quinta-feira, 5 de maio de 2022

Merval Pereira: Uns tempos estranhos

O Globo

Os tempos que estamos vivendo podem favorecer que situações impensáveis numa democracia sejam normalizadas, como se fizessem parte de um diálogo saudável. Não há nada de saudável, no entanto, no envolvimento de militares no debate das urnas eletrônicas ou na declaração do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, de que as Forças Armadas continuam “em estado de permanente prontidão” para o cumprimento de suas missões constitucionais. Se continuam, é porque já estão “de prontidão”, o que é preocupante e inexplicável.

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e os líderes políticos estão caindo numa armadilha institucional quando colocam os militares em condições de igualdade com os Três Poderes da República nessas conversações.

O presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, em discurso ontem, provavelmente decepcionado com a nota oficial do Ministério da Defesa, referiu-se ao Legislativo quando disse que estavam juntos na defesa da democracia. Não colocou o Executivo nessa conta, muito menos os militares, cujo comportamento institucional pressupõe que estejam a serviço dos Três Poderes, e não apenas de um deles, no caso o Executivo comandado pelo presidente Bolsonaro.

O elogio da liberdade de imprensa em seu dia, feito também por outros ministros do STF, tem a ver com essa disputa pela defesa da democracia. Outro ministro do Supremo, Edson Fachin, que preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou que não se pode transigir com ameaças à democracia, nem permitir a corrosão da autoridade do Judiciário.

A nota do Ministério da Defesa sobre o encontro do ministro Paulo Sérgio com Fux no mínimo causa estranheza ao falar em “prontidão”, situação que se enquadra quando há guerra, sublevação, questão interna de segurança. Não consta que exista nada disso no momento, embora seja permitido temer que os ataques do presidente Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas possam causar desestabilização política no país.

Malu Gaspar: O que, afinal, está acontecendo com Lula?

O Globo

Provocaram frisson as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à revista Time, na entrevista em que ele disse que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é tão responsável pela guerra quanto o russo Vladimir Putin.

Referências para se posicionar de forma diferente, ele tinha.

No início de março, seu ex-chanceler Celso Amorim rechaçou a invasão da Ucrânia sem mas nem porém: “Eu não posso condenar a invasão dos Estados Unidos ao Iraque e depois aceitar outra invasão”.

O que interessa, nesse caso, não é nem a Ucrânia e nem o Iraque. Feliz ou infelizmente, a influência das palavras de Lula sobre os rumos da guerra é zero.

Seu principal efeito, no momento, é atordoar os estrategistas de campanha, que passam boa parte do tempo tentando convencer interlocutores políticos e jornalistas de que os “erros” não mais se repetirão, porque a comunicação mudará.

Eles sabem que, assim, Lula ajuda o bolsonarismo a reforçar o antipetismo, quando é vital reduzir índices de rejeição.

Mas, a cada vez que os aliados garantem que “agora Lula será diferente”, surge uma nova declaração que embaralha tudo. No final da semana passada, o ex-presidente afirmou que Bolsonaro “não gosta de gente, só gosta de policial”. Depois teve de pedir desculpas aos policiais. 

Há um mês, ele também teve de se explicar depois de conclamar os seguidores a bater na porta dos deputados e a abordar suas famílias para cobrar apoio a projetos.

Tal comportamento espanta quem já viu Lula ganhar uma eleição com a Carta aos Brasileiros e se reeleger com folga depois do mensalão, executando guinadas de discurso milimetricamente pensadas para atrair os não petistas.

Luiz Carlos Azedo: Entre Doria e Tebet, terceira via definha

Correio Braziliense

Ambos estão sendo pressionados a desistirem das respectivas candidaturas à Presidência pela maioria dos deputados e senadores de seus partidos, o PSDB e o MDB, porém, resistem

É cada vez mais difícil uma chapa que reúna o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Nenhum dos dois aceita ser vice nem se apresenta como candidato competitivo o suficiente para atrair outros aliados. Ambos estão sendo pressionados pela maioria dos deputados e senadores de seus respectivos partidos a desistirem da disputa e resistem, com a diferença de que o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), pretende manter a candidatura de Tebet, enquanto seu colega do PSDB, Bruno Araujo (PE), já foi até destituído da coordenação de campanha pelo candidato tucano.

