Correio Braziliense
Compatibilizar a retomada industrial com a
economia verde e combater o desmatamento desenvolvendo a economia local com a
floresta em pé são prioridades do novo governo
O vice-presidente Geraldo Alckmin, no
Desenvolvimento, Indústria, Comércio e serviços, e a deputada Marina Silva, no
Meio Ambiente, protagonizaram, ontem, as cerimônias de posse mais concorridas
da Esplanada, com discursos que apontam para duas prioridades, entre outras: a
reindustrialização do país, que perdeu complexidade industrial, e o combate ao
desmatamento, um verdadeiro ovo de Colombo do ponto de vista ambiental. Os dois
setores estão entre os mais prejudicados pela política econômica do governo
Bolsonaro.
Ao lado do presidente Lula, Alckmin fez um longo discurso sobre a situação da estrutura produtiva do país e destacou que “a reindustrialização é essencial para que possa ser retomado o desenvolvimento sustentável e que essa retomada ocorra sob o único prisma que a legitima: o da justiça social”. Para Alckmin, a recriação do ministério foi necessária para “reconstruir o país e retomar o caminho do desenvolvimento”. A novidade na proposta de Alckmin, porém, é compatibilizar a retomada industrial com a economia verde, para que o Brasil possa ser um “grande protagonista do processo de descarbonização da economia global” e possa integrar às cadeias globais de valor com investimentos em inovação e novas tecnologias nas áreas onde pode ter competitividade.
Embora o discurso não agrade setores
liberais, que veem na política industrial uma forma indevida de intervenção do
Estado na economia, Alckmin tem razão quando afirma que o Brasil não pode
prescindir da sua indústria se tiver ambições de alavancar o crescimento
econômico e se desenvolver socialmente. “Ou o país retoma a agenda do
desenvolvimento industrial, ou não recuperará o caminho de crescimento
sustentável, gerador de empregos”, disse.
O papel de Alckmin será decisivo, também,
do ponto de vista político, porque o vice-presidente da República sempre teve
boas relações com o empresariado, principalmente paulista. De certa forma, seu
discurso buscou um ponto de equilíbrio entre a política econômica do governo e
o mercado.
Há muita especulação no mercado financeiro
em relação à política econômica do governo Lula e ao desalinhamento entre os
ministros, que gera mais confusão, como as declarações desastradas do ministro
da Previdência, Carlos Lupi, sobre a reforma da Previdência. Alckmin será uma
peça-chave na articulação da equipe econômica do governo Lula, que inclui
Simone Tebet, no Planejamento, e Carlos Fávaro (PR), na Agricultura, ao atuar
como algodão entre os cristais, para que a política a ser adotada pelo ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, tenha complementariedade nas demais pastas.
Desmatamento
Outra estrela a tomar posse foi Marina, que
assumiu o Ministério do Meio Ambiente com o propósito de alcançar o
desmatamento zero. O impacto que isso pode ter no plano internacional é
formidável, porque reduz fortemente a taxa de aquecimento global. É um
verdadeiro ovo de Colombo. A primeira-dama Janja acompanhou a posse.
Há razões para otimismo. Com exceção dos
últimos quatro anos, nenhum outro país reduziu tanto suas emissões de carbono
como o Brasil. Nosso diferencial é a soberania sobre 60% da maior floresta
tropical do mundo, a Amazônia. Cerca de 44% de nossas emissões de gases de
efeito estufa decorrem da mudança de uso da terra, ou seja, o desmatamento,
principalmente na Região Amazônica.
É muito mais fácil e barato — portanto,
mais eficiente — combater o desmatamento do que alterar a toque de caixa os
sistemas de energia, de transporte, de padrão construtivo, de produção de
alimentos, embora isso deva ocorrer. O Brasil tem expertise para isso: entre
2004 e 2012, reduziu o desmatamento na Amazônia em 84% e, consequentemente,
suas emissões em 67%. A mudança de rumo no ministério, se houver cooperação e
coordenação interdisciplinar com outras pastas, como anunciou Marina, pode
perfeitamente tornar irrisório o desmatamento e encontrar outras formas de
atender às necessidades de 38 milhões de brasileiros na Amazônia, cerca de 12%
da população, em condições em geral precárias, que desejam e merecem uma vida
mais próspera.
Não adianta isolar e tratar a floresta como
um parque intocado. É inviável politicamente e ineficaz. A chave é combinar
controle ambiental com repressão às ilegalidades e iniciativas que tornem a
floresta em pé mais valiosa para a população local do que sua derrubada, como
propôs Marina. Com o governo Lula, tendo Marina à frente da pasta, abre-se a
possibilidade de uma nova economia da floresta, gerando produtos e tecnologia.
O potencial de descobertas farmacológicas e químicas a partir da biodiversidade
também é enorme e pode substituir a pecuária de baixa produtividade e o garimpo
ilegal.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, no Desenvolvimento, Indústria, Comércio e serviços, e a deputada Marina Silva, no Meio Ambiente, protagonizaram ontem as cerimônias de posse mais concorridas da Esplanada, com discursos que apontam para duas prioridades, entre outras: a reindustrialização do país, que perdeu complexidade industrial, e o combate ao desmatamento, um verdadeiro ovo de Colombo do ponto de vista ambiental. Os dois setores estão entre os mais prejudicados pela política econômica do governo Bolsonaro.
3 verdadeiros ovos de Colombo
ResponderExcluirMarina e Geraldo,ótimos quadros,o Brasil agradece.
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