domingo, 22 de maio de 2022

Merval Pereira: Em busca do ouro

O Globo

Desde que Elon Musk, o homem mais rico do mundo, anunciou seu interesse pelo controle do Twitter, Bolsonaro e seus seguidores comemoram, dando à transação comercial uma conotação política de favorecimento à liberdade de expressão, o que agrada ao bilionário, que tem uma visão bastante libertária do que isso seja. Tanto que pretende reabrir as contas do ex-presidente Donald Trump, que se utilizou das redes sociais, especialmente o Twitter, para insuflar a invasão do Capitólio para impedir que o Congresso americano validasse a vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial de 2020.  

“Um sopro de esperança”, disse Bolsonaro a respeito do projeto de Musk de abrir o Twitter indiscriminadamente, sem barreiras. O que parece ser uma atitude democrática, nada mais é do que o apoio a estratégias internacionais da extrema-direita de uso das redes sociais para atuação política. A presença dele no Brasil, portanto, tem a ver com uma visão política deturpada do que seja liberdade de expressão, ficando os negócios como efeitos colaterais de um apoio ostensivo à reeleição de Bolsonaro. Monitorar a Amazônia interessa a Musk, na busca de metais como níquel, lítio, nióbio para sua empresa de carros elétricos Tesla e para o Space X.

Enquanto Musk, com seu jeitão de vilão de James Bond, vai literalmente para o espaço, aqui na Terra há movimentos internacionais contra a segurança do sistema eleitoral, que têm tem sido utilizados pela extrema-direita em vários países, independentemente se o voto é eletrônico ou em papel. A equipe de pesquisadores independentes que integram a “Democracia em xeque”, que auxilia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no acompanhamento das redes sociais, constatou nos últimos meses que a campanha de Bolsonaro nas redes para desacreditar as urnas eletrônicas passou a novo estágio, com a instrumentalização das Forças Armadas. Os bolsonaristas migraram sua narrativa sobre um possível hackeamento das urnas eletrônicas, pois o argumento do TSE de que elas não são conectadas à internet a enfraqueceu, e migraram para outra, que busca gerar desconfiança direta sobre o papel do Tribunal na totalização dos votos.

Muniz Sodré*: O enigma da terceira via

Folha de S. Paulo

Por que 'terceira' se só uma das candidaturas é de polo extremo?

Palavras cruzadas, charadas e pequenos enigmas são velhos recursos de jornais e revistas para entreter certas classes de leitores. Mas quando coisas dessa ordem se estendem à esfera política, o interesse público é obrigatoriamente mais amplo.

Exemplo marcante vem de especulações de natureza diversa a propósito de uma "terceira via" na eleição. Ninguém explica por que seria terceira, considerando-se que, entre as existentes, só uma é polo extremo, longe da expectativa democrática de restauração civil.

Talvez ajude imaginar um jogo em que uma bola corra sozinha em campo sem que se saiba por quê, à espera de alguém que a agarre e lhe dê uma definição. Até agora, em nenhum momento, ninguém se arriscou a resolver o enigma, embora a bola continue correndo, aparentemente refratária, como mercúrio: já driblou muita gente.

Um chute inicial foi dado pelo ex-governador gaúcho. Embora tenha apoiado a eleição do atual presidente, se apresentou ainda no cargo como virtual opositor federal. Como costuma acontecer com os políticos convictos de que é dispensável a formulação de um projeto nacional, o postulante reduziu a provável expectativa de uma carta de intenções ao tamanho de um cartão de visitas, em que simplesmente fazia uma honesta declaração de gênero.

Luiz Carlos Azedo: Bolsonaro quer privatizar Petrobras e explorar a Amazônia

Correio Braziliense / Estado de Minas

Não se deve subestimar o apelo eleitoral dessa agenda: 49% são contra a privatização da Petrobras, 38% são favoráveis , porém, 67% apoiariam a privatização se resultasse na redução do preço dos combustíveis

Em busca da reeleição, o presidente Jair Bolsonaro acena para o mercado financeiro e aos investidores estrangeiros com uma radical agenda liberal, na qual a privatização da Eletrobras seria apenas um passo inicial. As joias da coroa são a venda da Petrobras, a empresa símbolo do nacionalismo brasileiro, e a entrega da exploração das reservas minerais e da biodiversidade da floresta ao bilionário Elon Musk — dono das empresas SpaceX, Tesla e Starlink.