Hoje, haveria uma reunião da Executiva do PSDB para dar um xeque-mate em Doria. Fora tudo combinado num encontro de cúpula na semana passada, promovido pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), do qual também participou Araújo. Foi tiro pela culatra. Doria agendou um jantar na noite de ontem com a bancada federal e esvaziou a reunião, que foi adiada. Advertido pelos aliados de que a maioria da bancada prefere não ter candidato, para utilizar os recursos do fundo eleitoral na própria campanha, o ex-governador pagou para ver. Tanto a ala que apoia Doria quanto a que desejava o ex-governador gaúcho Eduardo Leite, que declarou apoio ao colega paulista, mesmo juntas, são minoritárias.

É um jogo de faz de conta, no qual os deputados tucanos de São Paulo pontificam. Gostariam de se livrar de Doria, a pretexto de que isso possibilitaria mais espaço para a reeleição do governador Rodrigo Garcia (PSDB), que o sucedeu. Mas nenhum parlamentar paulista tem coragem de assumir essa posição — por que os outros o fariam? As inserções do PSDB na tevê e as viagens de Doria pelo país esvaziaram a conspiração. Todas esperam as próximas pesquisas para saber se o tucano conseguirá sair da margem de erro nas e ultrapassar os cinco dígitos. Doria aproveita para jogar com o tempo a seu favor. Se a terceira via se inviabilizar de vez, cogita montar uma chapa da federação PSDB-Cidadania tendo a senadora Eliziane Gama (MA) como vice.

Maria Cristina Fernandes: Para não desviar o foco sobre o Brasil

Valor Econômico

Rede de proteção à democracia rejeita marola na Ucrânia

Luiz Inácio Lula da Silva arrancou uma capa deferente da revista “Time”. Ponto para o ex-presidente. Ao contrário de seu adversário na disputa presidencial, é reconhecido como um democrata no resto do mundo. Se já ganhou esta batalha, ainda não venceu a eleição. Por isso, Lula poderia ter feito melhor uso da entrevista. E por quê?

Há cerca de um mês, o senador Jaques Wagner (PT-BA), que estava nos Estados Unidos para participar de um seminário na Universidade de Harvard, foi chamado a Washington para uma conversa com Juan González, assistente especial do presidente Joe Biden e diretor para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional.

Lá foram explicitadas as preocupações do governo americano com os rumos da gestão Jair Bolsonaro, a consciência de que a corda foi demasiadamente esticada com a Venezuela e a expectativa de boas relações entre os dois países num eventual governo Luiz Inácio Lula da Silva. O senador, compreensivelmente, não confirma o encontro, relatado por duas outras fontes.

Dias depois, o presidente Joe Biden tomou a iniciativa de defender recompensas financeiras para que o Brasil mantenha suas florestas em pé e enviou dois subsecretários de Estado, Jose Fernandez e Victoria Nuland ao país.

Cristiano Romero: Lula e a dificuldade em atrair o voto não petista

Valor Econômico

Sem mea culpa, Lula torna seu o desastre da gestão Dilma

Em sua mais recente e sempre brilhante coluna no Valor, o sociólogo José de Souza Martins explica como funcionou, historicamente, a moderação de poder entre os extremos da política no Brasil. A polarização aguda não é novidade. A questão, e daí a importância da perspectiva histórica, é como a superamos.

Na monarquia, durante o 2º reinado (1840-1889), o poder moderador era exercido pelo rei, que detinha o mecanismo da terceira via para solucionar conflitos. “O mecanismo funcionava bem. Como, dentre outros, ressaltou Euclides da Cunha, os liberais inovavam e os conservadores decidiam como a inovação seria posta em prática”, diz Souza Martins em “Dificuldades da Terceira Via” (Valor, caderno EU&, página 3, edição de 29/04/2022).

