O Globo
Desde que Elon Musk, o homem mais rico do
mundo, anunciou seu interesse pelo controle do Twitter, Bolsonaro e seus
seguidores comemoram, dando à transação comercial uma conotação política de
favorecimento à liberdade de expressão, o que agrada ao bilionário, que tem uma
visão bastante libertária do que isso seja. Tanto que pretende reabrir as
contas do ex-presidente Donald Trump, que se utilizou das redes sociais,
especialmente o Twitter, para insuflar a invasão do Capitólio para impedir que
o Congresso americano validasse a vitória do democrata Joe Biden na eleição
presidencial de 2020.
“Um sopro de esperança”, disse Bolsonaro a respeito do projeto de Musk de abrir
o Twitter indiscriminadamente, sem barreiras. O que parece ser uma atitude
democrática, nada mais é do que o apoio a estratégias internacionais da
extrema-direita de uso das redes sociais para atuação política. A presença dele
no Brasil, portanto, tem a ver com uma visão política deturpada do que seja
liberdade de expressão, ficando os negócios como efeitos colaterais de um apoio
ostensivo à reeleição de Bolsonaro. Monitorar a Amazônia interessa a Musk, na
busca de metais como níquel, lítio, nióbio para sua empresa de carros elétricos
Tesla e para o Space X.
Enquanto Musk, com seu jeitão de vilão de James Bond, vai literalmente para o
espaço, aqui na Terra há movimentos internacionais contra a segurança do
sistema eleitoral, que têm tem sido utilizados pela extrema-direita em vários
países, independentemente se o voto é eletrônico ou em papel. A equipe de
pesquisadores independentes que integram a “Democracia em xeque”, que auxilia o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no acompanhamento das redes sociais,
constatou nos últimos meses que a campanha de Bolsonaro nas redes para
desacreditar as urnas eletrônicas passou a novo estágio, com a
instrumentalização das Forças Armadas. Os bolsonaristas migraram sua narrativa
sobre um possível hackeamento das urnas eletrônicas, pois o argumento do TSE de
que elas não são conectadas à internet a enfraqueceu, e migraram para outra,
que busca gerar desconfiança direta sobre o papel do Tribunal na totalização
dos votos.