Segundo equipe econômica, pacote abriria espaço para uma melhora fiscal de R$ 242,7 bilhões
Nathalia Garcia, Idiana Tomazelli / Folha
de S. Paulo
BRASÍLIA - O ministro Fernando
Haddad (Fazenda) afirmou nesta segunda-feira (6) que os alertas
do Banco Central sobre
a situação fiscal referem-se, sobretudo, ao legado deixado pelo governo Jair
Bolsonaro (PL) para a atual administração, mas que a autoridade
monetária poderia ter sido "um pouco mais generosa" após as medidas
anunciadas pela gestão petista para melhorar as contas públicas.
Na última quarta-feira (1º), o Copom (Comitê
de Política Monetária) manteve a taxa básica
de juros em 13,75% ao ano
pela quarta vez consecutiva, na primeira reunião desde que o
presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) tomou posse.
No comunicado, o colegiado do BC fez
alertas sobre as incertezas fiscais e a piora nas
expectativas de inflação, que estão se distanciando da meta em
prazos mais longos, e sinalizou que deve deixar os juros no patamar atual por
mais tempo.
Os recados provocaram um aumento de tensão na relação da autoridade monetária com o governo, gerando uma escalada nas críticas disparadas pelo presidente Lula contra o BC.
"O que o Banco Central disse, eu creio
que faz mais referência ao legado do governo anterior, do que às providências
que estão sendo tomadas por este governo", afirmou Haddad.
"Existe realmente uma situação fiscal
que inspira cuidados, mas isso é uma herança que temos de administrar. Não
vamos em 30 dias de governo resolver um passivo de R$ 300 bilhões que foi
herdado do governo anterior."
"Mas o nosso compromisso é com o
equilíbrio das contas. Anunciei no dia 12 que nós vamos perseguir resultados
melhores. Nesse particular, eu penso que a nota poderia ser um pouco mais
generosa com as medidas que nós já tomamos", acrescentou.
Em 12 de janeiro, Haddad anunciou um amplo
pacote de medidas com a promessa de entregar uma melhora fiscal de R$ 242,7
bilhões nas contas públicas deste ano.
A equipe econômica aposta na reversão de
desonerações e em medidas extraordinárias para arrecadar mais, diante da
pressão do mercado financeiro para reduzir o rombo de R$
231,55 bilhões, agravado pela PEC (proposta
de emenda à Constituição) que autorizou a ampliação de despesas
em 2023
O colegiado do BC ressaltou no comunicado
que "a conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com
expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos,
demanda maior atenção na condução da política monetária".
O comitê disse ainda que avalia que essa
"conjuntura eleva o custo da desinflação necessária para atingir as
metas" de inflação estabelecidas pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).
O recado foi recebido pelo presidente e
alguns ministros como uma traição de Campos Neto à confiança do governo, que
contava com o órgão para participar de um esforço conjunto para o Brasil
superar os problemas econômicos atuais, como mostrou
a coluna de Mônica Bergamo.
Nesta segunda-feira, Lula reiterou as críticas
à atuação do BC e disse que a atual taxa básica de juros do país é "uma
vergonha".
"Não existe justificativa nenhuma para
que a taxa de juros esteja em 13,50% [o patamar da Selic está, na verdade, em
13,75%]. É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse
aumento de juro", disse Lula.
A manifestação ocorreu durante a posse do novo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, no Rio de Janeiro.
É uma verguenza!
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