O Globo
Quem prende deve pensar em soltar aqueles
que não constituem uma ameaça imediata à sociedade
Desde domingo passado foram presas pelo
menos 1.800 pessoas em Brasília. Delas, umas 1.300 estavam no acampamento
golpista diante do Quartel-General do Exército. Cerca de 500 foram detidas na
cena das invasões do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do
Congresso. Muitos dos que foram presos no acampamento haviam participado dos
atos e retornaram à noite.
Apesar da superposição, os dois grupos são
distintos. Quem estava no acampamento pedindo um golpe de Estado não pode ser
suspeito de ter praticado ato de vandalismo nas sedes dos três Poderes da
República. São dois comportamentos reprováveis, porém distintos.
O arrastão de Brasília foi o maior da
história nacional. Superou dois outros: o do Congresso Clandestino da União
Nacional dos Estudantes, em Ibiúna (1968); e o da PUC de São Paulo (1977), onde
jovens comemoravam a refundação da UNE.
Quem prende deve pensar em soltar aqueles que não constituem uma ameaça imediata à sociedade.
Os arrastões de 1968 e 1977 deram-se
durante a ditadura. Em Ibiúna, foram presos cerca de 1.240 jovens. Na PUC,
cerca de mil.
Seis dias depois do arrastão de Ibiúna,
quase todos os detidos haviam sido identificados e soltos. Continuaram presos
menos de 20 jovens, contra os quais havia mandados de prisão preventiva. Na PUC
de São Paulo, depois de três dias todos os presos estavam soltos, depois de
terem sido identificados. Dezenas responderam a processos.
Em 1968, antes do arrastão, grupos
terroristas de direita haviam praticado seis sequestros e mais de 30 atentados
com bombas, sem vítimas. Nesse mesmo período, o surto terrorista de esquerda
contabilizava uma dezena de assaltos e seis mortos, entre os quais um major do
exército alemão confundido com um capitão boliviano. Em 1977, não existia mais
terrorismo de esquerda.
No arrastão de 2023, aconteceram episódios
inquietantes. Num regime democrático ameaçado por golpistas, manifestantes de
Brasília, irresponsavelmente, levaram crianças para o acampamento. Segundo o
Conselho Tutelar do Distrito Federal, às 15h de segunda-feira, foram atendidas
20 famílias detidas com 23 crianças ou adolescentes menores de idade. Isso
significa que eles ficaram detidos por cerca de 24 horas. Precisava? Quem sabe
prender precisa saber soltar. Os menores poderiam ter sido entregues a
familiares em questão de horas.
Na tarde de sexta-feira, centenas de
pessoas continuavam detidas em Brasília. Não se sabe quantas foram apanhadas no
acampamento e quantas estavam nas depredações na Praça dos Três Poderes. Nos
arrastões de 1968 e de 1977, seis noites depois, continuavam presas menos de
dez.
Aqueles que invadiram prédios cometeram um
crime específico e sofrem a pena da lentidão burocrática. Os do acampamento, a
maioria entre os detidos, poderiam ter sido libertados há dias, logo depois da
devida identificação e tomada de depoimento.
A burocracia das prisões explica a demora
pelo cumprimento dos trâmites que incluem a tomada de depoimentos e a
realização de audiências de custódia. Tudo bem. Mas em outubro de 1968 (antes
do AI-5) e em 1977 (às vésperas da demissão do ministro do Exército Sílvio
Frota), a ditadura soltava os presos de seus arrastões com maior celeridade.
Se quem prendeu não dispunha dos meios para
soltar, o problema é de quem prendeu.
A minuta do golpe
A minuta do golpe encontrada na casa do
ex-ministro Anderson Torres tem um ator oculto: as Forças Armadas. Sem elas, é
puro delírio, robustecido pelos sucessivos discursos apocalípticos de Jair
Bolsonaro.
Até hoje, o fator militar faltou ao núcleo
das maquinações golpistas. Para os militares, a revelação da minuta é uma
advertência. Permite que vejam com que tipo de gente estariam metidos.
Horror no agro
Bateu o horror em alguns magnatas do
agronegócio, gente que repete “o dinheiro é meu e faço com ele o que eu
quiser”.
