O Globo
A omissão do governo Bolsonaro é compatível
com a postura pessoal do presidente
A Polícia Federal instaurou
inquérito para apurar se houve crime de genocídio pela crise
humanitária na Terra Indígena Yanomami. Para muita gente, falar
em genocídio — “intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo
nacional, étnico, racial ou religioso” — é exagero retórico que banaliza e
desgasta um termo que deveria ser reservado para situações gravíssimas. Mas as
evidências mostram que a omissão no governo Bolsonaro foi generalizada e, se
tiver também sido deliberada, caracterizará genocídio.
A crise envolve o descaso e a omissão do governo federal, que levaram a um grave surto de malária, subnutrição e contaminação por mercúrio, no contexto de avanço descontrolado do garimpo ilegal. As imagens divulgadas por organizações indígenas no começo da semana lembram os momentos mais graves da fome na África subsaariana e o Holocausto.
Foram registrados mais de 11 mil casos de
malária entre os ianomâmis em 2022, e pelo menos 570 crianças morreram de
subnutrição. Nove por cento de todos os casos de malária no país aconteceram
num território habitado por apenas 30 mil indígenas. Na última semana, mais de
mil em situação de vulnerabilidade foram
resgatados e encaminhados para tratamento. A nova gestão do Ministério
da Saúde precisou decretar emergência em saúde pública.
A situação foi causada pela falta crônica
de médicos e outros profissionais de saúde, de remédios, vacinas e alimentos.
Segundo o Ministério Público Federal, apenas 30% dos medicamentos de uma das
empresas contratadas para fornecer 90 tipos de remédio foram entregues em 2022.
Apenas a falta de vermífugos deixou 10 mil crianças ianomâmis desassistidas.
A situação foi agravada pela ação de
garimpeiros que atuam ilegalmente no território indígena. Eles se apropriaram
de pistas de pouso, impedindo a chegada das equipes de saúde. As águas paradas
do garimpo ampliaram a multiplicação dos mosquitos que transmitem a malária, e
o uso de mercúrio contaminou os rios. Um estudo
da Fiocruz, de 2019, mostrou que 56% dos ianomâmis tinham sido contaminados
por mercúrio.
Denúncia do MPF de novembro de 2021 apontou
que a organização criminosa que explora o garimpo ilegal no território indígena
é de tal monta que usou 23 aeronaves, consumiu 3 milhões de litros de gasolina
em um ano e meio e movimentou R$ 200 milhões em dois anos de atividades.
Segundo estimativa de associações indígenas, há 20 mil garimpeiros atuando na
Terra Indígena Yanomami.
A situação não surgiu de repente. Inúmeros
alertas e apelos foram feitos por representantes dos indígenas, ONGs e
Ministério Público. A Associação dos Povos Indígenas do Brasil e outras
organizações indígenas denunciaram 21 vezes à Justiça a invasão de garimpeiros
durante o governo Bolsonaro. Em novembro de 2021, uma reportagem do
“Fantástico”, o programa de TV mais visto aos domingos, revelou o avanço da
desnutrição infantil e a falta de atendimento médico entre os ianomâmis. Nada
disso parece ter despertado o empenho do governo federal para corrigir o
problema.
O corpo técnico do Ibama preparou
um plano de ação que, por meio de uma ofensiva de seis meses com
aeronaves e barcos, poderia estrangular logisticamente o garimpo na região. O
plano foi descartado. Também parece ter havido omissão do Ministério da
Defesa, acusado
de não ter autorizado o Exército a conter a invasão de garimpeiros ou
a apoiar
ações da Polícia Federal.
No âmbito mais geral, houve corte drástico
nas verbas de fiscalização ambiental, redução das multas por crimes ambientais
e um esforço do governo para liberar o garimpo em terras indígenas.
A omissão do governo Bolsonaro é compatível
com a postura pessoal do presidente, que propôs
em 1992 um Projeto de Lei que revogava a demarcação da Terra Indígena
Yanomami, homologada pelo presidente Fernando
Collor. O projeto foi arquivado em 1995, mas, como lembrou Lira Neto em
artigo no Diário do Nordeste, foi desarquivado três vezes pelo então deputado,
entre 1995 e 2007. Bolsonaro combateu obsessivamente a reserva ianomâmi. Se
essa postura pessoal se refletiu numa política de omissão deliberada quando era
presidente, ele cometeu genocídio e deve ser punido.
Análise informativa e correta! Como o colunista afirma, técnicos do Ibama elaboraram um plano de ajuda aos índios e para combater o garimpo ilegal. Este plano foi recebido por 2 militares da diretoria do Ibama, que NADA FIZERAM e ENGAVETARAM tal plano.
ResponderExcluirOs 2 militares eram coronéis da reserva do Exército nomeados pelo então ministro do Meio Ambiente: Samuel Vieira de Souza, que comandou a Diretoria de Proteção Ambiental do Ibama, e Aécio Galiza Magalhães, que foi coordenador geral de fiscalização ambiental do Ibama. Souza entrou pro governo como assessor de gabinete de Ricardo Salles e assumiu o posto no Ibama em julho de 2021, um mês depois do CRIMINOSO Salles ser exonerado do ministério, em meio a investigações da PF sobre crimes ambientais cometidos em sua gestão.
Os funcionários do Ibama elaboraram tal plano e o entregaram à direção do órgão, mas tal plano foi ignorado e nada foi executado, pois o interesse do DESgoverno Bolsonaro era exatamente FORTALECER o garimpo ilegal e PIORAR a situação dos indígenas, como Bolsonaro sempre fez questão de afirmar explícita ou implicitamente! Este é mais um dos tantos motivos para considerá-lo GENOCIDA!
Ricardo Salles foi eleito com votação expressiva.
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