Na sexta-feira, em São Paulo, na companhia de Bolsonaro e do ministro da Comunicação, Fábio Faria, o articulador de sua visita, Musk anunciou o lançamento de um programa de internet via satélite que pretende conectar 19 mil escolas em áreas rurais e promover o monitoramento ambiental “mais tecnológico” na Amazônia. O empresário sul-africano é aliado do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e tem a intenção de comprar o Twitter, por US$ 44 bilhões (R$ 225 bilhões), seu mais importante negócio em andamento, “para garantir a liberdade de expressão nas redes sociais”.

Não se deve subestimar o apelo eleitoral dessa agenda para Bolsonaro. Divulgada na sexta-feira, pesquisa Ipespe contratada pela XP Investimentos revelou que 49% dos entrevistados são contra a privatização da Petrobras, 38% são favoráveis e 13% não souberam ou não responderam, porém, 67% apoiariam a privatização se resultasse na redução do preço dos combustíveis. Além disso, a cartada em relação à Amazônia pode matar dois coelhos: neutralizar as pressões internacionais contra o desmatamento da Amazônia e tornar irreversível a exploração econômica da floresta por grandes empresas de tecnologia e biotecnologia.

Vinicius Torres Freire: Quem paga a conta de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Governo precisa de mais fundos para obter votos e quem vai pagar é o país, com menos crescimento e mais dívida

Arthur Lira (PP-AL) colocou uma faca no pescoço de estados e municípios com o objetivo de baixar impostos sobre combustíveis e talvez sobre energia elétrica, comunicações e transportes. Ameaça também um calote nas distribuidoras de eletricidade (as que vendem a energia para o consumidor).

Lira quer baixar a inflação na marra e a curto prazo a fim de melhorar as chances eleitorais de Jair Bolsonaro e turma. Outras promessas do governismo, como o reajuste da tabela do Imposto de Renda, reafirmada ainda em abril, foram para o vinagre, assim como a ideia de subsidiar diesel e gasolina, cara e inviável, mas ineficaz.

O governo precisa, pois, com urgência, de mais fundos para obter votos.

As ameaças de Lira custariam dezenas de bilhões, teriam efeito de curto prazo na inflação, dariam algum dinheiro para consumidores e deixariam mais problemas econômicos para o próximo governo.

Lira é o presidente da Câmara, sultão do centrão, senhor de todas as emendas e regente do governo Bolsonaro. Ameaça colocar em votação nesta semana um projeto que, no fim das contas, baixa o ICMS sobre combustíveis, eletricidade, comunicação e transportes. Um outro suspende reajustes contratados da conta de luz. O governo e o comando de Senado e Câmara fazem pressão para que os estados reduzam o ICMS sobre o diesel.

É incerto que tais projetos passem. Mas a chantagem está na mesa.

Bruno Boghossian: A economia nas mãos do centrão

Folha de S. Paulo

Ministro diz que fica em 2º mandato, mas sobrevivência depende dos partidos aliados

Paulo Guedes entregou as chaves do Ministério da Economia para o centrão. Num evento com investidores, o chefe da pasta afirmou que pode continuar no cargo em 2023, mas reconheceu que essa permanência não depende só da reeleição de Jair Bolsonaro. A condição, segundo ele, seria a vitória de uma coalizão de centro-direita –uma maneira cerimoniosa de descrever os partidos que mantêm o governo de pé.

A lógica de Guedes é a seguinte: Bolsonaro "ganhou sozinho" a eleição de 2018, mas a tal aliança de centro-direita avançou e passou a apoiar uma agenda de reformas no Congresso. Não é bem assim, mas o ministro indica que esse consórcio será o responsável por ditar o ritmo da agenda econômica num eventual segundo mandato do presidente.

Na prática, Guedes reconheceu (talvez por acidente) que precisa do centrão para continuar no poder. Não é pouca coisa, considerando a aversão que nutria pelos congressistas no início do governo e a indiferença com que os políticos do grupo encaram o ministro desde então.

Aí entra um arranjo que parece preservar a convivência entre os dois lados. No mesmo salão em que avisou que pretende ficar no cargo, Guedes citou a privatização da Eletrobras como exemplo dessa gestão. Só não mencionou que, para aprovar o projeto, o ministério teve que dar aval a uma série de penduricalhos elaborados para atender aos interesses políticos do centrão.

