sábado, 7 de janeiro de 2023

Eduardo Affonso - Muito cedo ou tarde demais para criticar?

O Globo

Ter esperança nas boas intenções do governo está liberado. Entretanto, se o assunto forem os maus presságios...

Já se pode comemorar muita coisa, de domingo para cá. Marina Silva cuidando do Meio Ambiente, em vez de Salles e sua boiada, por exemplo. Ou a esfuziante Margareth Menezes na gestão da Cultura, até outro dia a cargo de um álgido Mário Frias.

Foi bonito ver Raoni subindo a rampa e “o povo” — ali representado pelo venerando cacique, por uma criança de periferia, uma catadora de recicláveis, um operário, um professor, uma cozinheira, um artesão, um ativista anticapacitista — fazendo a passagem da faixa no lugar do capitão fujão. Sem falar na irresistível vira-lata Rê (difícil supor que ela seja tratada, na intimidade, pelo seu nome panfletário: “Senta, Resistência”, “Não pula, Resistência”, “No sofá, não, Resistência!”).

Há momentos — e aquele era um — em que o simbolismo é tudo.

Uma economia verde e sustentável, como proposta por Alckmin, é auspiciosa. Assim como a luta contra o preconceito, a exclusão e a invisibilidade social (“Vocês [todos] existem e são valiosos para nós”, nas palavras do ministro dos Direitos Humanos).

Ter esperança nas boas intenções está liberado — afinal, o governo já começou com força total. Entretanto, se o assunto forem os maus presságios, a coisa muda de figura: é cedo demais para crítica, “espera o governo começar!”.

Este governo deu a largada em dezembro, com o atentado à Lei das Estatais para permitir o aparelhamento do BNDES, da Petrobras e sabe-se lá do que mais. Inventou-se a quarentena pro forma (poderia ser de 40 minutos: não faria diferença, e ainda haveria um afago na etimologia).

Qualquer reparo que se bote no negacionismo econômico, na prestidigitação fiscal, na alteração do Marco Legal do Saneamento, no boicote à reforma da Previdência ou nas restrições à liberdade de expressão tem sido encarado como prematuro e ressentido — uma mal disfarçada nostalgia do recém-finado fascismo Porcina (aquele que foi sem nunca ter sido).

O país não precisa de uma Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia ou de uma Secretaria de Políticas Digitais para coibir desinformação e discurso de ódio. Desinformação se combate com informação; para todas as outras coisas, existem os Códigos Civil e Penal — e a Constituição. Lembrando Vincenzo Gioberti:

— Os maiores inimigos da liberdade não são os que a oprimem, mas os que a deturpam.

Não há como comparar Nísia Trindade a Eduardo Pazuello, Silvio Almeida a Damares Alves, Camilo Santana a Ricardo Vélez, Abraham Weintraub ou Milton Ribeiro. Nem Simone Tebet a quem quer que seja do “antigo regime”. Porém — ah, porém! — existem Rui Costa, investigado por fraude na compra de respiradores e financiamento ilegal de campanha; Carlos Lupi, que só sairia do governo Dilma “abatido à bala”, mas economizou munição e caiu por denúncias de corrupção; Waldez Góes e as acusações de desvio de recursos públicos; Daniela do Waguinho e a camaradagem com a milícia.

O governo Lula precisa dar certo, para que nunca mais haja outro Bolsonaro. E, se der mesmo certo, é porque terá passado ao largo do receituário petista — o que nos provará a desnecessidade de outro governo do PT.

Não, nunca é cedo para criticar. Se tiver de esperar o fiasco consumado, aí será tarde demais.

 

5 comentários:

  1. Anônimo7/1/23 14:10

    O povo de bem, trabalhador e pagador de imposto não vai aceitar latrão confesso preso condenado governar o Brasil
    Lula ladrão seu lugar é na prisão

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    1. Anônimo7/1/23 17:14

      Esse panaca crê q "os demais" não pagam tributos, não trabalham.
      Burro pra cacete!
      Kkkkkkkkkk
      Mas eu não sou vagabundo, sem trabalhar, na frente de QG. Kkkkkkkk
      Donde océ tá postando, patriotário? Sentado num banheiro químico?
      Kkkkkkkkkkk
      XANDÃO vai chegar aí!

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  2. Anônimo7/1/23 17:09

    "Não, nunca é cedo para criticar."

    Concordo. Eu, por exemplo, crítico seu artigo. Considero-o ruim. Até pq, é cedo demais, em reposta à sua pergunta e resposta.
    Isso pq criticar exige motivo. Seus motivos são inexistentes ou fúteis.
    Sua ideologia direciona - como a minha, a mim. Mas eu não sou articulista q finge equilíbrio.

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  3. Não sabia que a cachorrinha fosse vira-lata,e teve gente que reclamou de sua presença no dia da posse,eu adorei.

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  4. Anônimo8/1/23 09:51

    Se o autor fosse um vira-lata, seria chamado de Aff (difícil supor que ele fosse tratado, na intimidade, pelo seu nome Eduardo Affonso: "Senta aí, Eduardo Affonso!"; ""Escreve aí, Eduardo Affonso!"; "Anota aí, Eduardo Affonso!")

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