quinta-feira, 28 de abril de 2022

Inflação acelera e chega a 12% nos últimos 12 meses

Inflação alta e disseminada

IPCA-15 chega a 12% em 12 meses, e quase 80% dos produtos subiram

Carolina Nalin / O Globo

Puxada pelo aumento nos preços dos combustíveis e alimentos, a prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA-15, acelerou para 1,73%, acima da taxa de março (0,95%). É a maior alta desde fevereiro de 2003 (2,19%) e a maior para um mês de abril desde 1995, quando o índice foi de 1,95%.

Com o resultado, o IPCA-15 acumula alta de 4,31% no ano. Em 12 meses, chegou a 12,03%, a maior taxa desde novembro de 2003, quando foi 12,69%.

As variações, ainda que elevadas, vieram abaixo das estimativas do mercado. Analistas projetavam alta de 1,85% no mês e 12,16% em 12 meses, segundo mediana da Reuters.

Os dados são do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) e foram divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira. O indicador teve as informações coletadas entre o dia 17 de março até o dial 13 de abril.

O resultado indica uma aceleração em relação ao índice de março e ao IPCA fechado do mês passado, quando a inflação ficou em 1,62% no mês. Aponta também para uma alta disseminada dos preços: oito dos nove grupos subiram em abril, sendo a exceção observada no grupo Comunicação (-0,05%).

Vinicius Torres Freire: Pessimismo na economia diminui

Folha de S. Paulo

Ligeira mudança de humor de consumidores e empresários favorece o prestígio do governo

A confiança do consumidor e a dos empresários da construção civil e da indústria aumentou em abril, mostram os indicadores pesquisados pela FGV. Não é otimismo. A confiança ainda está no nível da insatisfação, do pessimismo, mas aumentou. Vinha em geral em baixa desde meados do ano passado.

Não quer dizer que vai haver uma virada econômica, com aumento de consumo e, menos ainda, de investimento produtivo. Mas a ligeira mudança de humor favorece o prestígio do governo.

Desde o início do ano, a votação de Jair Bolsonaro aumentou cerca de um ou dois pares de pontos. Mesmo com o repique da inflação, que continuou pelo menos até meados de abril, com a carestia da comida em terríveis 15% ao ano, em geral motivo de revolta ainda maior.

Catia Seabra: O capitão viu o passarinho azul

Folha de S. Paulo

Entusiastas veem Bolsonaro em um bom momento

Luiz Inácio Lula da Silva conhece o peso da caneta hoje nas mãos de Jair Bolsonaro. Em maio de 1994, tinha 42% das intenções de voto contra 16% de Fernando Henrique Cardoso. Em agosto, com a moeda do real em circulação, FHC assumiu a liderança. Venceu em primeiro turno.

Semana passada, Bolsonaro deu uma demonstração desse poder ao conceder indulto ao deputado Daniel Silveira. Afrontando o STF, o capitão não só reacendeu o ânimo belicoso de seus apoiadores.

Com a mesma canetada, despertou também o espírito de corpo na Câmara. Salvaguardado por seus pares, Silveira foi eleito vice-presidente de comissão e indicado para a Comissão de Constituição e Justiça da Casa.

Ruy Castro: Os brutos também amam

Folha de S. Paulo

Por que um homem de atividades tão pias precisaria andar armado?

Mais de um antigo faroeste de Hollywood já mostrou a sequência em que alguém parado numa esquina é baleado no peito por um bandido, mas se salva porque leva no bolso interno do paletó uma Bíblia, que lhe apara a bala. Woody Allen, um dia, propôs outra ideia: o sujeito está parado na esquina e alguém lhe atira no peito uma Bíblia. Mas ele se salva porque traz no bolso uma bala, que lhe apara a Bíblia.

Milton Ribeiro, pastor, teólogo, professor, ex-reitor universitário e ex-ministro da Educação de Jair Bolsonaro, tentou descarregar sua pistola Glock calibre 9 mm, que trazia dentro de uma pasta de couro, ao fazer o check-in no balcão do aeroporto de Brasília para embarcar para São Paulo. Como a pasta estava muito cheia —certamente lotada de Bíblias—, Ribeiro tinha pouco espaço para manobra e a arma disparou, atravessando o coldre e a pasta e atingindo o chão, com os estilhaços ferindo de leve duas pessoas que não tinham Bíblias para protegê-las.

Maria Hermínia Tavares*: Um alerta que vem a calhar

Folha de S. Paulo

Prenúncio de conflito interno violento nos EUA deveria ressoar entre os brasileiros

Durante quase 30 anos, Barbara Walter, cientista política da Universidade da Califórnia, estudou guerras civis e insurreições ao redor do mundo.