Lá atrás, o cidadão tomou uma mordida de
algumas centenas de reais para ajudar manifestações de golpistas. Sem perguntar
para onde ia o dinheiro, ele fez uma transferência ou assinou um cheque da
empresa.
Passou o tempo, e o magnata percebeu que
seu dinheiro pode ter ido parar na conta de quem organiza explosões em torres
de energia ou outros tipos de atentados terroristas. Nos últimos dias ele foi
informado que essas coações estão sendo rastreadas.
Pelos costumes de Pindorama, ele teria
motivos para acreditar que qualquer investigação levaria meses, talvez anos, e
não daria em nada.
Depois do 8 de janeiro, caíram na rede 52
pessoas e sete empresas financiadoras e foram bloqueados R$ 6,5 milhões. Com a
repercussão internacional do movimento, caiu a ficha para o doutor:
Se a Polícia Federal ou o Poder Judiciário
brasileiros comunicarem aos organismos internacionais que seu dinheiro
financiou terroristas, suas contas, negócios e cartões de crédito poderão ser
congelados, sem maiores avisos.
Nas palavras de quem entende:
“O sujeito deu o dinheiro com uma
transferência da conta da fazenda na qual é sócio, junto com a irmã. Ela vai às
compras em Miami, e a vendedora avisa que seu cartão foi cancelado.”
Luana e Goretti
Em maio de 2021, Jair Bolsonaro mandou
demitir a infectologista Luana Araújo do cargo de secretária-executiva de
enfrentamento à Covid-19.
Motivo: nas redes sociais a doutora
condenava a propaganda da cloroquina como remédio eficaz na pandemia.
Em janeiro de 2023, a pediatra Ana Goretti
Kalume Maranhão teve sua nomeação barrada pela Casa Civil da Presidência para a
chefia do novo Departamento de Imunizações do Ministério da Saúde.
Motivo: “Restrição partidária.”
Ganha um fim de semana em Pyongyang quem
souber o que isso significa.
Ela é acusada de ter escrito mensagens
louvando a Operação Lava-Jato.
Navio-fantasma
A empresa MSK, que em dezembro de 2021
comprou o falecido porta-aviões São Paulo e desde agosto passado vaga com ele
pelos mares, ameaçou abandoná-lo em águas territoriais brasileiras.
O casco do São Paulo foi liberado para
exportação pelas repartições militares e ambientais e virou uma bomba
ecológica. Ele deveria ser desmanchado na Turquia, mas foi enxotado. Voltou
para o Rio e quis ir para Recife, mas nenhum dos dois portos o aceita.
A MSK já gastou alguns milhões de dólares
mantendo e rebocando o navio-fantasma em que se transformou o falecido
porta-aviões, considerado um legítimo produto de exportação.
Tempestade perfeita
Com todas as encrencas que estão no
tabuleiro, pareceu despicienda a descoberta de uma “inconsistência” de R$ 20
bilhões no balanço das Lojas Americanas, grande e tradicional rede de comércio
varejista de Pindorama. Coisa de mais de US$ 4 bilhões. Ervanário para ninguém
botar defeito. As inconsistências parecem vir de longe.
A revelação deveu-se ao CEO da empresa,
Sérgio Rial. Ele tinha nove dias no cargo e explicou: “Tive uma escolha de
Sofia, eu falo ou não?”
Falou, e fez muito bem.
O caso da dra. Ana Goretti mostra a arrogância da elite petista, já incrustada na Casa Civil, que barrou uma das maiores especialistas brasileiras em vacinas, por motivos meramente ideológicos. Não foi só Lula que quis voltar à cena do crime, também os velhacos do PT já estão dando as ordens e PERSEGUINDO técnicos competentes que não se enquadram nas velhas e caducas ideologias do PT.
ResponderExcluirQual técnico competente? Quem era competente no governo Bolsonaro? Me poupe.
ExcluirO COLUNISTA A SOLDO MOSTRA A SUA FACE "OCULTA":
ResponderExcluirNÃO PASSA DE UM ATIVISTA BOLSONARISTA BAJULADOR E BABA-OVO DE MILICOX
E no balanço das horas tudo pode mudar...
ResponderExcluirColunista a soldo? O gaspari chama os bolsonaristas de golpistas. Foi o que eu li.
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