amanhã quero isso de cor...

Felizmente, à boca da noite,
eu tinha uma velha que me contava histórias...
Lindas histórias do reino da Mãe-d'Água...
E me ensinava a tomar a bênção à lua nova.