Folha de S. Paulo
Biden precisa avaliar se quer bancar custo
político cada vez mais elevado de abrigá-lo
Imbróglios convergem para tornar a presença
de Jair Bolsonaro em solo estadunidense difícil de engolir para a
diplomacia americana.
Não cabe bem à autoimagem dos Estados Unidos de parceiro estratégico do Brasil abrigar, em seu solo, um ex-presidente agitador de um golpe de Estado pior do que a invasão do Capitólio. Com a condenação do vandalismo em Brasília por Rússia e Itália, possíveis locais de asilo para Bolsonaro, o ex-presidente possui agora poucas cartas na manga que não viver na Flórida à custa de empresários brasileiros apoiadores do golpe.
Bolsonaro nos EUA é o gato
de Schrödinger no
sapato de Biden:
ocupa um limbo, sendo um ex-presidente que viajou como chefe de Estado de um
país onde seus apoiadores intentaram, à força, um golpe. Possui direito a
passaporte diplomático pela lei brasileira, mas não o de ser tratado como
presidente, que não mais é.
Ao que me parece, a existência ou não de
documentos de visto —diplomático ou de turista— por parte do clã Bolsonaro é
mais um detalhe à sua condição naquele país. Dada a incerteza jurídica, o que
determinará a sua extensão nos EUA será uma decisão diplomática, não consular:
mesmo que esta sirva de pretexto para aquela, como bem faz a grande potência
mundial todos os dias em sua fronteira.
Biden precisará avaliar se quer bancar
o custo
politicamente cada vez mais elevado de abrigar Bolsonaro em seu solo
—custo este que aumentará conforme (e se) continuarem as investigações no
Judiciário brasileiro sobre o envolvimento do ex-presidente no 8 de janeiro.
Em que pese ainda não caber pedido de
extradição porque isto pressupõe uma ordem de restrição de liberdade contra
Bolsonaro, que não existe ainda, a solução para o impasse se torna por ora não
jurídica (extradição) ou consular (visto), mas sim política. Fará bem Biden dar
uma resposta para o impasse antes
que o atual presidente brasileiro o visite no dia 10 de fevereiro.
Bolsonaro virou um estorvo internacional,rs.
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