O 2º reinado é apontado por historiadores como um período de relativa paz na história do país. Dom Pedro II valia-se do poder moderador para contornar impasses decorrentes da disputa de poder. Para Souza Martins, isso “nos fez um país de história politicamente lenta”. De fato, não há exemplo melhor dessa morosidade política do que o fim tardio da escravidão, ignomínia que, de tão longeva, tornou-se nossa principal característica nacional, razão do nosso fracasso.

Bruno Boghossian: O golpe de Bolsonaro é militar

Folha de S. Paulo

Forças Armadas lideram criação de roteiro para anular votação em caso de derrota

O ministro Luís Roberto Barroso foi até generoso quando perguntou se as Forças Armadas são "orientadas para atacar" as eleições. Depois de três anos no coração do poder, com uma adesão continuada às ameaças golpistas de Jair Bolsonaro, é impossível ver os generais como colaboradores que apenas obedecem cegamente às ordens do presidente.

Se Bolsonaro levar adiante o plano de melar as eleições, o golpe será militar. As Forças Armadas trabalham ativamente na confecção do roteiro que o presidente parece disposto a seguir para invalidar a votação e continuar no poder. Além disso, os generais passaram a disparar insinuações cada vez mais ameaçadoras de intervenção nesse processo.

Há meses, o militar indicado pelo Exército para atuar no TSE procura as brechas que Bolsonaro e seus sócios pretendem usar para anular a votação em caso de derrota.

Ruy Castro: A seguir: ditadura com Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Já não se dão à pachorra nem de desmentir o golpe

Há dois anos, quando comecei a dizer aqui que a cooptação por Jair Bolsonaro de militares, policiais e civis armados era a preparação para um golpe em caso de derrota na eleição, ouvi que estava vendo fantasmas debaixo da cama. No passado, essa imagem se aplicava aos comunistas, que, solertes, esperavam a hora de se pôr de pé, acender a luz e render os inocentes de pijama e camisola. Passaram-se 60 anos. Os comunistas seguem debaixo da cama, de onde nunca saíram, e quem hoje prepara o golpe —o autogolpe, como o definiu, com descaro, um general— é quem já está no poder.

É um golpe preparado às claras, com direito a ser pregado em carreatas, motociatas, cavalatas e outras atas bancadas com dinheiro público, sob a indiferença de instituições também pagas para coibi-las. E é tão ostensivo que, desde há algumas semanas, passou a ser abertamente denunciado pelos jornais e demais veículos de opinião, e nem assim os suspeitos de tramá-lo se dão à pachorra de desmenti-lo. É como se já o déssemos de barato —algo previsto para acontecer entre a eleição e o Dia de Finados.

Maria Hermínia Tavares*: O golpe pode dar errado

Folha de S. Paulo

Estratégia de Bolsonaro não vingará se a sociedade defender as instituições democráticas

Ele não disse nada, nem precisava. Ao participar, no Primeiro de Maio, de dois atos promovidos para atacar a Suprema Corte e ameaçar as instituições democráticas, Bolsonaro disparou um aviso pontiagudo do que intenta neste ano eleitoral. Que seu discurso vazio tenha sido recebido com certo alívio é um indício desalentador do quanto a política nacional foi sequestrada pelas provocações do ex-capitão.

Isso porque ele se prepara para tumultuar o processo de sua sucessão e contestá-lo pela violência se o resultado lhe for desfavorável. Abdicando de governar, dia sim, o outro também, a pé ou de moto, ele se dedica a açular a militância raivosa. Quando necessário, mostra que defende a sua turma —como fez com o Daniel Silveira— e vai dosando o xingatório contra ministros do STF, a Justiça Eleitoral e a urna eletrônica.

