O Globo
A vitória produziu emoção, a derrota de
2016, perseguição
A terceira posse de Lula foi
pura emoção. A cachorrinha Resistência subiu a rampa, Lula lembrou o golpe do
impedimento de Dilma
Rousseff e mostrou sua gratidão àqueles que acamparam em
Curitiba, debaixo da sala onde esteve preso. Repetiu que governará para todos
e, sobretudo, para o andar de baixo. Atento ao andar de cima, nomeou para o
Ministério das Cidades o empresário Jader Barbalho Filho, irmão do governador
paraense, Helder
Barbalho.
A multidão na Praça dos Três Poderes foi
coisa nunca vista, sobretudo pela alegria. Havia algo de épico nas cenas. Nada
mais épico que a partida de Vasco da Gama para a Índia, e nada melhor que o
poema de Luís de Camões para descrevê-la. Mesmo assim, ele colocou na cena do
embarque da frota o Velho do Restelo dizendo:
Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Na partida das naus de Lula 3.0, o PT deve se lembrar do fim do governo de Dilma 2.0. As multidões também iam às ruas, com o objetivo oposto. Dois anos depois, elas colocaram Jair Bolsonaro no Planalto e por pouco não o reelegeram no ano passado.
Em maio de 2016, o Senado afastou
temporariamente a presidente Dilma Rousseff, e assumiu o vice, Michel Temer.
Três meses depois, o afastamento tornou-se definitivo. Prometendo novos tempos,
Temer nomeou o jovem Helder Barbalho, de 37 anos, no Ministério da Integração
Nacional. Seu pai, Jader, governou o Pará por duas vezes. Foi também ministro
da Previdência e do Desenvolvimento Agrário.
No andar de cima, velho e o novo andam
juntos. Às vezes, essa convivência dá um trabalho danado.
Na queda de Dilma Rousseff, centenas de
pessoas perderam seus cargos. O “Bessias” do telefonema interceptado
ilegalmente pela turma da Lava-Jato, em 2016, deixou a assessoria de assuntos
jurídicos da Casa Civil da Presidência. Jorge Messias, servidor de carreira da
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, é o novo advogado-geral da União.
Dias depois do afastamento de Dilma
Rousseff, cometeu-se um ato de mesquinharia explícita contra o andar de baixo.
Acusado (falsamente) de ser petista e de xeretar conversas, foi demitido do
Palácio do Planalto o garçom José da Silva Catalão. Ele tinha 52 anos e oito no
serviço. Era uma figura popular no quarto andar do palácio. Pediu para ser
poupado, trocando de copa, mas não foi atendido. Rua. Ao saber da demissão,
Lula telefonou para Catalão, confortando-o.
Na passagem do poder de Dilma Rousseff para
Michel Temer, a demissão do garçom foi simbólica, por irreversível. Não
custaria que o chamassem de volta, para outra copa. Afinal, boa parte da base
de apoio de Dilma estava aninhada no novo governo. Diante da repercussão de seu
caso, o garçom recolheu-se.
Catalão foi salvo da rua da amargura pela
senadora Kátia Abreu. Semanas depois, ela levou-o para seu gabinete.
A festa petista de 2023 está cheia de
projetos, e Jair Bolsonaro contribuiu para a alegria, dando-lhe o prazer de sua
ausência. Lula repete que governará para todos. Em oito anos de poder, nunca
perseguiu adversário. Bolsonaro fez o contrário, mas isso é passado. No
exercício do poder, o problema está no guarda da esquina ou no burocrata
prestativo. Não foi Michel Temer quem mandou demitir Catalão, mas o caso do
garçom marcou o início de seu governo.
O colunista tem razão: Jair Bolsonaro deu o prazer da sua ausência!
ResponderExcluirVerdade.
ResponderExcluir