Com base no muito que aprendeu, acaba de publicar um livro desconcertante: "How civil wars start and how to stop them" (como as guerras civis começam e como pará-las), ainda sem tradução em português. Nele, a professora adverte que os Estados Unidos estão se aproximando a galope de um ambiente favorável à eclosão de um violento conflito interno.

A probabilidade de ocorrerem conflagrações do gênero aumenta quando o regime em que vive um país —não importa se autocrático ou democrático— entra em crise, privando as suas instituições da capacidade de orientar as condutas sociais, e quando a política se transforma em confronto entre facções que expressam identidades étnicas, raciais ou religiosas.

Conrado Hübner Mendes*: Se o STF capitular

Folha de S. Paulo

A renúncia de autoridade vai liberar de vez o bolsonarista da esquina

Juiz morre pela boca. E o Judiciário morre pela boca do juiz. Seria bom para a democracia brasileira se ministros do STF não saíssem por aí tecendo avaliações de conjuntura aos microfones de jornalistas, em salas de conferência ou eventos privados em bancos e resorts. Antecipando juízos, louvando reformas, criticando colegas, mandando recados, fazendo previsões, passando vergonha.

Não só porque as avaliações se mostram, em geral, diletantes e autointeressadas. Mas porque não cabem no compromisso institucional que assumiram. Nem nos rituais de preservação dessa matéria-prima delicada da qual se constitui a autoridade do juiz. São falas anti-institucionais que configuram conduta judicial imprópria.

Juízes constitucionais de democracias pelo mundo praticam essa máxima universal da ética judicial. As cortes ganham. Da Alemanha aos Estados Unidos, da Índia à África do Sul. No STF, Rosa Weber e Edson Fachin dão exemplo, mas são vencidos pelos contraexemplos.

William Waack: O STF na mira

O Estado de S. Paulo

Num momento perigoso, bolsonarismo encontrou no Supremo um alvo fácil

Não é surpresa o regozijo com que muitos setores da política registraram o mais recente ataque de Jair Bolsonaro ao STF. A “Schadenfreude” (alegria pelas dificuldades alheias) se espalhou também pelo Centrão, esse amplo grupo unido pelo interesse nos cofres públicos e desinteresse em bagunça institucional.

A afronta de Bolsonaro aos tribunais superiores é pura tática político-eleitoral motivada pelo desprezo que ele nutre por instituições e limites ao que considera ser sua “missão divina”. O grave problema para o STF, explorado pelo bolsonarismo, é a percepção em parcela crescente do público segundo a qual a Suprema Corte se transformou há tempos numa instância política que só toma decisões idem.

Essas decisões não são percebidas como dirigidas apenas contra Bolsonaro, apesar do que dizem os seguidores dele. É pior: são vistas como desvinculadas do interesse público, contraditórias e têm como denominador comum a defesa de privilégios de uma casta no topo de um Poder que gera insegurança – o Judiciário.

Míriam Leitão: Inflação sobe com crise interna

O Globo

Dois indicadores divulgados esta semana mostram que ainda não existe trégua no cenário de inflação. E esse é um dos maiores complicadores da atual conjuntura, porque vai corroer a renda das famílias e obrigar o Banco Central a elevar ainda mais os juros. O Boletim Focus voltou a ser divulgado depois de um mês de paralisação, por causa da greve no Banco Central, e mostrou uma forte piora das expectativas. Ontem, o IBGE divulgou outro número elevado do IPCA-15 de abril, em 1,73%, o que elevou a taxa para 12,03% em 12 meses, a taxa mais alta desde novembro de 2003. A alta do dólar nos últimos dias foi um balde de água fria em quem apostava em uma ajuda do câmbio para aliviar a alta dos preços.

Para se ter uma ideia da pancada, em cidades como Rio e Curitiba, a inflação, no IPCA-15, acumulada em apenas quatro meses desse ano, janeiro a abril, já supera 5%, o que é o teto da meta para o ano inteiro de 2022. Não é uma inflação causada apenas por crises externas. Há uma parte da alta de preços que é causada pelo governo Bolsonaro, quando não pelo próprio presidente. A má gestão das crises se soma às crises criadas pelo próprio presidente, como esse constante clima de confronto com o STF.

