O Estado de S. Paulo.
É bom para o País que as novas regras fiscais não impeçam a retomada dos investimentos em infraestrutura
A infraestrutura do setor público
brasileiro enfrenta uma situação catastrófica, apresentando forte deterioração
dos ativos sob gestão do Estado. Os investimentos públicos realizados pelo
governo federal atingem pisos históricos, não sendo suficientes nem mesmo para
cobrir a depreciação dos ativos. Nesse contexto, lideranças políticas dos
Poderes Executivo e Legislativo devem atuar de forma coordenada para promover
uma agenda fiscal favorável à realização de investimentos na formação bruta de
capital fixo do Estado.
Para começar, é preciso ter claro que infraestrutura é um setor reconhecido como dos mais importantes para a retomada do crescimento econômico de um país. Em estudo recente do Fundo Monetário Internacional (FMI) – intitulado Investimento público para a recuperação –, a importância do investimento público ganha destaque como fator essencial para o dinamismo das economias. Os analistas do FMI demonstram resultados instigantes. Por exemplo, o aumento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do investimento público pode elevar a confiança na recuperação e reforçar o PIB em 2,7%, o investimento privado, em 10%, e o emprego, em 1,2%. Em outras palavras: gasto público em infraestrutura gera emprego e renda.
Sabe-se que o Brasil enfrenta gargalos
importantes na área da infraestrutura. A preços constantes, os investimentos
públicos e privados realizados em 2014 somaram R$ 81,8 bilhões e R$ 125,7
bilhões, respectivamente. Foram aplicados R$ 207,5 bilhões no setor de
infraestrutura. No ano de 2021, o setor público investiu somente R$ 29 bilhões
– o menor valor da série histórica –, enquanto o setor privado aplicou R$ 119,2
bilhões. Ou seja, o investimento total somou R$ 148,2 bilhões, o que representa
uma queda de quase 30% em relação ao número de 2014.
Para ter-se uma ideia do que esses valores
representam, a Alemanha iniciou recentemente um plano de investimentos públicos
de 86,2 bilhões de euros – ou R$ 480 bilhões – ao longo de dez anos, com
objetivo de modernizar a malha ferroviária. Ou seja, o governo alemão pretende
investir por ano, em um único segmento do modal de transportes, muito mais do
que o setor público brasileiro aplicou em todo o setor de infraestrutura em
2021. A necessidade de ampliar o parque ferroviário brasileiro foi um dos
motivos que me inspiraram a apresentar o projeto de lei que deu origem ao atual
marco jurídico das autorizações no setor ferroviário.
Segundo projeções da Associação Brasileira
da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), os investimentos em
infraestrutura no Brasil deveriam atingir 4,3% do PIB nos próximos dez anos
para o País reduzir gargalos ao desenvolvimento econômico e social. Isso
corresponde a algo em torno de R$ 430 bilhões, isto é, o dobro do que se
investiu em 2014.
Nota-se que o setor de transportes e
logística é um dos que mais sofrem com a falta de recursos, apresentando grande
defasagem em relação ao que é necessário investir. Estima-se uma necessidade de
investimentos anuais de 2,26% do PIB no setor, mas o volume investido atingiu
somente 0,35% em 2021. O desafio é ainda maior quando se considera a baixa
qualidade das estradas: dois terços das rodovias sob gestão pública apresentam
péssimo estado de conservação, segundo pesquisa da Confederação Nacional dos
Transportes (CNT).
Para reverter esse quadro, lideranças
políticas do Executivo e do Legislativo precisam promover uma agenda capaz de
impulsionar os investimentos públicos no setor de infraestrutura. A Emenda
Constitucional (EC) n.º 126, aprovada no final do ano passado com o apelido de
“PEC da Transição”, representou um primeiro passo nesse sentido. Ao introduzir
mudanças no teto de gastos constitucional, a emenda ampliou em R$ 145 bilhões o
espaço fiscal para novos gastos no Orçamento deste ano, permitindo a
recomposição do orçamento de diversos ministérios, inclusive aqueles que fazem
a gestão dos investimentos em infraestrutura.
O atual ministro dos Transportes, o senador
eleito Renan Filho, apresentou na semana passada um plano de investimentos para
os próximos cem dias, com transparência e objetividade. Na ocasião, detalhou o
planejamento dos investimentos que serão realizados no setor de rodovias e
ferrovias, destacando obras estruturantes que poderão ampliar a capacidade de
escoamento da produção agrícola.
O principal desafio da equipe econômica –
Ministérios da Fazenda e do Planejamento – é manter as contas públicas em
equilíbrio para sinalizar que esses investimentos em infraestrutura serão
realizados em um ambiente fiscalmente responsável. A grande questão a ser
discutida será a nova âncora fiscal de médio e longo prazo que irá substituir o
teto de gastos, dado que a EC 126 prevê um novo regime fiscal a ser
regulamentado por meio de lei complementar.
Esse novo arcabouço fiscal precisa tratar
os investimentos públicos de forma diferenciada, sem perder de vista a
importância do controle dos gastos correntes. É bom para o País que as novas
regras fiscais não impeçam a necessária retomada dos investimentos do governo
federal em infraestrutura.
*senador (PSDB-SP)
Serra msis uma vez fazendo 'lobby' pra seus, digamos, investidores
ResponderExcluirMaus um venenoso disposto a destilar veneno. Nem a vitória de se deus de barro aplaca os instintos maldosos da corja.
ResponderExcluirJosé Serra.
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