O Estado de S. Paulo
Ano novo, governo novo, mas tendências da
política econômica, nem tanto. Todos os indícios apontam para um crescimento
medíocre em 2023. As economias líderes devem enfrentar recessão ou forte
desaceleração, puxadas pela ressaca da covid e pela crise energética, que
produziram inflação e obrigaram os maiores bancos centrais a puxar os juros
para cima. As projeções do FMI são de crescimento de 1,0% do PIB dos Estados
Unidos, de 0,5% da área do euro e de 4,4% da China. Aqui no
Brasil, os analistas inquiridos pelo Boletim Focus não preveem mais do que
avanço de 0,75%.
Em parte, esse passo lento está determinado
pela música tocada no salão global. Mas há certas bolas de ferro que vêm
tolhendo o avanço da economia brasileira. Como o Banco Central tanto alertou no
último Relatório de Inflação, a principal delas é o rombo fiscal que vai sendo
determinado pelo forte aumento das despesas públicas.
O Banco Central promete juros altos em boa parte do ano. É forte a pressão sobre o crédito e sobre a dívida pública que terá de incorporar mais despesas com juros no passivo total.
Já dá para prever nova fonte de conflitos.
O governo Lula será pressionado a reduzir o custo do crédito, de modo a
empurrar a economia e o emprego. No governo Dilma, o Banco Central foi obrigado
a derrubar artificialmente os juros – operação que produziu perda de confiança
e novas distorções. Desta vez, não vai dar para contar com o Banco Central,
porque a autonomia está em vigor. As pressões por créditos subsidiados poderão
desabar sobre o BNDES e os bancos públicos. Podem comprometer não só o
crescimento, mas, também, sua qualidade.
Sem conhecer a política econômica da
temporada Lula 3, fica difícil esperar por significativa recuperação da indústria
de transformação. Se a reforma tributária for aprovada pode, se esperar por
melhor azeitamento da atividade produtiva nos anos seguintes, mas não em 2023.
Ou seja, a economia ficará dependente do
desempenho dos setores espontaneamente mais dinâmicos, como o agronegócio,
mineração, petróleo e energia renovável. Mas, atenção, mesmo esses setores
enfrentarão ameaças. O agro deve enfrentar queda dos preços das commodities,
corre risco de novas taxações e de medidas protecionistas por exigências na área
ambiental; e a área do petróleo vai enfrentar mudanças drásticas nas regras do
jogo, especialmente sobre a Petrobras.
O governo Lula tende a ser mais
intervencionista. Mas sua capacidade de intervenção deve ser limitada pela
escassez de recursos. Já a atração de capitais privados dependerá do nível de
confiança que a política econômica conseguir criar.
3 comentários:
O viés perverso do bolsonarismo entranha como matéria fétida os textos a soldo do Ming
"Já a atração de capitais privados dependerá do nível de confiança que a política econômica conseguir criar."
Uau!!!
Gênio!
Mesmo!
Impressionante, ninguém ter pensado nisso.
O que não dá para entender são esses juros altíssimos cobrados no Brasil..Culpam a falta de crédito, mas eu considero a GANÂNCIA o maior culpado. Essas taxas brasileiras não se vê no mundo civilizado.
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