Nos porões dessa radicalização, ataques mais virulentos circulam nas redes bolsonaristas. Segundo o professor Marcelo Alves, do Departamento de Comunicação da PUC do Rio de Janeiro, de setembro do ano passado a março último, pipocaram no YouTube 1.701 vídeos contra o sistema eleitoral, vistos 69 milhões de vezes. Por fim, é explícita a corte do presidente às Forças Armadas, bem como o uso que delas faz para desfilar autoridade. Que outro sentido teria sua participação, fora da agenda, na reunião do Alto Comando do Exército, na terça-feira passada (3/5)?

William Waack: Não tem conversa

O Estado de S. Paulo

Chefes militares não querem ajudar nem Bolsonaro nem o Supremo

Jair Bolsonaro está arrastando menos oficiais-generais do que pensa na irresponsável aventura política, especialmente a de contestar o sistema eleitoral. Mas conseguiu ajudar a quebrar uma cadeia de entendimento que já foi bastante sólida entre o topo das Forças Armadas e o STF.

O presidente não perde oportunidade de participar de reuniões de fardados com muitas estrelas, como aconteceu esta semana com o Alto Comando do Exército. Só não percebe, diz um conhecedor dessas rodas, que já virou “encontro de comadres com restos da comida do dia anterior, não serve para nada”.

Os comandantes militares não estão dispostos a marchar com Bolsonaro rumo à insensatez. Contudo, repetem exatamente as mesmas críticas de Bolsonaro ao STF. Consideram que o Supremo deixou de ser um tribunal “unido” e se transformou num ajuntamento de togados obcecados por holofotes.

Mais ainda: interferem nos outros Poderes e exercem influência perniciosa na política, sem terem sido eleitos. A paciência se esgotou, resume oficial da ativa, quando integrantes do Supremo como o ministro Luís Roberto Barroso, ainda por cima falando a estrangeiros, distorcem a participação das Forças Armadas no processo eleitoral.

Eugênio Bucci*: Por que Bolsonaro ainda pode crescer

 

O Estado de S. Paulo

Estamos aprendendo, tarde demais, que não é por desinformação que muita gente o idolatra, mas por ódio a tudo o que seja informação. O desastre quica na área.

Até pouco tempo atrás, as passeatas de esquerda encenavam uma predisposição para o embate físico. A característica se fazia presente na coreografia de todos os comícios anticapitalistas, e não apenas no Brasil. Punhos erguidos socando o espaço sinalizavam a vontade de esmurrar o oponente. As palavras de ordem jorravam carregadas de agressividade quase bélica. Com frequência, lá vinham os black blocs atirando pedras nas vitrines e coquetéis molotov nos policiais. Naqueles tempos idos, embora tão recentes, a voz e o corpo da esquerda se opunham à ordem estabelecida, e sua linguagem eram as jornadas teatrais contra o establishment, a autoridade, as regras de trânsito e as boas maneiras.

Agora é o oposto. A velha gramática dos protestos virou de ponta-cabeça. Ano passado, nos Estados Unidos, quem promoveu arruaças foi a extrema-direita trumpista, que chegou ao cúmulo de promover a invasão do Capitólio. O símbolo mais icônico do atentado foi aquele sujeito enrolado num cobertor que parecia pele de urso e coroado, usando um capacete com dois chifres hediondos. O tipo ganhou o apelido midiático de “viking” e ficou famoso (no Brasil, um imitador do tal “viking” tem animado os convescotes golpistas do bolsonarismo).

Míriam Leitão: Juros em alta no Brasil e nos EUA

O Globo

A inflação está mais alta, mais espalhada, mais resistente e mais imprevisível. Ao Banco Central só cabe tentar levá-la de volta à curva descendente. E é isso que deverá conseguir no segundo semestre, mas ontem foi dia de elevação dos juros novamente. Em 14 meses, desde março do ano passado, os juros saltaram de 2% para 12,75%. E o BC indicou que é provável uma nova elevação da Selic em junho, o que deve levá-la para 13,25%. Ontem, houve pelo menos um alívio pelo banco central americano. Ele acelerou o ritmo de alta dos juros para meio ponto, mas praticamente descartou um passo ainda mais rápido, de 0,75% nas próximas reuniões. Isso ajudou a conter o dólar aqui no Brasil.