Janio de Freitas: A Amazônia saindo do Brasil

Folha de S. Paulo

Acordo entre Bolsonaro e Musk contraria interesses nacionais

As Forças Armadas estão postas por Bolsonaro, determinados militares e empresários sob um teste que não espera aquele a que responderão nas eleições. Até que o resolvam, estão invadidas por uma contradição interna que as deixa à mercê de interesses descomunais. E nisso arrastam o próprio país, estando em jogo riquezas nacionais de grande importância e a própria segurança territorial brasileira.

É notório que o centro da visão geopolítica dos militares está na presumida ambição dos países-potências de apropriar-se da Amazônia. Ideia fixa no Exército, daí vem o descaso pelas questões ambientais amazônicas e pelos indígenas, predominando a concepção de um território protegido por ocupação de pecuária, agricultura extensiva e mineração. Os Estados Unidos são o motivo maior da suposição militar, apesar de citados apenas em situações de especial reserva, por conveniência até da sedução que suscitam nos integrantes das Forças Armadas.

Bolsonaro e seu governo levaram a aplicação da proposta militar para a Amazônia ao nunca imaginado. Não só em razão da influência do Exército na composição e na orientação governamentais. Há também as facilidades para exploração criminosa da riqueza natural por garimpeiros ilegais, madeireiros idem, contrabandistas, invasores de terras indígenas e do patrimônio público para fazendeiros e agroindustriais. E, criação no atual governo, a interseção de milícias urbanas nessa criminalidade amazônica. Agora se arma o grande avanço. Ou, mais claro, inicia-se a perda da Amazônia.

Eliane Cantanhêde: Hora de explicar o óbvio

O Estado de S. Paulo.

Democracia é democracia, liberdade de expressão é liberdade de expressão, covid é covid, vacina é vacina

Antes sorrateiramente, agora ostensivamente, o presidente Jair Bolsonaro usa uma estratégia sofisticada e audaciosa para inverter o jogo e dizer que ele é o verdadeiro democrata e quem ataca a democracia são os outros, os adversários e as próprias instituições. Uma estratégia demoníaca.

Na denúncia-crime de Bolsonaro contra o ministro Alexandre de Moraes, o “Messias”, “mito” e “democrata” o acusa de abuso de autoridade e de ataques à liberdade de expressão, à Constituição e à democracia. Não é pra rir! É para ficar cada vez mais alerta, porque é esse tipo de inversão da realidade que Bolsonaro usa e seus robôs, virtuais ou de carne e osso, replicam na internet – inclusive como comentários de leitores. Ele cria a realidade paralela, sua tropa replica sem pensar.

Na realidade real, é Bolsonaro quem ataca urnas eletrônicas (sem mínimas evidências de fraude em décadas), o TSE e o Supremo e já entrou com pedido de impeachment de Moraes no Senado, tentou denúncia-crime contra ele no Supremo e insiste na PGR.

Foi também Bolsonaro quem fez homenagem no Planalto a condenado pelo STF e, no 7 de Setembro, anunciou a intenção de descumprir decisão judicial. De tão grave, a ameaça mobilizou até o ex-presidente Michel Temer para apagar o incêndio. Logo, é ele, Bolsonaro, quem ameaça instituições, eleições e a democracia.

Rolf Kuntz: Um dia de motociata para seis sem governo

O Estado de S. Paulo

Presidindo sem governar, Bolsonaro obedece à norma do repouso no sétimo dia como se houvesse produzido nos outros seis.

Trabalhar cansa, escreveu Cesare Pavese no título de um poema. As mesmas palavras foram usadas como título de um livro – Lavorare Stanca – publicado em Florença em 1936, quando o poeta vivia numa casa vigiada pelo regime fascista. É difícil dizer se Jair Bolsonaro leu esse livro, ou qualquer outro, e se ele realmente gosta de anapestos. Mas sua passagem pela Presidência parece marcada por aquele título, e, mais que isso, por um horror à cultura talvez maior que o dos antigos líderes fascistas. Quanto à cultura, seu desapreço é evidente na rejeição da ciência, no desmonte do Ministério da Educação e na devastação da área cultural do governo, entregue a um defensor do uso da Lei Rouanet para financiar a promoção da posse de armas.

Trabalhar cansa, concordarão letrados e iletrados. O Criador, segundo a Escritura, cessou o trabalho no sétimo dia, convertido depois pelos homens em dia de repouso e oração. Religioso à sua maneira, o presidente Bolsonaro reinterpretou a regra, preservando o repouso e dispensando a causa do cansaço. Assim, depois de mais uma semana improdutiva, o presidente permitiu-se um passeio de moto aquática no Lago Paranoá. Liderou um desfile de embarcações, numa exibição batizada como “lanchaciata”. Foi uma variação da costumeira “motociata”, mas só mudaram os veículos e o ambiente.

