O Globo
O fortalecimento da democracia no país
passa por um projeto crítico ao PT que permita a recuperação do eleitor que um
dia foi do PSDB
Desde a eleição presidencial de 2018, os
partidos de centro-direita no Brasil estão em crise. A vitória de Bolsonaro com
uma plataforma de extrema direita — associada a um discurso de
pseudoliberalismo econômico na figura de Paulo Guedes —
capturou um eleitorado, antipetista, que estava familiarizado com o projeto da
centro-direita encabeçado pelo PSDB,
mas que passou a enxergar Bolsonaro como único capaz de derrotar o PT.
Com os atos terroristas promovidos por bolsonaristas no dia 8 de janeiro, esse eleitorado da centro-direita pode ter caído na real. Pesquisa realizada pelo Datafolha mostra que 93% dos brasileiros repudiam os atos extremistas, e 55% acreditam que Bolsonaro teve alguma responsabilidade pelas cenas de depredação e vandalismo na capital federal. Há, então, uma provável fatia — que votou em Bolsonaro em 2018 e em 2022 — descontente com as consequências da postura do ex-presidente de atentar contra a democracia.
A centro-direita tem uma oportunidade de
recuperar seu protagonismo. Num momento em que há uma percepção clara de que o
discurso bolsonarista provoca a violência e a desordem social, parte do
eleitorado deve buscar na centro-direita uma alternativa à barbárie. Diante da
oportunidade, os partidos que ocupam a centro-direita já se movimentam. MDB, Cidadania,
PSDB, PSD e União Brasil divulgaram
notas em repúdio aos atos e em defesa da democracia.
Tais notas, contudo, não são suficientes
para recuperar esse eleitorado. É preciso que a centro-direita assuma uma
postura de oposição — democrática e propositiva — ao governo Lula.
Desde já, o governo federal demonstra sinais confusos na agenda econômica e nos
critérios éticos da escolha para o comando de determinados ministérios. Esses
gargalos — administrativos e éticos — apresentados no início do mandato dão
oportunidades para que a centro-direita tenha uma postura oposicionista.
Alguns partidos desse campo, contudo,
optaram pela adesão imediata ao governo por acreditar que o sucesso do governo
Lula pode ser a retomada da normalidade política brasileira. No entanto a
defesa da democracia e a retomada dessa normalidade não podem estar associadas
ao sucesso do governo Lula, mas sim à construção de uma alternativa democrática
e competitiva à barbárie bolsonarista, que possa enfrentar o PT dentro das
regras do jogo.
O fortalecimento da democracia no país
passa pela construção de um projeto de centro-direita crítico ao PT que permita
a recuperação do eleitor que um dia pertenceu ao PSDB e chegou ao bolsonarismo.
Enquanto essa alternativa democrática não for construída, muitos ainda
enxergarão — de forma errônea e infundada — a tragédia bolsonarista como única
saída para expressar o antipetismo e o desejo pelo diferente.
Há uma chance para a civilidade retornar à política
brasileira. Os “anos de ouro” de disputa entre PSDB e PT são um exemplo da
democracia que precisa ser resgatada no Brasil. A centro-direita tem o dever e
a responsabilidade de ocupar o espaço deixado pela barbárie bolsonarista e
mostrar que o PT pode ser contestado de forma democrática, plural e respeitosa,
sem vandalismos e rompantes autoritários.
*Gabriel Guimarães, cientista político formado pela FGV/CPDOC, é mestre e doutorando em ciência política no Iesp-Uerj
"Desde já, o governo federal demonstra sinais confusos na agenda econômica e nos critérios éticos da escolha para o comando de determinados ministérios"
ResponderExcluirConfusos?
Determinados?
Eu, hein, GaGui?
Parece papo de Bispo, tipo:
IGREJA UNIVERSAL - A CLOROQUINA DA FÉ
Saudade do debate civilizado,ou quase isso,entre o PT e PSDB.'Coxinha' e 'Mortadela' chega ser risível de tão inofensivo.
ResponderExcluirA maior parte dos coxinhas virou bolsonarista! E os coxinhas mais sensatos tiveram que se contentar com mortadela no ano passado...
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