Folha de S. Paulo
Maioria das áreas tem progresso inegável,
mas da economia podem vir os desastres da nova gestão
Um governo solidamente petista e que
prioriza a governabilidade, com espaço reduzido para a frente ampla. Isso não é
uma crítica, é uma descrição do que vemos. Ele se parece muito mais com um
governo do PT do que com um governo de união das forças
democráticas e da sociedade civil.
Para a maioria das áreas, é um progresso inegável. Camilo Santana, Nísia Trindade e Marina Silva são um respiro de ar puro depois da terra arrasada que o governo Bolsonaro deixou em suas pastas. Um país que prioriza o ensino básico, que retoma a vacinação universal —perigosamente negligenciada nos últimos anos— e que protege seus biomas. Se forem bem-sucedidos, deixarão um legado importante.
Com número significativo de ministros do
PSD, MDB, PSB,
PDT e União
Brasil, podemos dizer a que a política voltou a Brasília pela
porta da frente. No início de seu governo, Bolsonaro se colocara frontalmente
contra a negociação de cargos. Compor com partidos no Congresso era, por si só,
algo similar à corrupção. Quem governaria seria o "povo na rua"
exigindo as bandeiras anunciadas pelo capitão. Foi um fracasso total, e o
Congresso apenas se fortaleceu. Quando mudou de postura, Bolsonaro entregou
cargos e orçamento ao centrão da forma menos transparente possível.
Outra marca do governo Bolsonaro que,
felizmente, não vemos: cargos dados a ideólogos e falastrões sem qualquer
competência para suas pastas. Não há nada próximo de Ernesto
Araújo, Weintraub, Milton Ribeiro, Onyx
Lorenzoni, Osmar Terra, Damares. Ao longo do governo Lula, imagino
que haverá muito o que discutir sobre, digamos, a política educacional do MEC, mas
será uma discussão sobre políticas públicas, não sobre se as universidades
traficam drogas ou se gays atentam contra a família. A política voltou e saiu
do hospício.
A "frente ampla" ficou mais
estreita e está representada em Simone
Tebet, Marina Silva e Geraldo Alckmin. É pouco, e muito se
espera deles, especialmente Tebet e Alckmin. É da economia, afinal, que podem
vir os maiores desastres da nova gestão.
Empresas estatais e bancos públicos
inspiram mais preocupação. Já era esperado que não veríamos privatizações. Mas,
dentro de um horizonte de gestão estatal, há toda uma gama de possibilidades:
desde uma gestão eficiente e que busca seguir os sinais do mercado a uma gestão
politizada que submete as empresas a uma agenda de curto prazo. Petrobras
baixando o preço dos combustíveis para agradar consumidores e segurar a
inflação e bancos públicos emprestando a juros baratos e sem critério para
estimular a economia são receita para a volta da crise.
Verdade seja dita: até agora, as
entrevistas e falas de Haddad têm
ido na direção certa: equilíbrio fiscal, parcerias público-privadas, reforma
tributária. Aliás, há nomes do PT e de partidos próximos que representam essa
esquerda moderna, que sabe ser pragmática e moderada. Rui Costa e Flávio Dino
estão nessa lista também.
Só não se sabe até que ponto essas falas
realmente determinarão o rumo do governo. Haddad queria encerrar a isenção
fiscal da gasolina já no início do mandato, medida impopular mas que já
mostrava compromisso com as contas públicas. Lula decidiu estendê-la por pelo
menos mais dois meses.
A economia é uma pasta importante, não a
única. Não tenho dúvidas de que estaremos melhor na Saúde, na Educação, no Meio
Ambiente, nas relações internacionais. Mas, se não se evitar os piores erros na
economia, ela pode puxar todas as outras para o buraco.
Concordo.
ResponderExcluirSe houver erro, haverá erro. Se o governo não governar bem, governará mal.
Se o Haddad não for bem, ele irá mal...
O colunista se contradisse. Começa falando e terminando em estreitamento da frente ampla, mas no meio reconhece que "com número significativo de ministros do PSD, MDB, PSB, PDT e União Brasil, podemos dizer que a política voltou a Brasília pela porta da frente." O PT tem apenas 10 ministros, bem menos que nos governos anteriores de Lula. Houve sim uma diminuição da participação petista nos ministérios e AMPLIAÇÃO da frente ampla com a inclusão de maioria de ministros provindos dela. Porém, os petistas dominam alguns dos principais ministérios!
ResponderExcluirApesar de ser um governo petista,a frente ampla se fez,na minha modesta opinião.
ResponderExcluir"Uma gestão eficiente e que busca seguir os sinais do mercado"...
ResponderExcluirPorque não 'uma gestão plenamente submissa aos ditames do mercado', hein, Joel?
Mais de acordo com seu raciocínio imbecil.