domingo, 1 de janeiro de 2023

Celso Ming - O que esperar de 2023

O Estado de S. Paulo

Ano novo, governo novo, mas tendências da política econômica, nem tanto. Todos os indícios apontam para um crescimento medíocre em 2023. As economias líderes devem enfrentar recessão ou forte desaceleração, puxadas pela ressaca da covid e pela crise energética, que produziram inflação e obrigaram os maiores bancos centrais a puxar os juros para cima. As projeções do FMI são de crescimento de 1,0% do PIB dos Estados Unidos, de 0,5% da área do euro e de 4,4% da China. Aqui no Brasil, os analistas inquiridos pelo Boletim Focus não preveem mais do que avanço de 0,75%.

Em parte, esse passo lento está determinado pela música tocada no salão global. Mas há certas bolas de ferro que vêm tolhendo o avanço da economia brasileira. Como o Banco Central tanto alertou no último Relatório de Inflação, a principal delas é o rombo fiscal que vai sendo determinado pelo forte aumento das despesas públicas.

O Banco Central promete juros altos em boa parte do ano. É forte a pressão sobre o crédito e sobre a dívida pública que terá de incorporar mais despesas com juros no passivo total.

Já dá para prever nova fonte de conflitos. O governo Lula será pressionado a reduzir o custo do crédito, de modo a empurrar a economia e o emprego. No governo Dilma, o Banco Central foi obrigado a derrubar artificialmente os juros – operação que produziu perda de confiança e novas distorções. Desta vez, não vai dar para contar com o Banco Central, porque a autonomia está em vigor. As pressões por créditos subsidiados poderão desabar sobre o BNDES e os bancos públicos. Podem comprometer não só o crescimento, mas, também, sua qualidade.

Sem conhecer a política econômica da temporada Lula 3, fica difícil esperar por significativa recuperação da indústria de transformação. Se a reforma tributária for aprovada pode, se esperar por melhor azeitamento da atividade produtiva nos anos seguintes, mas não em 2023.

Ou seja, a economia ficará dependente do desempenho dos setores espontaneamente mais dinâmicos, como o agronegócio, mineração, petróleo e energia renovável. Mas, atenção, mesmo esses setores enfrentarão ameaças. O agro deve enfrentar queda dos preços das commodities, corre risco de novas taxações e de medidas protecionistas por exigências na área ambiental; e a área do petróleo vai enfrentar mudanças drásticas nas regras do jogo, especialmente sobre a Petrobras.

O governo Lula tende a ser mais intervencionista. Mas sua capacidade de intervenção deve ser limitada pela escassez de recursos. Já a atração de capitais privados dependerá do nível de confiança que a política econômica conseguir criar.

 

3 comentários:

  1. Anônimo1/1/23 10:34

    O viés perverso do bolsonarismo entranha como matéria fétida os textos a soldo do Ming

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  2. Anônimo1/1/23 19:13

    "Já a atração de capitais privados dependerá do nível de confiança que a política econômica conseguir criar."

    Uau!!!
    Gênio!
    Mesmo!

    Impressionante, ninguém ter pensado nisso.

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  3. Anônimo2/1/23 05:08

    O que não dá para entender são esses juros altíssimos cobrados no Brasil..Culpam a falta de crédito, mas eu considero a GANÂNCIA o maior culpado. Essas taxas brasileiras não se vê no mundo civilizado.

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