O Globo
Bolsonaristas avisaram que tentariam um
golpe; governador e ministro da defesa precisam ser cobrados por atos terroristas
Pode-se dizer tudo sobre os atos
terroristas deste domingo, menos que foram inesperados. Os bolsonaristas sempre
avisaram que tentariam um golpe. A começar por seu líder supremo, que não
reconheceu a derrota nas urnas e fugiu do país para boicotar a posse do
sucessor.
Em janeiro de 2021, o ainda presidente Jair
Bolsonaro festejou a invasão do Capitólio, orquestrada por seu aliado Donald
Trump. Acrescentou que o Brasil poderia enfrentar “um problema maior que os
Estados Unidos”. Dois anos depois, o desejo do capitão foi atendido.
O Capitólio candango foi mais grave que o original. Em Washington, o ataque se limitou ao Legislativo. Em Brasília, atingiu as sedes dos três Poderes da República.
A depredação do plenário do Supremo mostra
que o ódio da extrema direita vai muito além de Lula. Seu verdadeiro alvo é a
democracia, que tem a Corte Constitucional como guardiã maior.
Se os ataques às instituições eram
previsíveis, é preciso apurar as responsabilidades de quem deixou de agir para
evitá-los.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis
Rocha, pediu “desculpas” pela destruição de prédios públicos. Aliado de
Bolsonaro, ele entregou a Secretaria de Segurança Pública ao ex-ministro
Anderson Torres, homem de confiança do ex-presidente.
Sob o comando da dupla, a polícia cruzou os
braços diante dos atos terroristas. Isso não é caso de desculpas. É
caso de renúncia ou impeachment do governador, sem prejuízo de uma
investigação criminal.
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro,
também tem explicações a dar. Nomeado para normalizar as relações entre os
militares e o poder civil, ele apostou na tática da acomodação. Afagou os
bolsonaristas e classificou os acampamentos pró-golpe como “manifestações da
democracia”.
Segundo Múcio, as concentrações em frente
aos quartéis iriam “se esvair” naturalmente. Os atos deste domingo mostram que
ele estava errado — e ainda pode ter induzido o chefe a erro.
Em dezembro, o ministro da Justiça, Flávio
Dino, já avisava que os acampamentos eram “incubadoras de terroristas”. Nos
últimos dias, ele tentou convencer Lula a ordenar a desocupação imediata de
áreas militares.
Aconselhado pelo titular da Defesa, o
presidente preferiu adiar uma medida de força. A intervenção no Distrito
Federal, decretada após o quebra-quebra, sugere que sua paciência finalmente
acabou.
Além de investigar e punir os extremistas,
as instituições precisam identificar seus financiadores ocultos. Não adianta
prender indivíduos sem interromper o fluxo de dinheiro que movimenta a
engrenagem do golpismo.
O mesmo vale para os líderes políticos que
incentivaram a baderna. Incluindo os que se escondem nas redes sociais ou na
terra do Pateta.
Verdade.
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