Bernardo Mello Franco: O negócio de Musk

O Globo

Em visita ao Brasil, Elon Musk foi recebido por governo de joelhos

Enquanto seu principal adversário desfrutava a lua de mel, Jair Bolsonaro convocou a imprensa para divulgar um novo relacionamento. “É o início de um namoro. Tenho certeza que vai acabar em casamento brevemente”, anunciou. O capitão se referia ao flerte com o bilionário Elon Musk, que fez uma visita-relâmpago ao Brasil na sexta-feira.

Em campanha à reeleição, Bolsonaro tirou o dia para bajular o homem mais rico do mundo. “Poderíamos chamá-lo de mito da liberdade”, derramou-se. Ele definiu o anúncio da compra do Twitter, um negócio de US$ 44 bilhões, como um “sopro de esperança”. “A vinda dele é um marco para todos nós”, proclamou, antes de condecorá-lo com uma medalha.

O ministro Fábio Faria, que organizou a visita, foi ainda mais longe na vassalagem. “Todos no Brasil te amam”, disse a Musk. Não era só o complexo de vira-latas, identificado por Nelson Rodrigues como um traço da psiquê nacional. Os bolsonaristas cortejam o bilionário porque têm muitos interesses em jogo. Os mais visíveis estão ligados à regulação das redes.

Míriam Leitão: Em teu nome, ó Liberdade

O Globo

Muitos crimes têm sido cometidos em nome da liberdade no Brasil atual. Trancafiar as crianças em casa com seus pais e preceptores foi o crime da semana aprovado pela Câmara dos Deputados. É um retrocesso de séculos. Parlamentares que se dizem liberais tiram a liberdade da criança e do adolescente de exercer seus direitos à educação plural e à convivência com pessoas da sua idade. Alivia um pouco o horror saber que alguns municípios estão na direção certa. Priscila Cruz, do Todos pela Educação, cita Sobral, Teresina e Recife como cidades que aumentaram o números de horas de aula para compensar o atraso da pandemia.

É trágico o legado da pandemia na educação. É assim no mundo todo, mas um relatório divulgado pelo FMI mostrou que o Brasil é o terceiro pior país do G-20 em termos de impacto da pandemia. Está na frente apenas da Indonésia e do México em termos de impacto da pandemia. Olhando pela economia, o Fundo diz que se o efeito da Covid-19 não for corrigido, o Brasil sentirá os reflexos na renda e na desigualdade. Foram 279 dias sem aula.

Michel Temer*: O que é pacificar?

O Estado de S. Paulo

Ataques a adversários, a conquistas de governos anteriores e à ordem democrática são atentado à nossa Constituição

O Brasil precisa de pacificação, sob pena de perderse no redemoinho de intolerância que vem guiando as lideranças políticas neste período de pré-campanha eleitoral. Até onde chegaremos com tanta inadequação?

Pacificar o País é um imperativo constitucional, grifado logo no preâmbulo da Constituição de 1988 como compromisso de buscar “a solução pacífica das controvérsias”. Ataques e ameaças a adversários, a conquistas de governos anteriores e à ordem democrática, incluindo a desarmonia entre os Poderes, são, portanto, atentado à nossa Constituição e conduzirão o País ao precipício da falta de unidade e esperança. Afinal, se o outro, sendo adversário, torna-se inimigo, não chegaremos a uma solução pacífica.

As consequências do conflito aberto e sem limites são muitas e diversas, atingindo os interesses do País e de seu povo em diversos campos. A governabilidade é uma das primeiras a sofrer com este clima de guerra, pois dificultará bastante ou mesmo impossibilitará futuramente a aprovação de projetos no Congresso Nacional, se as condições de diálogo e negociação política não forem dadas. Não se trata de exagero, pois a toada por enquanto transforma o debate político numa luta do bem contra o mal, mudando, curiosamente, a representação de um e de outro lado, a depender de quem é o orador ou o entrevistado.

