O Estado de S. Paulo.
Assim como reuniu o poder civil, Lula tem de unir as Forças Armadas pró-democracia
O presidente Lula e as Forças Armadas
“viram a página”, “olham para a frente” e discutem como financiar os programas
militares, com a iniciativa privada e recursos internacionais, mas isso não
significa jogar para debaixo do tapete a omissão proposital de uns e a
participação direta de outros militares no que o presidente percebeu como
“golpe de Estado”. A troca no comando do Exército é exatamente por isso.
O comandante que sai, general Júlio Cesar de Arruda, é das Forças Especiais (FE), consideradas “uma seita linha dura” no Exército, e, além de apontado como leniente com os acampamentos golpistas no Quartel General, se recusava a exonerar o tenente-coronel Mauro Cid do Batalhão de Ações de Comando. Cid, também das FE, foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e é alvo de ações por fake news em lives e de suspeitas sobre gastos da família presidencial.
O comandante que entra, general Tomás
Miguel Ribeiro Paiva, é muito ligado ao ex-presidente Fernando Henrique,
integrou tropas no Haiti e compõe um trio legalista no Alto-Comando do
Exército, com os comandantes do Nordeste, general Richard Nunes, e do Sul,
general Fernando Soares. Já na campanha eleitoral de 2022, o Exército garantia
que “bateria continência” para o presidente, ganhasse quem ganhasse, pois as
Forças Armadas são instituições de Estado, não de governo.
Atual comandante do Sudeste, com sede em
São Paulo, Tomás, como é chamado pelos colegas, fez na semana passada um
discurso para sua tropa pró-democracia, Constituição, alternância de poder e
despolitização das Forças Armadas. E destacou a importância do voto e de
respeitar o resultado das urnas – o vitorioso Lula é o comandante em chefe das
Forças.
A troca ocorre quando as investigações
sobre o golpe de 8/1 apontam mais caras, nomes e patentes militares nos
acampamentos, na Esplanada dos Ministérios e dentro de Planalto, Congresso e
STF. Dezenas podem parar na Justiça Militar, inclusive um antigo comandante do
Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), subordinado ao Comando Militar do
Planalto, portanto, ao Exército. General de brigada da reserva, ele não sai bem
na foto, de camiseta amarela, suado, com a perna ferida. Quem tomava conta do
palácio agora invade palácios?
Há um empenho mútuo para normalizar as
relações entre Lula e Forças Armadas, mas ele, a polícia e a Justiça não podem
botar panos quentes em ações criminosas, de civis ou militares, e os
comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica têm de ter consciência disso e
punir quem errou. Assim como reuniu os líderes civis, Lula precisa unir as
Forças Armadas em torno da democracia brasileira.
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