A inflação no país vem sofrendo pressões de vários lados. Da economia internacional, há o choque nos preços agrícolas pela guerra entre Rússia e Ucrânia e as novas medidas de lockdown na China, que afetam as cadeias de produção, com impacto nos produtos industriais. A expectativa de aumento dos juros nos EUA e o risco de desaceleração da economia chinesa reverteram parte dos ganhos que as moedas de países exportadores de commodities, como o real, tiveram no primeiro trimestre.

Vinicius Torres Freire: Arrocho de juros vai longe

Folha de S. Paulo

Autoridade monetária afirmava que aperto monetário ia acabar neste mês. Não deu.

O arrocho vai continuar, como era previsível. O Banco Central aumentou a taxa básica de juros, a Selic, de 11,75% para 12,75% ano, como havia jurado em meados de março. Mas, então, muito otimista, dissera que a onda de aperto terminaria neste mês.

Não vai dar.

Haverá pelo menos mais um aumento, na reunião de 15 de junho, a não ser que a paz baixe na Ucrânia, chova maná do céu e o coronavírus desapareça da China —e olhe lá.

Para quanto vai a Selic? Para começar, provavelmente a 13,25%, no mês que vem e a 13,75% em setembro. No mínimo.

O próximo governo vai começar com um peso ainda maior nas costas. Se disser muita bobagem na campanha e na "transição", pode arruinar suas possibilidades de sucesso logo de cara.

O maior aperto de juros desde 2013-2015 só acaba quando termina, escreveu a direção do BC no comunicado da sua decisão desta quarta-feira: "... é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista" ... "até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas".

O arrocho vai até que a expectativa de inflação de 2023 volte para a meta. Tem chão ainda.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

Lula deveria expor suas propostas com clareza e detalhes

O Globo

Um dos efeitos deletérios da decadência do debate político no Brasil — resultado dos atos e palavras de Jair Bolsonaro — é abaixar o sarrafo nas exigências dos demais candidatos. É um equívoco. Todas as falhas, independentemente de quem seja o autor, precisam ser apontadas. O Brasil que vai às urnas no final do ano precisa eleger alguém capaz de enfrentar desafios nada triviais. Precisão no diagnóstico e clareza de propósito são exigências para todos os postulantes.

Nos dois quesitos tem sido decepcionante o desempenho do líder nas pesquisas e principal desafiante de Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nas vésperas de ser lançado oficialmente pré-candidato, Lula deixou claros em entrevista à revista americana Time seu apego ao passado e sua incapacidade de vislumbrar uma saída para os problemas presentes e futuros do Brasil.

Questionado sobre seus planos para a economia — área crítica em qualquer governo —, voltou a tergiversar, como tem feito em suas manifestações recentes. Deu duas respostas sem substância. Afirmou que não discutiria o assunto antes de ganhar a eleição e que basta examinar seus dois mandatos para saber o que vem pela frente. Ora, tais declarações ignoram que uma das maiores preocupações dos eleitores no atual momento diz respeito à economia e que Brasil e mundo passaram por transformações profundas desde que ele saiu da Presidência. Mais detalhes são necessários — e rápido.

Ainda na entrevista à Time, Lula se mostrou desorientado com a cena global. Foi sensato ao defender a transição gradual para uma matriz energética limpa (ele não apoia o fim imediato da exploração de petróleo como o esquerdista colombiano Gustavo Petro) e o resgate do protagonismo brasileiro nos temas ambientais. Ao mesmo tempo, sua posição sobre outros temas internacionais foi desastrosa. Negou-se a chamar o venezuelano Nicolás Maduro de ditador e afirmou que o ucraniano Volodymyr Zelensky era tão culpado quanto Vladimir Putin pela guerra na Ucrânia. São dois absurdos.