Economista da Universidade de Brasília diz que “a gestão de caixa do governo tem que mudar”
Por Diego Viana — Para o Valor, de São
Paulo
O economista José Luis Oreiro, da
Universidade de Brasília, ressalta o custo financeiro maior com que o governo
tem arcado por causa da indexação:
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Fraga: ‘Vejo as medidas de Haddad com bons olhos. É o início de um trabalho
difícil’
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de Paula: ‘Um ajuste fiscal mais forte poderia repetir 2015’
Manoel Pires:
“Vamos ter que ter paciência. As balas de prata que geram economia já foram
usadas”
Valor: Como lhe parecem as primeiras medidas
anunciadas pelo ministro Haddad?
José Luis Oreiro: Elas buscam dar uma
espécie de satisfação ao mercado, ou seja, expressar que o governo não é
irresponsável, está preocupado com o equilíbrio fiscal, quer reduzir o déficit
primário. Acho que muitas não vão gerar o impacto previsto. O déficit deve
ficar em 1%. No fundo, a intenção é ganhar tempo, até ter uma estratégia fiscal
mais consistente, que terá que passar pelo aumento de impostos ou pela redução
do gasto tributário. Ou as duas coisas, que seria o ideal.
Valor: Do lado do gasto, há uma ênfase em revisões de contrato. É factível?
Oreiro: É possível revisar contratos,
mas a parte contratada tem que aceitar. Para tanto, será preciso admitir que os
contratos têm sobrepreço, o que não tem nada a ver com corrupção: as empresas
que prestam serviços ao governo sabem que ele é mau pagador. Atrasa, tem
contingenciamento, não libera. Então já embutem no preço uma certa margem. A
revisão pode trazer uma economia expressiva se o governo oferecer como
contrapartida a garantia de pagar em dia. A gestão do caixa do governo tem que
mudar. Os contingenciamentos são arcaicos, como se o governo não pudesse se
financiar. Temos que aprimorar a elaboração da LOA e do plano plurianual.
Valor: O sr. diz que não basta tratar
o problema fiscal só a partir do resultado primário. Por quê?
Oreiro: O debate fiscal ignora o
problema financeiro, o que leva a interpretações erradas. Por exemplo, ano
passado diz-se que as contas ficaram no azul. Não ficaram. O que se obteve
eliminando o déficit primário foi mais do que compensado com o aumento do gasto
com juros. As projeções para 2023 falam de R$ 700 bi em pagamento de juros. Em
2022, deve ter sido algo como R$ 550 bi. Como a Selic média vai ser mais alta,
o aumento é de uns R$ 150 bi. Estamos enxugando gelo. Fazemos superávit
primário para estabilizar a dívida, mas a conta de juros aumenta e a dívida
também.
Valor: O que podem as medidas
anunciadas?
Oreiro: Calculei o superávit primário
necessário em 2023 para que a dívida feche o ano no mesmo nível que em 2022. O
cenário mais benigno exigiria um superávit de 2%. As medidas anunciadas não
chegam nem perto. Mal cobrem o aumento de gasto com juros. Mesmo se for
possível zerar o déficit primário, grosso modo a dívida pública aumentaria 7
pontos percentuais do PIB. É complicado estabilizar a dívida olhando só para a
despesa primária.
Valor: Algo poderia ser feito no curto
prazo para reverter essa tendência?
Oreiro: No curto prazo, a única coisa
que se poderia fazer seria aumentar impostos. Conseguir uma redução sustentável
da conta de juros implica uma reforma monetária, a reforma inacabada do Plano
Real: seria a desindexação geral da economia. Sem ela, não tem como obter taxas
de juros estruturalmente mais baixas. A política monetária é pouco eficaz no
Brasil e por isso o patamar dos juros é exorbitante. Para manter a inflação na
meta, a dosagem de juros deve ser enorme. Uma das razões fundamentais é a
persistência da indexação. O Plano Real proibiu a indexação de contratos com
prazo inferior a um ano, mas é preciso que os mais longos também sejam
desindexados. Com contratos indexados, a moeda nacional perde a função de
unidade de conta.
Valor: Uma medida que o sr. sugere é
reduzir as LFTs na composição da dívida. Como conseguir isso?
Oreiro: Seria feito por intermédio do
plano de gestão da dívida pública, elaborado pela Secretaria do Tesouro
Nacional. Cerca de 50% da dívida bruta federal, hoje, é indexada à Selic,
porque é composta de LFTs e operações compromissadas. Um dos problemas resultantes
é o contágio da política monetária sobre a dívida: quando os juros sobem, o
custo de carregá-la aumenta logo. Se ela fosse 100% prefixada, o custo de
rolagem aumentaria gradualmente, na medida em que títulos que vencessem fossem
substituídos por novos. Outro problema é o efeito-riqueza: normalmente, quando
um BC sobe os juros, o valor da riqueza cai, o que tem impacto contracionista.
Aqui, é o contrário: quem tem aplicações financeiras aumenta a capacidade de
consumo. O Tesouro deve ter visão de longo prazo: quando a Selic cair, em vez
de reduzir o custo de carregamento da dívida rapidamente, deve aproveitar para
zerar o estoque de LFTs.
Valor: Em seu discurso de posse como
ministro do Desenvolvimento, o vice-presidente Geraldo Alckmin retomou o tema
da reindustrialização, já abordado por Lula. Algo nessas primeiras semanas
aponta nessa direção?
Oreiro: Por ora, só o discurso. A reindustrialização vai exigir um aumento significativo do investimento público. Antes de mais nada, temos que mudar nossa matriz energética, reduzindo o percentual de energia gerada com usinas térmicas e aumentando o emprego de eólicas e solares. Redigi, quando estava na equipe de transição, uma meta para o Plano Plurianual de reduzir à metade a participação da matriz térmica. Outro ponto seria expandir o transporte ferroviário, não só de carga, mas também de passageiros, porque querosene de aviação emite muito CO2, assim como os caminhões. Outro ponto é que a indústria passou por vários anos de baixo investimento e o estoque de capital está velho. O BNDES poderia ter um programa de crédito para modernizá-lo. Para evitar cometer os erros do passado, esse crédito poderia ser condicionado à obtenção de metas de exportação e fatias do mercado mundial.
O MERCADO CHIOU, ELEVOU DÓLAR E DERRUBOU BOLSA, COM A 'PEC DO ANDAR DE BAIXO' DE 143 BILHÕES, DO LULA.
ResponderExcluirMAS PARECE QUE FICOU FELIZ DA VIDA E CALADINHO COM A 'PEC DA AMERICANAS' DE 43 BILHÕES, QUE FAVORECEU O ANDAR DE CIMA.
AH, ESSE MERCADINHO PERALTA VICIADO EM JOGOS A VALER...
Muito boa a entrevista,quem sabe,sabe!
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