Merval Pereira: Aparência de normalidade

O Globo

Quando era deputado federal, eleito por um nicho de eleitores essencialmente militares, Jair Bolsonaro não valia uma nota de três reais na vida pública. Ninguém ligou quando elogiou o torturador coronel Brilhante Ustra, nem quando disse que a deputada petista Maria do Rosário não merecia ser estuprada por ser muito feia. Ao contrário, alguns parlamentares diziam que ele era muito afável no trato pessoal e que aquela radicalização era apenas uma maneira de chamar atenção sobre si para garantir os votos do eleitorado cativo.

Agora estão cometendo o mesmo erro ao considerar que Bolsonaro indultou o deputado federal Daniel Silveira apenas para chamar a atenção e manter-se no foco da opinião pública. No entanto, assim como Bolsonaro passou a ser valorizado pelos votos que o levaram à Presidência da República, a maioria sem ter a ver com suas eventuais qualidades, mas com os defeitos do PT, também o deputado-policial está sendo guindado a postos relevantes na Câmara a que não teria acesso em tempos normais, como membro titular da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e vice-presidente da Comissão de Segurança Pública.

Ele serve de pretexto para que os ataques às instituições democráticas tenham uma aparência de normalidade. Seriam demonstrações de “liberdade de expressão”, que precisam ser defendidas pelos “democratas”. O ex-presidente Lula perdeu uma chance de se colocar como um candidato a presidente que trata com seriedade questões institucionais. A crítica que fez a Bolsonaro chegou com atraso e muito pouco conteúdo.

Mario Vitor Rodrigues: Debate franco ou palanque moral?

O Globo

O calendário marcava 9 de setembro de 2016. Durante evento para arrecadação de fundos de sua campanha — hospedado pela Casa Cipriani, em Nova York, e tendo como estrela da noite Barbra Streisand —, a então candidata democrata Hillary Clinton não mordeu a língua e afirmou que metade dos eleitores de Donald Trump era “deplorável”. Quase dois meses antes, na convenção do Partido Democrata, Michelle Obama já demonstrava intimidade com o salto alto: “Quando eles se rebaixam, devemos nos elevar”. Pouco importa se elas tinham razão, ambas assumiam o discurso de superioridade moral que regia o debate nos Estados Unidos. Deu no que deu: Trump na cabeça.

Por aqui, desde 2013 vivemos catarse parecida. As manifestações de junho e o impeachment de Dilma Rousseff ajudaram a confundir o diagnóstico, mas a verdade é que, para além dos esquemas de corrupção petistas, o eleitor que antes votava no PSDB, e por osmose passou a eleger o PT, já demonstrava cansaço dessa conversa. Nosso “deu no que deu” não poderia ter sido mais sintomático: se Dilma se reelegeu com 54 milhões de votos, Bolsonaro, apenas quatro anos depois, venceu com 57 milhões.

Malu Gaspar: Por um fio, de novo

O Globo

O ex-policial militar Daniel Silveira (PTB-RJ) nunca ocupou cargos de destaque na Câmara. Até outro dia, era visto até por aliados como um parlamentar relapso, com pouco interesse pelo Congresso.  

Eleito depois de ganhar notoriedade por rasgar uma placa de rua com o nome da vereadora assassinada Marielle Franco, construiu a carreira como “deputado youtuber” divulgando fake news, pregando a desobediência jurídica e ataques físicos a ministros do Supremo.

Quando foi preso pela primeira vez pela Polícia Federal (PF) por ordem de Alexandre de Moraes, no ano passado, recusou-se a usar máscara nas instalações do Instituto Médico-Legal em plena pandemia, traficou telefones celulares para dentro da cela da Superintendência da PF no Rio e, mais recentemente, acampou no próprio gabinete para evitar ser obrigado a colocar a tornozeleira eletrônica.

Nos últimos dias, Silveira mudou de patamar. Condenado à prisão e à perda de mandato pelo STF, recebeu o perdão de Bolsonaro, ganhou postos em comissões — incluindo a mais importante da Câmara, a de Constituição e Justiça (CCJ) — e passou a ser visto por parte dos deputados como símbolo de liberdade de expressão.

Nem é preciso analisar o assunto de perto para constatar que ele é o espantalho político de uma disputa maior. Faz pouco tempo que Bolsonaro subiu num carro de som, chamou Moraes de canalha e disse que não cumpriria mais as decisões do Supremo.

Maria Cristina Fernandes: Expor o mau governo para calar o golpismo

Valor Econômico

Eleitor de oposição não sabe nem por onde começar. Está na hora de lhe fornecer decálogos dos malfeitos deste governo

O general responsável pela cibernética do Exército tem insaciáveis dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas que elegeu o comandante em chefe e prole. O homem mais rico do mundo, notório crítico da moderação de conteúdo das redes sociais, comprou aquela que é a mais usada pelos políticos. As cúpulas do Legislativo e Executivo agem em sintonia no cerceamento do Supremo Tribunal Federal na contenção da militância mais extremada do presidente da República.

