Correio Braziliense
Estima-se que 570 crianças foram mortas pela contaminação por mercúrio, desnutrição e fome. Além disso, em 2022 foram confirmados 11.530 casos de malária entre os Ianomâmis
Em março de 2014, o fotógrafo Sebastião Salgado realizou uma expedição à Terra Indígena Ianomâmi. Em seus registros estão a tradicional festa fúnebre Reahu, realizada na aldeia Demini, morada do líder Davi Kopenawa, e a subida ao Pico da Neblina com um grupo de xamãs Ianomâmi, fotos publicadas na edição digital do Washington Post, naquela ocasião. Em preto e branco, são imagens fortes e fascinantes, como são todas que o consagraram o fotógrafo brasileiro. Como na exposição “Genesis”, aquele ensaio passa o mesmo sentimento de um lugar num tempo diferente do nosso. Salgado já havia percorrido a região nos anos 70 e 90 do século passado. Um poster dos Ianomami olhando para o Yaripo, o cume do Pico da Neblina, no site do Instituto Terra, custa R$ 250. São indígenas alegres, bonitos, robustos e saudáveis.
Ontem, quando me preparava para escrever
mais uma coluna sobre as relações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com
as Forças Armadas, o assunto da semana, cujo desfecho foi a troca de comando do
Exército, recebi do meu amigo Jorge Venâncio, médico sanitarista que conheço
desde os nossos tempos de estudante, uma série de 16 fotos coloridas de
crianças, jovens, adultos e idosos Ianomâmi que parecem cenas de um campo de
concentração nazista. Foram distribuídas pelos líderes Ianomami e são a
realidade nua e crua de uma aldeia da Reserva Ianomami em Roraima, após a
chegada dos garimpeiros à região. Situação tão grave que levou o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva a visitar o local, apesar da crise militar. A situação
envergonha a nação e corrobora o acerto da criação do Ministério dos Povos
Indígenas.
Somente neste ano, 99 crianças do povo
Ianomâmi morreram devido ao avanço do garimpo ilegal na região. As vítimas
foram crianças entre um e 4 anos. As causas da morte são, na maioria, por
desnutrição, pneumonia e diarreia. Estima-se que 570 crianças foram mortas pela
contaminação por mercúrio, desnutrição e fome. Além disso, em 2022 foram
confirmados 11.530 casos de malária no Distrito Sanitário Especial Indígena Ianomâmi,
distribuídos entre 37 Polos Base. As faixas etárias mais afetadas são as
maiores de 50 anos, seguidas pela faixa etária de 18 a 49 e 5 a 11 anos. Devido
ao caos sanitário, o Ministério da Saúde decretou emergência de saúde pública.
O ex-presidente Jair Bolsonaro é o grande
responsável pelo que ocorreu. Não só sufocou os órgãos responsáveis pela
assistência aos indígenas como liberou o garimpo ilegal no país. O que lhe
falta de empatia em relação aos índios, sobra de apoio aos garimpeiros, talvez
porque tenha sido um deles nos tempos em que serviu o Exército em Goiás.
Bolsonaro não tem nenhum laço de ancestralidade com os indígenas brasileiros.
Como se sabe, esse é o fio da vida, da
sabedoria, da identidade, do pertencimento e da criatividade, que tece o
passado, o presente e o futuro, formando uma teia de relações que conecta a
humanidade. É também a memória que transcende o espaço e o tempo para recriar
futuros possíveis e saudáveis. Pensar em todas as pessoas que vieram antes de
você é entender que há algo muito maior dentro de nós, um caminho que vem sendo
traçado de várias formas, inclusive culturalmente. Os negros brasileiros buscam
essa ancestralidade para combater o racismo estrutural; para preservar suas
terras e sobreviver, os indígenas brasileiros também, principalmente depois
Constituição de 1988.
A terra-floresta
Falamos muito da riqueza e da
biodiversidade da Amazônia, mas pouco do tesouro cultural que ela abriga. A
antropologia estrutural de Claude Lévi-Strauss (1908-2009), grande intelectual
belgo-francês, não existiria sem nossos indígenas, nem ele seria um dos maiores
pensadores do século passado. Convidado a lecionar na recém-criada Universidade
de São Paulo, através de uma missão universitária francesa, de 1935 a 1939,
Lévi-Strauss fez diversas expedições pelo interior brasileiro, onde estudou
comunidades indígenas e teve a sua grande vocação para a etnologia desperta. O
registro dessas viagens está presente em Tristes Trópicos (1955), um clássico
da antropologia, que também fez dele um dos grandes intérpretes do Brasil.
Contrário à ideia de superioridade e
privilégio da civilização ocidental, Lévi-Strauss acreditava e enfatizava que a
mente selvagem e tribal é igual à mente civilizada. Seus estudos baseados na
linguagem e linguística possibilitaram novas perspectivas também para a
psicologia entender como a mente humana trabalha. “Meu único desejo é um pouco
mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem
ele — isso é algo que sempre deveríamos ter presente”, disse em 2005. Não à
toa, o imaginário Ianomâmi quer salvar o mundo.
Para eles, urihi, a terra-floresta, não é
um mero espaço inerte de exploração econômica. Trata-se de uma entidade viva,
inserida numa complexa dinâmica cosmológica de intercâmbios entre humanos e
não-humanos, que hoje está ameaçada pela ação dos garimpeiros e outros
predadores. O líder Ianomâmi Davi Kopenawa explica: “A terra-floresta só pode
morrer se for destruída pelos brancos. Então, os riachos sumirão, a terra
ficará friável, as árvores secarão e as pedras das montanhas racharão com o
calor. Os espíritos xapiripë, que moram nas serras e ficam brincando na
floresta, acabarão fugindo. Seus pais, os xamãs, não poderão mais chamá-los
para nos proteger. A terra-floresta se tornará seca e vazia. Os xamãs não
poderão mais deter as fumaças-epidemias e os seres maléficos que nos adoecem.
Assim, todos morrerão.”
Mais um motivo para indiciar a Bolsonaro por genocida perante o Tribunal Penal Internacional !!
ResponderExcluirAlguém ainda tem dúvida que o canalha foi GENOCIDA?
ResponderExcluirO assunto é índio, mas como Azedo falou em negros...Nós não temos racismo estrutural como os americanos; nosso apartheid é social. Isso porque o agrofascismo quando libertou os escravos negros em 1888, não fez uma reforma agrária que contemplasse cada ex-escravo com um pedacinho de terra. Absurdamente nossos nazilatifundiários ainda foram indenizados pelo Estado (Brasil Império). Eles argumentaram que afinal haviam comprado os negros. E os negros foram mandados para a rua com uma mão na frente e outra atrás. As únicas terras que restaram para os negros foram provenientes dos raros quilombos que escaparam da máquina de moer do agronazismo. Costumo dizer que AGRO é tudo, MENOS reforma agrária.
ResponderExcluirAgora voltando aos índios. Azedo se esqueceu de lembrar a menina ianomâmi de doze aninhos que foi estuprada e morta por um bolsonarista da esquina em abril de 2022.
ResponderExcluirCadê o EB no caso yanomami?
ResponderExcluirComo pode um genocídio acontecendo no Brasil passar despercebido pelos milicos?
Imaginem um inimigo invadindo o Brasil. Nem chegando a Brasília as FA percebem.
ExcluirIsso aconteceu em 08/01.
Não me digam q as FA sabiam da invasão porque isso implica q se omitiram. Omissão é proposital é ação.
Não à toa, o inimigo tem codinome "genocida e seu ministério".
Kkkkkkkkkkkkkkkll
Uma tristeza,só por Deus!
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