Valor Econômico
Há indícios de sabotagem em diversos
setores
A gravidade dos atos terroristas contra o
coração da República já era mais do que óbvia no início da noite de domingo,
quando a Federação Única dos Petroleiros divulgou uma nota alertando que
atuação de bolsonaristas radicais poderia ir além. Havia movimentações no
sentido de impedir o fornecimento de combustíveis à população, dizia a FUP.
Nas últimas horas, surgiram indícios de que
algo estranho também ocorreu no setor elétrico. Importantes torres de
transmissão caíram. Ou foram derrubadas. Há sinais de vandalismo. Semanas
antes, um caminhão-bomba foi encontrado - e neutralizado - perto do aeroporto
de Brasília.
Investigações precisam apontar se há uma conexão entre esses episódios. Já é possível dizer, contudo, que no limite, se todas essas ações tivessem alcançado seus objetivos, os danos à economia e ao tecido social brasileiro seriam gravíssimos. Isso, claro, sem falar nas incontáveis vítimas que poderiam ter provocado.
Na nota divulgada no domingo, a FUP disse
ter entrado em contato com o serviço de inteligência e segurança corporativa
da Petrobras,
com o presidente da empresa indicado pelo governo Lula, o senador Jean Paul
Prates (PT-RN), e com órgãos federais da área de segurança pública. Alertou
para possíveis atos golpistas em refinarias da companhia em todo o país.
Um dos primeiros seria contra a Refinaria
de Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro. Não demorou para que a Polícia
Rodoviária Federal (PRF), a qual nos últimos anos alinhou-se ao bolsonarismo e
agora corre para recuperar a sua imagem, confirmasse que estava no local com
outras forças de segurança. Havia uma ocorrência em andamento.
Outras refinarias também estavam na mira
dos golpistas. Em Minas Gerais, o policiamento era reforçado em Betim, onde se
encontra a Refinaria Gabriel Passos (Regap). A Petrobras,
por sua vez, assegurava que as refinarias operavam normalmente e eram tomadas
todas as medidas preventivas de proteção, conforme procedimento padrão.
Diante da gravidade do caso, o próprio
ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, decidiu manifestar-se
publicamente. Por meio de nota, informou que a pasta, em articulação com outras
instituições, garantia “a normalidade do abastecimento nacional de combustíveis
e o funcionamento adequado de refinarias, terminais e bases de distribuição”. E
complementou: “Além de monitorar o status de protestos nessas estruturas,
seguimos atentos e em articulação com outras pastas e Estados para assegurar o
suprimento”.
Não é para menos. A história recente do
país mostra o potencial estrago social, político e econômico que uma falta de
combustíveis pode causar.
Conforme detalhou nessa terça-feira
reportagem produzida pela sucursal do Rio do Valor, caso tivessem sucesso em
suas movimentações, os bolsonaristas radicais poderiam, bloquear o acesso a
refinarias e restringir o suprimento de combustíveis no país. A maior parte do
diesel consumido no Brasil tem como origem justamente as refinarias nacionais.
O que vem do exterior abastece principalmente as regiões Norte e Nordeste, e o
diesel tem se tornado um produto mais escasso desde o início da guerra na
Ucrânia no mercado internacional.
Tudo indica que a audácia dos terroristas
foi além. Os repórteres Robson Rodrigues e Fábio Couto, também do Valor, revelaram que um boletim
do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registrou quedas de torres de
transmissão em três pontos diferentes do país. Apesar dos danos, o abastecimento
de energia não foi afetado.
Refinarias, aeroportos e linhas de
transmissão de energia. Esse tipo de ativo tem nome e sobrenome na bibliografia
que trata dos temas de inteligência e segurança nacional: infraestrutura
crítica. Traduzindo, são instalações, serviços e bens que, se interrompidos ou
destruídos, podem provocar grave impacto social, econômico ou político, além de
dano à segurança nacional.
A proteção de infraestruturas críticas
tornou-se uma prioridade de grandes potenciais mundiais depois dos atentados
realizados nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001. No Brasil, o tema
ganhou evidência em 2006 por causa dos ataques executados por uma facção
criminosa em São Paulo.
O resultado dessa tendência foi a
construção, nos anos seguintes, de um arcabouço legal sobre o tema. Em 2020,
por exemplo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou um decreto
estabelecendo a Estratégia Nacional de Segurança de Infraestruturas Críticas.
Pelo ato, o trabalho de identificação e análise desses potenciais alvos ficou a
cargo do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI),
área que passa por uma reestruturação desde a troca de governo.
Esse trabalho teve início nas áreas de
comunicações, energia, transportes, finanças e águas. Tudo em parceria com
outros órgãos públicos e entes privados.
Podem-se destacar trechos interessantes dos
documentos oficiais que abordam essa temática. Um deles, a “Estratégia Nacional
de Inteligência”, diz que entre as ações contrárias ao estado democrático de
direito estão os atos que atentem contra o pacto federativo, o bem-estar e a
saúde da população, o pluralismo político e as infraestruturas críticas do
país. São citados também atos ou atividades que representem risco aos preceitos
constitucionais relacionados à integridade do Estado.
Quando se descreve o conceito de
“sabotagem”, anota-se que esta é a ação deliberada, com efeitos físicos,
materiais ou psicológicos para destruir, danificar, comprometer ou inutilizar
“instalações ou sistemas logísticos, sobretudo aqueles necessários ao
funcionamento da infraestrutura crítica do país”.
Os estragos materiais e imateriais
produzidos pelos extremistas estão feitos. Uma maior articulação intersetorial
do governo poderia, sim, ter evitado o pior. Mas as instituições reagiram de
forma firme e tempestiva: mostraram que não se deixarão subjugar por uma
minoria radical. Terroristas. A partir de agora, as instituições precisam
avançar rápido com as investigações, desvendar o que de fato ocorreu e levar os
responsáveis a julgamento.
Acho que temos aqui uma análise sensata sobre terrorismo, sim. Parabéns ao colunista e ao blog que nos apresenta o trabalho dele!
ResponderExcluirLula e o PT tiveram uma grande vitória, que lhes caiu no colo por causa da burrice adversária. Mas..., perguntar não ofende: se a FUP sabia "das coisas" em gestação, Lula e o PT também sabiam...
ResponderExcluirCuidadosa e detalhadamente ("...o trabalho de identificação e análise desses potenciais alvos ficou a cargo do...") Exman ofereceu a indicação precisa do rastro a seguir
ResponderExcluirFernando Exman sabe das coisas.
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