Se alguém ainda cultivava dúvida sobre o potencial de encrencas desta eleição há de tê-las dissipado com os últimos acontecimentos. A única maneira de minimizá-las é com uma campanha em tempo real. Não o tempo das redes sociais, mas aquele da realidade. Daquilo que Jair Bolsonaro, de fato, entregou em seu mandato.

Se o golpismo é alimentado pela voz rouca das ruas, como defendem aqueles que proclamam o apoio popular à ação militar em 1964, não há saída para a oposição senão esclarecer aos eleitores o que Bolsonaro fez com o país.

Quem quer que tenha participado de uma roda com bolsonaristas sabe que eles se valem do simplismo empacotado pelas milícias digitais como verdade irrefutável.

Luiz Carlos Azedo: Mitos e heróis na cena eleitoral brasileira

Correio Braziliense

Moro virou um político, sujeito aos ritos e armadilhas do jogo democrático. Filiou-se ao Podemos, trocou-o pelo União Brasil, sem garantia de legenda. Agora ensaia voltar à disputa pela Presidência

O mito de que o brasileiro é um “homem cordial” vem de um senso comum, desconstruído por Sérgio Buarque de Holanda em sua obra seminal Raízes do Brasil. A expressão cordial é um “tipo ideal” que não indica apenas bons modos e gentileza, vem da palavra latina “cordis”, que significa coração. Segundo Buarque, o brasileiro precisa viver nos outros, um artificio psicológico incorporado ao nosso processo civilizatório. A cordialidade muitas vezes é mera aparência, “detém-se na parte exterior, epidérmica, do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência.” Mais atual impossível.

A apropriação afetiva do outro apontada por Buarque, em grande parte, é responsável pela “fulanização” da política brasileira, apesar de termos instituições seculares bastante consolidadas, alguma das quais com origem na chegada de D. João VI e sua Corte ao Brasil, como o Supremo Tribunal Federal (STF). O exercício efetivo do poder central em todo o território nacional, por exemplo, deve-se ao Judiciário, muito mais do que às Forças Armadas, cujo protagonismo político, na República, por duas vezes, se deu em duradoura contraposição ao Estado democrático de direito, na Revolução de 1930 e no golpe militar de 1964.

Cristiano Noronha: Congresso de centro e centro direita

Revista ISTOÉ

Graças a Lula, o PT pode apresentar algum crescimento no legislativo federal. Mas sem alterar sobremaneira a correlação de forças

Estudo sobre “Eleições Municipais na Pandemia”, organizado pelos cientistas políticos Antonio Lavareda e Helcimara Telles, mostra que o número de prefeitos filiados a partidos de direita aumentou de 29,8% para 54,3% de 2012 para 2020. Já o número de prefeitos de esquerda caiu de 40,5% para 24,4% nesse período. Partidos de centro e de centro-direita na Câmara dos Deputados receberam mais de 70 deputados durante a janela partidária, quando deputados federais podem mudar de legenda livremente sem correr o risco de perda de mandato. Partidos de esquerda perderam parlamentares – à exceção do PT, que ganhou três. A janela foi aberta em março e fechou no último dia 1º de abril.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

Congresso tem de rever construção de térmicas a gás

O Globo

Usinas termelétricas onde não há gás, não há alto consumo de energia, acionadas mesmo quando não há demanda. Eis mais uma decisão bizarra que desafia a lógica, impingida ao Brasil pelo Congresso Nacional na lei que autorizou a privatização da Eletrobras. Um cálculo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) revelado pelo GLOBO avaliou o peso desse jabuti: R$ 52 bilhões até 2036, ou 56% além dos R$ 93 bilhões que seriam necessários para operar o sistema num cenário com outras opções, como energia eólica ou solar. Esse seria apenas o custo de operação das térmicas, sem incluir os investimentos necessários para construí-las, nem os gasodutos essenciais para transportar o gás.

Esse desatino criado pelo Congresso Nacional não tem relação com a privatização da Eletrobras em si, que deveria prosseguir independentemente dele (ela está empacada no Tribunal de Contas da União, sob risco de não sair neste ano). O jabuti das térmicas beneficia apenas meia dúzia de investidores, encarece a energia para todos os brasileiros e contribui para sujar a matriz energética do país com o uso de um combustível fóssil. Trata-se, nas palavras do engenheiro Edvaldo Santana, ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de “um dos maiores absurdos já vistos no setor”.