segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Merval Pereira - Bolsonaro marginal

O Globo

Não se sabe onde isso vai parar, e nunca foi tão necessária uma união nacional pela democracia

Depois do que aconteceu em Brasília, Bolsonaro passa a ser não o líder da direita brasileira, mas de um bando de golpistas que escolheram a ilegalidade sob seu estímulo, até mesmo orientação. Inevitável comparar o vandalismo dos bolsonaristas com o que aconteceu, dois anos atrás, no Capitólio em Washington. A motivação é a mesma, impedir a alternância no poder. Naquela ocasião, tentaram impedir que o Congresso oficializasse a eleição de Joe Biden.

Agora, a tentativa foi de tomada do poder, uma revolução popular financiada por interesses privados que derrubaria o presidente já empossado. Não foi a primeira tentativa, várias outras aconteceram nesses quatro anos trágicos para o país. Sempre à espera de que algum militar aderisse, que algum pronunciamento pudesse motivar uma revolta generalizada. Nada disso aconteceu.

Mesmo dividido, não parece que essa ala radical e antidemocrática seja predominante na oposição ao governo petista. Lula errou ao colocar a situação em termos de polarização política. Ao tentar mostrar a superioridade da esquerda sobre a direita, alegando que nunca houve um ataque institucional, esqueceu-se de que o MST invadiu o Congresso mas, sobretudo, de que os ataques de ontem não foram contra si ou os esquerdistas, mas contra a Nação brasileira.

Se tivesse se colocado como um estadista, que governa para todos os brasileiros, mesmo os de oposição, teria dado a dimensão exata do que aconteceu. O vandalismo que depreda obras de arte, destrói o patrimônio cultural nacional é reflexo de uma crise maior, contra a democracia. Bolsonaro deu exemplos quase diários de que não convive bem com a democracia, e cevou durante anos esse vandalismo.

Omissões culposas de autoridades, inclusive militares, permitiram que esse espetáculo vergonhoso se concretizasse. Bolsonaro terá dificuldades para, em eventual retorno ao país que destruiu, manter-se livre das diversas acusações que o perseguirão, e das prováveis condenações que se seguirão. Durante quatro anos mostrou-se despreparado para o cargo que inexplicavelmente lhe caiu no colo, uma aventura que custou caro ao país.

Patologicamente marginal, Bolsonaro conseguiu convencer lideranças militares de que seria uma saída para que recuperassem o poder democraticamente, através do voto, mesmo depois de ter subvertido a hierarquia militar e atuado como terrorista com o objetivo de chantagear seus superiores por aumento de salário.

A expulsão branca do Exército não impediu que se transformasse no representante das reivindicações dos militares no Congresso, garantindo mandatos seguidos de deputado federal. O capítulo final dessa tragédia brasileira não foi sua chegada à presidência da República, nem a fuga patética para a Disney. Ainda não sabemos onde isso vai parar, e nunca foi tão necessária uma união nacional pela democracia.

 

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