quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Ruy Castro - Dias de infâmia

Folha de S. Paulo

O 8 de janeiro é uma das datas que o Brasil deveria guardar como se fossem feriados ao contrário

8 de janeiro de 2023 passará à história como uma data da infâmia. Um dia a não esquecer, um feriado a se guardar ao contrário. Os mais radicais dirão que a infâmia já começou com a nossa descoberta por Cabral, a 22 de abril de 1500. Eu não chegaria a tanto, mas iria a um dia de 1538, com a chegada dos primeiros escravizados da África. Outros dias infames seriam o 15 de julho de 1720, do enforcamento de Filipe dos Santos, líder da Revolta de Vila Rica, e o 21 de abril de 1792, de Tiradentes.

A jovem República também teve seus dias de infâmia, como o do massacre de Canudos, a 5 de outubro de 1897, com o incêndio e destruição dos 5.000 casebres do arraial e a degola de centenas de pessoas. E o de 5 de julho de 1922, em que dezoito (ou nem isso) jovens oficiais do Exército marcharam do Forte de Copacabana contra a oligarquia que atrasava o Brasil e deixaram seu sangue contra 3.000 soldados do governo.

A infâmia não tem fim. A 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas deu o golpe que instituiu a ditadura de oito anos do Estado Novo. A 16 e 17 de agosto de 1942, cinco inofensivos navios mercantes brasileiros foram afundados pelo submarino alemão U-507. E em 1º de abril de 1964 começaram os 21 anos da ditadura militar, marcada pelo 13 de dezembro de 1968, dia do Ato Institucional nº 5, e o 25 de outubro de 1975, do assassinato de Vladimir Herzog, um dos muitos mortos em seus porões.

Antes do 8 de janeiro, o governo Bolsonaro já tinha gerado datas infames como o daquela reunião do ministério, a 22 de abril de 2020; o 7 de Setembro de 2021, sua primeira tentativa de golpe; e o 18 de julho de 2022, sua fala mentirosa aos embaixadores. Mas, pelo que fez quanto à epidemia, o meio ambiente, as instituições, os direitos humanos e os yanomamis, os dias de infâmia de Bolsonaro começaram mesmo foi no dia 1º de janeiro de 2019.

E ainda não terminaram.

 

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