Rodrigo Pacheco: Em defesa da democracia e da harmonia entre os Poderes

O Globo

Os artigos 1º e 2º da Constituição Federal são concisos e guardam conceitos oriundos de uma longa evolução histórica. Ambos resgatam doutrinas que se opõem ao autoritarismo e que, atualmente, representam características de nações civilizadas. O Artigo 1º define que a República Federativa do Brasil é um Estado Democrático de Direito. O Artigo 2º determina que os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário deverão ser harmônicos e independentes. Desses conceitos, quero me ater à interligação de democracia e harmonia entre os Poderes, com o objetivo de reafirmar esses valores constitucionais como imperativos da proteção aos direitos e às liberdades da população.

Na Grécia Antiga, o incômodo com o governo tirânico deu origem a um novo regime de governo, chamado democracia. Em grego, democracia significa poder político (kratos) do povo (demo). O conceito do que é um governo democrático não é único. Passou por amplo desenvolvimento histórico até chegar ao que hoje entendo mais adequado: a democracia constitucional. Em poucas palavras, na democracia o titular do poder soberano é o povo, que o exerce diretamente (democracia direta) ou por meio de seus representantes eleitos (democracia representativa). A democracia constitucional adiciona à soberania popular a necessidade de que sejam respeitados os direitos fundamentais, sobretudo das minorias, e de que o poder seja limitado pela Constituição.

Cristovam Buarque*: Derretimentos previsíveis

Blog do Noblat / Metrópoles

O noticiário desta semana anunciou pelo menos três derretimentos no mundo

O mais óbvio, e mais preocupante no longo prazo, porque o mais ameaçador para toda humanidade, é a confirmação do derretimento das geleiras nas montanhas dos Andes. Este fato mostra a olho nu a tragédia do desequilíbrio ecológico, provocando mudanças climáticas que levam ao aquecimento da temperatura e à elevação no nível dos oceanos, com todas suas consequências.

Faz 60 anos que a humanidade dispõe de informações prevendo esta catástrofe, desde quando o grupo de estudos Clube de Roma publicou seu famoso primeiro informe, no início dos anos 1970. Lamentavelmente, todos sabem que a tragédia está acontecendo e em breve se transformará em catástrofe, mas pouco se faz de concreto para evitá-la. Como se no lugar de cidadãos do mundo, fossemos atores de uma peça teatral escrita por um dramaturgo.

O que a mídia pensa: Editoriais / opiniões

Editoriais

Desigualdade social explodirá sem atenção à educação

O Globo

Por ter sido um dos países que mantiveram as escolas mais tempo fechadas durante os piores momentos da pandemia, o Brasil criou uma bomba-relógio capaz de levar a desigualdade às alturas se não for desarmada.

Os ganhos médios ao longo da vida dos estudantes brasileiros serão 9,1% menores na comparação com um cenário sem pandemia, afirma um relatório recente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Das 20 maiores economias do mundo, o Brasil é a 16ª pior, atrás de Rússia, China, Turquia, África do Sul, Argentina e Índia. A fatia da população mais afetada será a que frequenta o ensino público. Nos últimos dois anos, ela sofreu com aulas remotas mal preparadas, falta de computadores e de acesso à internet. Desde a volta do ensino presencial, tem recebido apoio insuficiente para recuperar o tempo perdido.

Há, obviamente, exceções. Niterói (RJ) é um dos municípios com política de auxílio para tentar garantir a volta dos que abandonaram o ensino médio porque precisam cooperar com a renda da família. Sobral (CE) é um dos destaques no apoio psicológico. O Estado de São Paulo preparou um material específico para facilitar a recomposição de conteúdos.

Num país de dimensões continentais e grandes desníveis de desenvolvimento regional, contudo, exemplos isolados não bastam. É chave o papel de coordenação do governo federal. Desgraçadamente, o Ministério da Educação não está à altura do desafio. Estamos em maio de 2022 e ainda sem um programa. O MEC promete um para logo. Se cumprir o que diz, ainda assim terá chegado tarde.

O FMI reconhece que a ciência econômica ainda tem muito a aprender sobre as consequências de longo prazo da crise de proporções gigantescas que se abateu sobre a área da educação. Porém algumas previsões dependem apenas do raciocínio lógico. Quando entrarem no mercado de trabalho, os filhos de famílias ricas (os que tiveram aulas remotas de qualidade) ocuparão postos que requerem mais habilidades. Confirmada a futura escassez de profissionais preparados, é provável que esses cargos pagarão salários mais altos do que hoje. Quem tiver lacunas na formação terá chances maiores de acabar num mercado informal mais congestionado, recebendo salários menores.