Folha de S. Paulo
Os dedos do governo Bolsonaro atuam em
várias frentes na tragédia dos yanomamis
De 1848 a 1855, a "corrida do
ouro" da Califórnia levou milhares de garimpeiros sedentos por ouro para o
novo estado recém-conquistado na guerra contra o México. No processo, dezenas
de milhares de indígenas foram mortos por violência, epidemias e fome. O
"genocídio da Califórnia", como ficou conhecido, teve participação
direta inclusive de agentes do Estado norte-americano.
O governo Bolsonaro não mandou homens armados, não comandou garimpeiros, não despejou diretamente mercúrio nos rios nem carregou o protozoário da malária para matar os yanomamis. Ao deixar que a corrida do ouro da Terra Indígena Yanomami ocorresse com mais liberdade do que nunca, no entanto, e ao sonegar medidas de cuidado básico com a população indígena, produziu o mesmo resultado.
Bolsonaro sempre deixou clara sua atitude
quanto aos povos indígenas: ou se integram à sociedade ou o trator do
"progresso" passará por cima. Em 1992, propôs um projeto de lei pela
extinção da terra yanomami. Já presidente, reuniu-se com madeireiros e garimpeiros
para liberar a exploração econômica das terras indígenas. Declarava com orgulho
que Roraima era um estado "engessado por política indigenista, política
ambiental e direitos humanos". Ele sem dúvida tirou o gesso. Pelo bem dos
indígenas, é claro, como a situação humanitária dos yanomamis nos últimos anos
deixa evidente.
Os dedos do governo atuam em tantas frentes
nessa tragédia. No não envio de medicamentos e alimentos —ou de medicamentos
prestes a vencer. Na contratação de aeronaves do garimpo e ONGs evangélicas,
cujo auxílio não chega aos indígenas. No descaso com inúmeros relatórios da
piora da situação dos yanomamis, inclusive apontando vínculos de garimpeiros
ilegais com militares. No apagão de contratações para fiscalizar o meio
ambiente. No aparelhamento da Funai para
trabalhar contra as bandeiras indígenas e a demarcação de terras.
O garimpo cresceu mais de 3.350% de 2016 a
2022 na região (dados do relatório "Yanomami sob Ataque", da Hutukara
Associação), agora com financiamento de facções do tráfico de drogas.
Com os mais de 20 mil garimpeiros na terra, vem não apenas o envenenamento dos
rios com mercúrio —mais da metade da população yanomami tem níveis de mercúrio
no sangue acima do limite. Também a malária —que infectou 40% da população em
2022, causando mortes e impedindo o trabalho. Sem falar da exploração sexual, a
chantagem com dinheiro e bebida, a ameaça e o homicídio.
Por trás de tudo isso, há um problema
social: por mais insustentáveis que sejam os ganhos do garimpo predatório, eles
representam um aumento de renda temporário para a maioria dos envolvidos. Assim
como o crime organizado nas cidades, o crime organizado na selva conta com
oferta de mão de obra barata graças à pobreza local. A
Amazônia é nosso maior patrimônio ambiental —dele depende inclusive a
força do nosso agro—, mas sua preservação tem que oferecer respostas viáveis
para as milhões de pessoas que vivem nela em condições muito precárias e buscam
melhorar de vida.
Não sei o que mais surgirá das
investigações, nem como os indícios coletados serão julgados por instâncias
nacionais e internacionais. Se Bolsonaro é responsável pelo crime de genocídio, pelo
mais genérico "crime contra a humanidade", ou se é inocente. Uma
coisa, contudo, já podemos dizer: a destruição dos yanomamis e outros povos é o
que ele sempre quis e é o que seu governo promoveu com muita eficiência. Com
mais quatro anos, talvez completasse a missão.
É lógico que Bolsonaro é inocente! E Joel Fonseca é um grande colunista... Quem me acusar de mentiroso estará dizendo a verdade!
ResponderExcluirPois é.
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