Folha de S. Paulo
Bolsa Família sugere como pode haver ganhos
de eficiência social e econômica
Pelo menos 6 milhões de benefícios do Bolsa Família podem
ser irregulares, quem
sabe até 10 milhões, quase metade do programa inteiro. A estimativa,
por alto, é do ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social). Até
fevereiro, o ministério pretende apresentar o novo Bolsa Família.
É um exemplo de reformas e reconstruções
que podem arrumar mais dinheiros, tornar a despesa mais eficiente. A Fazenda
promete revisar contratos do governo. Mais duradouro e profundo, se der certo
(se tiver apoio político), o Planejamento promete revisar programas a fim de
verificar a eficácia da despesa (ou da isenção de impostos).
A mudança de ideias sobre tolices dogmáticas ou malandras, como o de barrar a privatização final do porto de Santos, pode permitir o aumento do investimento privado, fazer progredir a Baixada Santista, aumentar a eficiência do transporte, chamar investimento público ou parceria público-privada para obras no entorno ou do acesso portuário.
Nesta quarta-feira, havia o rumor de que Luiz
Inácio Lula da Silva poderia mudar de ideia sobre a
desestatização final do porto. Não faltam besteira regulatória e mutretas
legais que favorecem interesses privados particularistas para serem revisadas.
Assim, de outro modo e por outros meios,
arruma-se mais dinheiro, de imposto, de emprego e de eficiência econômica, e
melhoria social. É o caso do
saneamento. Bater-se contra o investimento privado em água e esgoto
é uma estupidez, como o seria brigar com empresa de telefone, internet ou de
energia elétrica. Importante é o governo cuidar das regiões (pobres) que
provavelmente vão ficar a descoberto. Lula já fez isso em outra área, com o Luz
para Todos, por exemplo.
Lula 3 tem uma avenida de sucesso de
público, de crítica, de administração e crescimento se aparecer com revisões e
reformas como essas, que possam acabar com mumunhas privatistas fantasiadas de
"intervenção estatal" e "programa estratégico". De quebra,
afora o aumento da produtividade, poderia arrumar dinheiros para questões de
vida e morte, como o SUS, creche ou casa para gente pobre.
Retome-se a estimativa de Dias, o ministro
do Desenvolvimento Social. Suponha-se que existam 6 milhões de benefícios
irregulares. Isso dá mais de R$ 43 bilhões por ano. Quase meio ponto do PIB:
era o custo anual do velho Bolsa Família por uma década, até 2019.
Esses levantamentos iniciais, esses números
grandiosos, costumam ser imprecisos. Há gente que não está no programa ou tem
alguma necessidade extrema qualquer. Miséria variada é que não falta. Basta
andar um pouco pelas calçadas mesmo ricas de São Paulo, apinhadas de barracas
dos sem-nada, cruzar com pedintes a cada esquina ou passar por uma lixeira onde
pessoas catam o que comer.
A estimativa de Dias, porém, não é
irrealista. Apareceram milhões de famílias de uma pessoa só (famílias que se
dividiram a fim de receber benefício extra), como já bem sabido.
O Bolsa Família foi destruído por Jair
Bolsonaro: no formato, na administração, no cadastro, no acompanhamento das
famílias, no controle social, na integração com a assistência social etc. O
Bolsa Família era um programa social, não apenas um cadastro de pagamentos
(agora péssimo).
Lula 3 poderia inventar um tabelão público
com os ganhos de eficiência: "fizemos reformas, estamos fazendo mais com
menos", arrumando dinheiro para lidar com misérias críticas, não importa
se com meios públicos ou privados —mais provavelmente, com uma mistura
pragmática dos dois. Seria uma propaganda aceitável e útil, até em termos
didáticos.
Na minha cidade tem um monte de gente que recebia Bolsa Família sem ter constituído família.
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